A Polícia Civil de Minas Gerais instaurou, nesta sexta-feira (10/5), um inquérito para apurar eventuais erros na construção dos prédios na Cidade Administrativa. Nessa quinta (9/5), cerca de 8 mil servidores que trabalham nos prédios Minas e Gerais tiveram os trabalhos presenciais suspensos após uma perícia indicar problemas graves nos 54 elevadores nos dois principais prédios na sede do governo mineiro.

Em coletiva realizada nesta sexta, o vice-governador de Minas, Mateus Simões, disse que o problema técnico dos elevadores da Cidade Administrativa não tem previsão para ser solucionado. Parte dos servidores irão trabalhar em home office por tempo indeterminado, e o layout dos prédios será reconfigurado para que os primeiros andares possam ser ocupados em atendimento ao público.

Superfaturamento e desvio de verbas

Simões sustentou ainda a tese de superfaturamento das obras e de desvio de verbas em gestões anteriores, o que teria contribuído para o problema dos elevadores. "Estamos indignados. (O problema) foi por desvio de dinheiro. Falta de cuidado dos gestores públicos do passado. Problemas impossíveis de serem detectados”, disse o vice-governador.

Ainda de acordo com Simões, uma delação foi feita há dois anos indicando o superfaturamento e o desvio de recursos. Em seguida, foi acordado a devolução de cerca de R$ 100 milhões aos cofres públicos. O processo, segundo ele, está com o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). 

Simões pediu celeridade no andamento do processo e pediu punição aos envolvidos. “Queremos saber onde estavam esses servidores que deixaram essa obra ser aprovada”, disse Simões, sem citar quem seriam os investigados sob a justificativa de que a investigação ocorre em sigilo. "Quase 8 mil pessoas trabalham na Cidade Administrativa todos os dias. Agora, quase 7 mil servidores irão ficar em casa por causa disso. Quem deveria ter se preocupado com isso, lá no passado, não se preocupou", acrescentou o vice-governador.

O que diz o laudo sobre os elevadores?

O laudo da perícia realizada nessa quinta apontou que os pilares metálicos dos contrapesos dos elevadores não foram chumbados conforme o projeto, resultando em um espaço vazio entre a viga de concreto armado e as chapas de fixação dos pilares, provocando um efeito "pino".

As falhas nos elevadores do Prédio Minas foram detectadas em novembro de 2023, durante manutenção de rotina. Como medida de segurança, todos os elevadores sociais do prédio foram interditados, e os privativos foram disponibilizados para uso comum. Para identificar a causa dos problemas, a Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão de Minas Gerais (Seplag-MG) contratou uma empresa especializada para realizar uma perícia técnica.

PSDB de Minas rebate Simões

Por meio de nota, o PSDB de Minas classificou como “levianas e irresponsáveis” as falas do vice-governador. “As declarações levianas e irresponsáveis do Sr. Mateus Simões, figura menor da política mineira, em relação à Cidade Administrativa, desmascaram a incompetência da atual gestão de Minas Gerais que se especializou, ao longo do tempo, em transferir responsabilidades sem assumir as suas”, diz o partido. 

“O governo Zema, já no seu sexto ano de exercício sem qualquer realização a apresentar, prefere politizar de forma vergonhosa uma questão que, pela sua relevância, deveria estar sendo tratada com maior seriedade e responsabilidade. A Cidade Administrativa, obra da qual o PSDB muito se orgulha e que trouxe extraordinária economia aos cofres do Estado, foi entregue há 14 anos, depois de análise de todos os órgãos de fiscalização, em pleno e correto funcionamento”, acrescenta o PSDB. 

O partido reforça que nunca houve “de governos anteriores, nem mesmo do atual, em seus quatro anos de primeiro mandato, qualquer reparo à nova sede do governo”. “A responsabilidade pela manutenção correta de qualquer obra pública é de responsabilidade das diferentes administrações que se sucedem”, declara. 

“Se o vice-governador tem qualquer dúvida sobre a qualidade ou a lisura dessa obra ou de qualquer outra entre tantas que realizaram os governos do PSDB em Minas, sugerimos que consulte a atual secretária de Planejamento do governo Zema, que participou das administrações tucanas e acompanhou de perto todo o complexo processo de implantação da Cidade Administrativa. Sugerimos ainda ao governo Zema mais trabalho e menos oportunismo”, conclui a nota. 

MPMG

O MPMG também se manifestou sobre o episódio. Por meio de nota, o órgão diz que atua em “colaboração nas ações civis e criminais referentes ao tema” da Cidade Administrativa. Na esfera cível, o MPMG atuou como interveniente em três acordos de leniência. “Nenhum dos acordos foi objeto de aditivo. Ainda na seara cível, tramita na 1ª Vara da Fazenda Pública Estadual, Ação Civil Pública de responsabilidade pela prática de ato de improbidade administrativa em face das pessoas físicas e jurídicas envolvidas que não firmaram acordo”, informa o órgão. 

“Na esfera criminal, o MP ofereceu denúncia em 2020, mas a investigação foi anulada por decisão do STF, atendendo pedido da defesa de incompetência da Justiça Estadual e competência da Justiça Eleitoral. Não há, portanto, neste momento, procedimento no MPMG sobre a questão”, completa.