O deputado estadual Cristiano Caporezzo (PL) se tornou réu em uma ação requerida pelo Ministério Público Federal (MPF), por meio da Procuradoria Regional Eleitoral de Minas Gerais, por suspeita de violência política de gênero contra as deputadas estaduais Bella Gonçalves (PSOL) e Beatriz Cerqueira (PT) e a deputada federal Dandara Tonantzin (PT). A decisão, do juiz Cássio Fontenelle, foi expedida nesta sexta-feira (19/07) e acata denúncia do órgão federal. Caporezzo tem, agora, 15 dias para se pronunciar perante a Justiça. O deputado estadual diz que ainda não foi intimado. 


O MPF alega, na denúncia, que houve sete condutas de violência política contra as deputadas. Na peça, o órgão relata diversas vezes em que o parlamentar debochou das vítimas nas redes sociais e na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), além de ter descredibilizado denúncias de “estupro corretivo” sofridas pelas deputadas em agosto do ano passado.


Em resposta às condutas do deputado estadual, o MPF requereu à Justiça condenação pelos crimes de violência política e a eventual perda do mandato e inelegibilidade por oito anos. O órgão ainda pediu a fixação do valor mínimo de reparação do dano moral em R$ 60 mil para cada uma das vítimas. 


“Mediante intencional e efetiva publicação de vídeos produzidos com cortes, montagens e distorções de vozes e imagens, edições, falas retiradas de contexto, emojis e ‘memes’ ultrajantes, ridicularizantes e jocosos em suas redes sociais do Instagram - que somados contam com cerca de 277.700 seguidores -, o ora denunciado agiu no sentido de humilhar, desprezar e ridicularizar as vítimas, notadamente por pertencerem ao gênero feminino e ante suas condições de mulheres com destacada atuação política, presente, ainda, os propósitos de gerar e intensificar engajamentos, espalhar desinformações a respeito das atividades desenvolvidas pelas vítimas e disseminar discursos de ódio e intolerância”, diz trecho da denúncia. 


Em um dos relatos apresentados pelo Ministério Público Federal, o órgão narra que o deputado estadual cometeu “comentários irrefutavelmente misóginos” que “não apenas endossam, mas sobretudo celebram o menosprezo, a depreciação e a flagrante discriminação dirigidos à condição de mulher da ofendida”.


A descrição trata de uma publicação feita nas redes sociais em fevereiro de 2023 em que Caporezzo “a despeito da aparente pretensão de tratar apenas de debate político sobre a obrigatoriedade da vacinação contra a Covid-19”, o faz “a partir de imagens da (bailarina) Thais Carla, em tom jocoso e evidente objetificação da mulher, com o fim de ridicularizar a vítima Dandara e a artista perante os milhares de seguidores que nutre nas redes sociais”. “Ademais, há a distorção da voz da ofendida, com o claro intuito de descredibilizá-la”, completa a denúncia.


De acordo com Bella Gonçalves, Caporezzo é “um deputado que utilizou o método da violência política para ganhar seguidores e eleitores”. Ela comemora a ação na Justiça e a denúncia do MPF e pede celeridade nas investigações. 


“Há uma correlação muito grande entre a forma de fazer política e a violência contra nós, mulheres que estamos ali executando nosso papel. Eu fiz uma representação ao MPF fundamentada em violências muito fortes vividas dentro da Assembleia Legislativa de Minas Gerais e nas redes sociais, violências que cessaram depois da denúncia e da postura da Assembleia, mas nem por isso devem ser apagadas porque geraram danos. Fico muito feliz que o MPF tenha recolhido a denúncia minha e de outras parlamentares mostrando que não apenas um crime foi cometido, mas uma sequência de crimes”, diz Bella. 


Ela ainda ressalta que essa ação na Justiça Criminal pode “levar à prisão, perda de mandato e pagamento de danos morais por parte do deputado". "É mais um episódio importante de Justiça à democracia”, completa.


Procurado pela reportagem, Caporezzo informou que ainda não foi intimado pela ação e, por isso, ainda não tem “posição formada ". “Acredito que deve se tratar de mais uma tentativa de utilização da máquina persecutória judicial para censurar minhas posições políticas”, declara. 


“Infelizmente no Brasil, tudo o que a esquerda mimizenta discorda, na cabeça doentia deles, seria crime. Querem destruir a inviolabilidade de opinião dos parlamentares conservadores e substituir por censura, repressão e cadeia. É assim que os comunistas do século XXI têm agido. Definitivamente, não irei me acovardar. Essa só é a enésima vez que tentam essa estratégia contra mim”, completa.