O último mês do ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil no PSD foi de longas conversas com a cúpula nacional do partido, que buscou até os últimos instantes segurar o ex-chefe do Poder Executivo da capital na legenda, tentando evitar que ele migrasse para o Republicanos, do pré-candidato à prefeitura Mauro Tramonte, decisão anunciada na última sexta-feira. Houve reuniões com o principal líder do PSD no Estado, o presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco, e com o presidente nacional da legenda, Gilberto Kassab.

Às vésperas das eleições municipais de 2024, interessado em definir quem apoiaria como candidato a prefeito de Belo Horizonte, posto que ocupou duas vezes, Kalil usou como argumento aos caciques do partido o incômodo que tem com seu ex-vice Fuad Noman (PSD). Seu companheiro de chapa na disputa pela reeleição em 2020 assumiu a prefeitura em março de 2022, quando Kalil deixou o cargo para disputar a eleição para governador, vencida por Romeu Zema (Novo).

O ex-prefeito disse tanto a Pacheco como a Kassab que Fuad, pré-candidato à reeleição, não declarou apoio à sua campanha para o Palácio Tiradentes. Há cerca de um ano, ao ser questionado sobre quem preferiria como candidato em 2024, o ex-prefeito respondia que não tinha compromisso com ninguém que, até aquele momento, se colocava na disputa. Entre os possíveis concorrentes, já estavam Fuad, o deputado estadual Bruno Engler (PL) e a deputada federal Duda Salabert (PDT).

Decidido a não ficar no PSD, restava a Kalil definir quem apoiaria. Foi quando entrou em campo outra mágoa do ex-prefeito, esta, com a esquerda. O ex-prefeito reclama do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que, segundo Kalil, após vencer a eleição para o Palácio do Planalto em 2022, nunca lhe deu um telefonema. O vice do ex-prefeito na chapa para o governo estadual foi André Quintão, ex-deputado estadual do PT. Em fevereiro deste ano, ao cumprir agenda em Belo Horizonte, Lula chamou o ex-prefeito para participar de um jantar na capital, convite que foi rejeitado por Kalil.

A relação com o PT excluía, portanto, a possibilidade de o ex-prefeito apoiar partidos da esquerda. Na outra ponta, Kalil também não se uniria a Bruno Engler, seu rival na disputa pela reeleição em 2020, nem a Luísa Barreto (Novo), pré-candidata do governador Zema, rival em 2022. Restaria, então, entre as possibilidades, o apoio a Gabriel Azevedo (MDB), a Tramonte ou ao senador Carlos Viana (Podemos).

Gabriel também não tem um bom relacionamento com Kalil, por embates entre Câmara e prefeitura no período em que ele governou o município. O ex-prefeito, que chegou a conversar com Viana, como fez com outros pré-candidatos, acabou optando por Tramonte. A escolha teria relação com promessas feitas a Kalil pela legenda do pré-candidato, como a de que ele será candidato ao governo do Estado em 2026, algo que o ex-prefeito não conseguiu no PSD.

O apoio de Kalil pode fazer diferença. Pesquisa DATATEMPO, realizada entre 4 e 8 de julho, mostra que 14,9% dos entrevistados veem o ex-prefeito como um cacique capaz de influenciar a escolha de um candidato para comandar a cidade. A pesquisa foi registrada no TRE-MG sob o número 02187/2024. A mesma pesquisa aponta Tramonte como líder na corrida pela Prefeitura de Belo Horizonte, com 22,4% das intenções de voto.

A coluna entrou em contato com a assessoria do prefeito para obter declarações, mas não houve retorno.