A chegada de Marcelo Aro à Secretaria de Governo de Romeu Zema (Novo) causa receio entre deputados estaduais da base na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Como Aro é um dos potenciais candidatos ao Senado em 2026, parlamentares temem que o ex-deputado federal utilize a estrutura da secretaria para atrair prefeitos das bases eleitorais dos próprios deputados em prol de aliados.

Como todos os convênios para a indicação de recursos celebrados entre o governo do Estado e as prefeituras são centralizados pela secretaria, a estrutura pode dará a Aro um contato direto com prefeitos. Até mesmo os acordos celebrados entre municípios e outras secretarias, como, por exemplo, Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Educação e Saúde, passam pelo crivo da Secretaria de Governo.

Um deputado estadual da base de Zema, que pediu anonimato a O TEMPO, teme que a Secretaria de Governo seja utilizada por Aro justamente para “atravessá-los”, ou seja, receber prefeitos das bases eleitorais de deputados sem a presença deles. A postura, projeta ele, iria minar a relação entre a ALMG e o governo. “Aí, a Casa não vota nem nome de rua”, ressalta o parlamentar, fazendo alusão a projetos de lei de menor relevância.

A preocupação é compartilhada por outro deputado, que condiciona a relação entre Aro e a base de Zema ao tom do secretário. Para ele, vai depender se o ex-deputado federal adotará uma postura conciliatória ou se irá utilizar a Secretaria de Governo para “barganhar” apoio político-eleitoral à candidatura ao Senado. “Neste caso, a relação não vai ser boa”, afirma ele, que também pediu discrição.

Em entrevista ao Café com Política em outubro passado, Aro avaliou uma nova candidatura ao Senado como uma “tendência natural”. “Há uma tendência de que eu venha para o Senado, assim como há uma tendência de que o (vice-governador) Mateus Simões venha para governador do Estado de Minas Gerais e, se vier, terá o meu apoio e terá o meu comprometimento”, reconheceu o secretário, que já se candidatou ao cargo em 2022, quando Cleitinho (Republicanos) foi eleito.

O primeiro contato com Aro, que, desde quando foi alçado à secretaria, tem ligado e recebido parlamentares, já incomodou deputados da base de Zema. A alguns deles, além de exigir lealdade ao governo nas votações, o secretário teria cobrado apoio à própria candidatura ao Senado e à candidatura de Simões ao governo de Minas em 2026. “É: você está comigo ou não está comigo”, aponta um parlamentar, sob reserva.

Durante o discurso de posse, nessa quinta (20 de fevereiro), Aro ressaltou que a presença dos deputados estaduais que foram à cerimônia, no Palácio da Liberdade, “não será esquecida”. “Certa vez, aprendi que, na política, um gesto faz toda a diferença. O gesto na política é algo extremamente importante e saibam que o gesto da presença de cada um dos senhores não será esquecido nessa tarde. Muito obrigado, de coração”, disse.

Procurado, Aro não se manifestou. Tão logo o secretário de Governo se manifeste, o posicionamento será acrescentado na matéria. O espaço segue aberto.

Perfil de Aro foi um dos motivos da escolha de Zema

O perfil de Aro, descrito, nos bastidores, como “pragmático”, foi um dos motivos que levou o governo Zema a escolhê-lo como secretário de Governo. A opção foi uma resposta a Tadeuzinho após a perda de influência do Palácio Tiradentes em postos-chave da Casa. O Palácio Tiradentes entende que perdeu maioria em duas das três principais comissões, a de Constituição e Justiça e a de Administração Pública, presididas por aliados do presidente.

Na última quarta, Tadeuzinho chegou a afirmar que, caso a escolha de Aro seja uma resposta, foi importante, porque eles têm boa relação pessoal, mas ressaltou que não cabe à Casa atender às vontades do governo. “O único cargo que o governo tem na casa é a liderança de governo. Todas as comissões permanentes da Casa são construções dos deputados, através das lideranças e, obviamente, dos 77 parlamentares”, respondeu 

Ainda na posse, Aro disse concordar com o posicionamento de Tadeuzinho, que, segundo ele, não poderia ser diferente. “O presidente da ALMG tem razão: o único cargo que o governo tem e que ele mesmo executa e nomeia é o líder do governo. E o líder do governo, de fato, é escolhido pelo governador do Estado de Minas Gerais e é o nosso deputado João Magalhães”, pontuou, projetando, ainda, uma relação “republicana” e “cooperativa” com a ALMG.

Também sob reserva, um deputado avaliou que os aliados que Aro têm na Câmara dos Deputados e na Câmara Municipal de Belo Horizonte até podem provocar “ciúmes” nos parlamentares, mas apontou que o quô o secretário de Governo precisa fazer é conquistar Tadeuzinho. “Se ele agradar ao presidente e não houver atropelo, terá 99,99% (do caminho) andado”, avaliou o parlamentar.