Bom Despacho, município da região Centro-Oeste de Minas Gerais, início da tarde de uma quarta-feira. Pelo menos 100 veículos, a maioria caminhões, são obrigados a parar por meia hora no momento em que trafegam por uma das principais rodovias do país, a BR-262, que faz a ligação entre Uberaba, no Triângulo Mineiro, e Betim, na Grande Belo Horizonte.
O motivo da parada, ocorrida no sentido contrário ao da capital, e do consequente engarrafamento, é a retirada de um caminhão que tombou na estrada. Mas o que ajuda a formar a fila quilométrica é a configuração da pista, que neste ponto, e na maior parte dos 438,9 quilômetros do percurso entre os dois municípios, é simples nos dois sentidos.
(Foto: Flavio Tavares/O TEMPO)
Pela segunda vez em 12 anos, o governo federal tenta, a partir desta quinta-feira (20 de março), via concessão à iniciativa privada, ver duplicado esta parte da rodovia, responsável pelo escoamento de produtos, sobretudo agrícolas, do Triângulo para Belo Horizonte, e da cidade para o porto de Vitória (ES), onde a 262 chega, pelo trecho leste da estrada, que segue administrado pelo governo federal.
O trajeto Uberaba/Betim, conhecido como rota do Zebu, por ser a cidade do Triângulo um grande pólo de criadores de bois da raça, foi concedido à iniciativa privada em leilão realizado em outubro do ano passado. A empresa vencedora da disputa foi a Way Brasil. Nesta quinta, com a presença do ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB), serão anunciados, durante cerimônia em Uberaba, os primeiros investimentos da empresa no trecho.
Em 2013, o trecho já havia passado por leilão, que teve como vencedora a empresa Triunfo Concebra. A concessionária, porém, pediu a rescisão do termo em 2020, alegando desequilíbrios contratuais. Após a elaboração de novo edital, foi possível realizar outro leilão, o que teve a Way como a nova concessionária.
Dos 438,9 quilômetros da Rota Zebu, apenas 90 estão duplicados, obra feita em sua maior parte pelo governo federal antes da primeira concessão da via. O restante do percurso, além de ter que passar por duplicação, precisa de investimentos para recuperação do asfalto e, sobretudo, sinalização. Não há, por exemplo, os chamados "olhos de gato", que ajudam no trânsito noturno e sob chuva.
A sinalização posicionada às margens da rodovia também precisa de manutenção em determinados trechos. Em um trecho de serra, próximo à cidade de Luz, a maior parte da subida não tem terceira faixa usada por veículos de maior porte, o que atrasa o fluxo de veículos de passeio.
Um dos piores trechos da estrada fica entre o trevo de Araxá, cidade natal do governador Romeu Zema (Novo) e Uberaba, que, além dos problemas vistos ao longo de todo o trecho não duplicado, também apresenta buracos e rachaduras na parte do percurso.
O trajeto entre Betim e Uberaba tem quatro pedágios. O mais caro, de R$ 8,90, fica exatamente neste trecho entre Araxá e Uberaba, no município de Perdizes. Os outros ficam em Florestal, Luz e Campos Altos. Os preços são, respectivamente, de R$ 6,90, R$ 7,10 e R$ 7,50. A viagem, hoje, entre Betim e Uberaba sai, portanto, a R$ 60,8 ida e volta. A nova concessionária já começará as operações cobrando pedágio nas quatro praças.
A reportagem pediu à Triunfo que enviasse um balanço sobre as obras que realizou durante o período em que manteve a concessão, mas a solicitação não foi atendida. Em nota, a empresa disse que manteve a prestação de serviços na estrada ao longo desta última semana de concessão, operação que, conforme a empresa, contou com socorro emergencial médico e mecânico, conservação, pavimentação e obras emergenciais.
Acionada, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), responsável pela regulamentação e fiscalização dos contratos de concessão de rodovias no país, afirmou que a transição da concessão da rodovia seguiu regras previstas em contrato de relicitação e que será feito, a partir de agora, um levantamento sobre obras não concluídas pela Triunfo.