Vice-prefeito de Alexandre Kalil (sem partido) de janeiro de 2021 a março de 2022, Fuad Noman (PSD) enfrentou uma relação turbulenta com o ex-chefe do Executivo da capital após ter assumido o comando da cidade. Fuad morreu nesta quarta-feira (26 de março), após mais de 80 dias internado no Hospital Mater Dei, em Belo Horizonte.
Após o óbito, Kalil não se posicionou nas redes sociais, como feito por dezenas de políticos que trabalharam ou que acompanharam a trajetória de Fuad. À reportagem, a assessoria do ex-prefeito e ex-presidente do Atlético-MG informou que ele não se posicionará.
Relembre a relação
Fuad e Kalil começaram a trabalhar juntos em 2017, quando o economista assumiu o cargo de secretário municipal de Fazenda. Antes, a relação dos dois era por meio do Atlético-MG, quando Alexandre Kalil presidiu o clube e Noman era conselheiro grande-benemérito do alvinegro.
Em 2020, Fuad foi convidado a compor a chapa do Kalil e, na época, a escolha foi justificada pelo seu comprometimento à frente da pasta e pela sua “lealdade” ao prefeito. Kalil chegou a afirmar ao Café com Política, de O TEMPO. que Fuad foi o seu “baluarte” (alicerce) na Prefeitura de Belo Horizonte durante o primeiro mandato.
Essa lealdade, entretanto, começou a ser questionada por Kalil em 2022, quando ele decidiu deixar a Prefeitura de Belo Horizonte e investir na disputa pelo governo de Minas. Kalil teria sentido que Fuad não o apoiou na empreitada pelo cargo, o que teria gerado um ressentimento por parte do ex-prefeito.
Logo que assumiu o cargo de prefeito, em março de 2022, em uma entrevista a O TEMPO, Fuad afirmou que não iria fazer campanha para seu antecessor e padrinho político. "Tenho muita coisa para fazer, a cidade é muito grande", justificou na época. Perto das eleições gerais, o prefeito declarou apoio à candidatura de Lula à Presidência e, por consequência, à de Kalil ao governo, já que os dois eram aliados nas eleições.
Na época, o novo prefeito de BH defendeu que a eleição de Lula e Kalil traria um alinhamento com mais "recursos para fazer muitas obras pela cidade". Depois disso, entretanto, não houve mais acenos públicos de Fuad à candidatura de Kalil, que acabou não decolando. O governador Romeu Zema foi reeleito ainda em primeiro turno, com 56,18% dos votos, enquanto Kalil conseguiu 35,08%.
Algumas decisões de Fuad Noman à frente da Prefeitura de Belo Horizonte também teriam contribuído para o desgaste da sua relação com Kalil. O ex-prefeito teria se incomodado com algumas mudanças feitas por Fuad em planos articulados por ele, quando ainda estava à frente do Executivo, além da demissão da maior parte dos seus antigos secretários. Em janeiro de 2024, Fuad exonerou três pessoas próximas a Kalil, duas delas por decisão própria.
“O Fuad manteve na minha eleição para governador uma independência, uma neutralidade (...) nunca fui ajudado. Fui muito solitário na minha caminhada. Então, apesar do apreço, da amizade e consideração que eu tenho pelo Fuad, eu não tenho nenhuma obrigação com o Fuad. Ele sabe disso. Como ele não tinha comigo, o que nos torna amigos, mas politicamente independentes”, afirmou Kalil em entrevista a O TEMPO.
Durante as eleições, o rompimento entre Kalil e Fuad foi determinante para que o ex-prefeito apoiasse a candidatura de Mauro Tramonte (Republicanos) e até indicasse uma eventual mudança de partido para a legenda do correligionário, que acabou não se realizando.
Em sabatina a O TEMPO durante o período eleitoral, Fuad falou sobre Kalil e disse que ele tem pretensões para 2026. “Eu entendo que o Kalil é um político, tem pretensões para 2026 e precisa encontrar seus melhores caminhos. A impressão que eu tive é que ele não achou no PSD um caminho para ele e aí optou por lá (Republicanos). Eu, sinceramente, lamento que ele não esteja com a gente porque nós trabalhamos juntos por muito tempo. Eu tenho por ele um carinho especial, não tenho nada contra ele. Porque é normal, é natural, é uma opção dele. Eu tenho que respeitar. De vez em quando, ele fala umas coisas aí que eu não concordo muito, mas eu diria o seguinte: espero que, passada essa fase, nós voltemos nossa amizade. Eu não perdi a amizade por ele e não me decepciono. Eu entendo a postura, eu entendo o momento dele e respeito”, disse.
A tensão entre os dois tomou rumos ainda mais profundos durante a campanha eleitoral, quando Kalil chegou a disparar contra Fuad e o acusar de tomar para si obras que seriam de sua gestão. “Internet de graça na favela é obra minha. Novos centros de saúde é obra minha também, né? Contenção de encostas é obra minha. O Vilarinho também é obra minha. Ah, mas tem uma coisa, tá? Aquela ciclovia lá da Afonso Pena não é obra minha, não”, ironizou Kalil durante fala em favor de Mauro Tramonte.
Posteriormente, questionado sobre as acusações de Kalil, Fuad disparou. "O que eu tenho que dar conversa pra ele? Então, eu não vou falar mais nesse moço. O dia em que ele for candidato e eu for candidato contra ele, eu vou discutir. Agora ele é o quê? Uma pessoa como qualquer outra. Então, eu não tenho que dar resposta pra ele não", disse.