O prefeito de Belo Horizonte, Álvaro Damião (União Brasil), concedeu entrevista exclusiva ao programa Café com Política, transmitido, na última quinta-feira (1° de maio), pelo canal de O TEMPO no Youtube, e revelou a intenção de apresentar, ainda neste ano, um projeto de lei para alterar o Plano Diretor da cidade. Entre as principais propostas, ele sinalizou que deve propor a flexibilização de normas para atuação do setor da construção civil na capital. O chefe do Executivo também respondeu se há possibilidade de novas mudanças no secretariado, comentou sobre a relação com a Câmara Municipal e esclareceu o que ainda falta para que a prefeitura possa municipalizar o Anel Rodoviário de BH. Questionado sobre o projeto do governo do Estado, que prevê a instalação de pedágios em vias do Vetor Norte, Damião ainda reclamou da falta de diálogo por parte da gestão de Romeu Zema (Novo) ao elaborar o plano de concessão.
Confira abaixo a íntegra da entrevista com o prefeito de BH, Álvaro Damião:
Qual vai ser a marca de sua gestão em Belo Horizonte? O senhor já fez algumas mudanças, mudou o secretariado. Como vai ficar a cara da prefeitura de Álvaro Damião?
A primeira coisa que eu respondo com muita tranquilidade é que essas mudanças de secretariado, boa parte delas iam também acontecer com o Fuad (Noman) aqui. A gente conversava muito sobre o que a gente queria para Belo Horizonte nos próximos quatro anos. Eu não estou mudando o secretariado, não é para colocar a minha cara, minha forma de gerir. Até porque não seria correto eu falar isso. Eu vou descobrir a minha cara junto com o povo. O que as pessoas sabem é que eu sou uma pessoa simples, pública, que eu gosto do povo mais simples, que eu pretendo ajudar essas pessoas. Vou fazer o trabalho que eu tenho que fazer à frente da prefeitura. Não é colocar a marca através de secretariado. A gente vai fazer uma gestão popular, uma gestão simples, com cuidado com as pessoas mais simples e aquelas que mais precisam. Tem muita coisa para fazer na cidade, muita coisa que eu vou fazer. Eu tenho certeza que o Fuad faria também. A gestão tem o nome do Fuad, até por coerência, fomos eleitos juntos. Ele não está mais aqui, mas a gestão vai até o dia 31 de dezembro de 2028. Foi ganhado por ele e por mim. Tem a minha participação. Claro que tem. Mas a gestão tem o nome dele. É uma forma da gente mostrar para as pessoas que nos acompanham que você tem que ser grato. Você tem sempre que ser grato. Gratidão é uma das palavras mais importantes que você tem que carregar no dicionário da sua vida. Belo Horizonte tem que ser grato ao Fuad, porque ele fez tão bem à cidade que foi reeleito. Então a gestão leva o nome dele até o dia 31 de dezembro de 2028. E a gente vai aos poucos fazendo as mudanças que tem que ser feitas.
A gente vai ter mais mudanças de secretários?
Pode ser que tenha, porque é um número muito grande. Não é o negócio que você vai mudar. Não são duas, três pessoas que me ajudam a comandar a cidade. São muitas as pessoas que me ajudam. E essas mudanças, a única coisa que eu falo com muita tranquilidade é que não tem nenhuma pessoal, não tem nada de pessoas queridas que não trabalhariam com o Álvaro. Houve muita especulação no começo, quando o Fuad ainda estava fazendo o tratamento dele. Vai cair o gabinete tal, o segundo andar não conversa com o quarto. Não tem nada disso. Nunca existiu.
Mas algumas pessoas já saíram...
Porque eram mais próximas do prefeito do que eram de mim. E tem aquelas pessoas que são mais próximas de mim do que eram dele. Isso é normal. Não saiu porque não é capacitado, não saiu porque não é da confiança. Como assim: não é da confiança? Claro que era. Só que eu tenho algumas pessoas que já estão comigo há mais tempo, é apenas por isso. Por exemplo, eu quando tirei, quando troquei, na verdade eu ia trocar alguns secretários. “Ah, não. se for para eu não ficar aqui, eu até prefiro sair”; “eu acho que chegou a hora, também fiquei aqui um bom tempo”; “quem sabe não é hora de eu descansar?”. E ouvi isso de alguns secretários. Eu ouvi “não, eu vou tentar agora no setor privado, eu acho que é uma oportunidade”. Não foi nada. Eu não tenho perseguição com ninguém, não tenho nada pessoal com ninguém, não faço nenhum, nem nenhuma troca nesse estilo. Tem 0,0 de chance de ter tido algum problema entre mim e as pessoas que estavam junto com Fuad. A gente sempre conversou, sempre se deu bem. Eles me ajudaram e me ajudam demais, porque eles são pessoas já capacitadas. São tão capacitadas que fizeram Fuad ser reeleito. Se eles fossem ruins, o Fuad não teria sido reeleito.
E essas possíveis mudanças já são imediatas? Já dá para mapear?
Não. Tem algumas secretarias que eu preciso até colocar. Tem algumas ainda que eu não anunciei. Tem alguns cargos ainda que não foram anunciados. É apenas isso. E como que estamos escolhendo? Tecnicamente, buscando pessoas no mercado para poder me ajudar a construir a cidade ou reconstruir a cidade, ou criar uma nova forma de gerir ou manter a forma de gerir. Não tem nada assim, com muita preocupação, tudo sendo feito com muita tranquilidade.
Quando se fala de cargos sendo criados, a gente pode esperar uma nova reforma administrativa?
Não, não são cargos criados. Desculpa se dei a entender que seriam cargos criados. Não estou falando que cargos sendo criados. Tem alguns que eu preciso colocar que não estão ocupados. Mas uma reforma administrativa, não falei sobre isso em nenhum momento.
Tem um tema da gestão do Fuad – que é uma gestão conjunta, porque o mandato continua –, que são essas mudanças no Anel Rodoviário, a construção de viadutos e a municipalização. Tem algum prazo para isso acontecer, que o senhor gostaria de colocar?
O que eu posso falar é o seguinte: quando a gente coloca um prazo, quando você fala uma data, aí está na sua mão, é você que vai resolver. Mas se você depende de uma assinatura que vai vir de Brasília, não é você que vai fazer. Então esse é o problema de marcar uma data, de cravar uma data. O que eu posso dizer sobre o Anel Rodoviário, com muita tranquilidade, é que o Anel Rodoviário será municipalizada. Ponto final. Isso tudo já está acertado. O Dnit já deu o OK dele, inclusive em todo o planejamento. O governo federal me entregariam um anel rodoviário já remodelado. E o que é remodelado? É ele já com um novo asfalto, uma nova sinalização. Ele já é bonitinho, arrumadinho e está sendo feito. As obras do Anel Rodoviário já estão acontecendo para que ele possa ser repassado. Sobre os dois viadutos, nós temos o dinheiro federal para poder fazer esses viadutos. Esse dinheiro ia vir através do Ministério dos Transportes, mas não vai vir mais. Agora vai vir através do Ministério das Cidades. Então tem que fazer apenas a transferência. Dependia da lei de Orçamento do governo federal. A lei foi aprovada, o dinheiro já está empenhado. Falta trocar de ministério para poder mandar para Belo Horizonte, fazer o convênio. Apenas isso. Isso pode acontecer de um dia para o outro.
Isso é a municipalização. E o viaduto em si?
Isso é o início. Aí já começa todo projeto. Por que? Porque a municipalização vai vir junto com o dinheiro do viaduto. Nós não vamos municipalizar o Anel Rodoviário para depois buscar o recurso para esses dois viadutos. A gente já queria o Anel Rodoviário com dinheiro já garantido para esses dois viadutos, da BR-040 e o da Via Expressa, e é o que nós conseguimos, o que nós já conseguimos. Esse recurso já existe. Esse recurso tem que ser passado para Belo Horizonte, vai ser passado junto com a municipalização. Eu acredito que aconteça até o mês de junho agora.
O senhor falou recentemente de outro trecho que o senhor tinha desejo de municipalizar, que é um trecho da MG-010, principalmente por conta dos pedágios. Mas o trecho que pertence a Belo Horizonte é muito pequeno. O senhor acha que isso seria suficiente para a questão do pedágio? O que Belo Horizonte poderia fazer para evitar?
Não é que era um desejo da gente municipalizar aquela parte. O que eu disse é o seguinte: se depender de arrumar aquele trecho para colocar a praça de pedágio em Belo Horizonte, não precisa colocar o que eu faço. É isso que eu falei. Não é que aquilo ali vai ajudar no trabalho que o governo do Estado está fazendo para poder pedagiar. A parte do vetor Norte não é isso. Se precisar de Belo Horizonte adotar aquele pedaço para não colocar a praça de pedágio em Belo Horizonte, a gente faz.
Foi apenas uma conversa com o governo do Estado? Foi só uma intenção?
Não é só uma intenção. Já fizemos o ofício, já mandamos para o governo do Estado. Só que aquele trabalho está sendo feito pelo governo do Estado não só com Belo Horizonte. Agora a gente sentou para poder conversar com o governo do Estado sobre essa parte. E tem que fazer com Lagoa Santa, tem que fazer com Vespasiano, tem que fazer com todas essas outras cidades que serão atingidas ou não por esses pedágios.
O senhor é contra ou favor a essa proposta?
Eu não posso ser hipócrita de falar que eu sou contra essa proposta. Se eu sou uma das pessoas que quando vou, por exemplo, gosto de ir para o Rio de Janeiro de carro, ir para São Paulo de carro. E fui muitas vezes. Se fico feliz em ver as estradas duplicadas com qualidade, eu sei que isso acontece através do pedágio. O que eu percebi nesse caso aqui do que está acontecendo é que faltou diálogo. Parece que não dialogaram. Eu falo por Belo Horizonte. Eu nunca fui chamado. Belo Horizonte não foi chamado para uma conversa para falar sobre isso. Não sobre esse tema. O que acontece depois que houve essa falta de diálogo é que tentaram fazer e agora vamos anunciar. E eu acho que é isso que deu problema. Eu acho que as pessoas querem qualidade. Ninguém está caçando mais pedágio, aumentar imposto. Não é isso. Eu acho que faltou mostrar o que de benfeitoria será feito e onde será isso. Não conseguiram mostrar até agora para as cidades.
Como é o diálogo com o governo do Estado? Como o senhor avalia essa interlocução?
Muito bom. Sempre precisamos de mais, mas é muito bom. Eu não tenho problema nenhum em dialogar com direita, com a esquerda, com centro. Nunca tive esse problema com o partido, com o governante. Não vou ter agora. Porque o que eu penso é o seguinte: o que importa para minha cidade, o que importa para o povo de Belo Horizonte é que as coisas aconteçam em Belo Horizonte. Então eu tenho que conversar com o governo do Estado e com o governo federal. Eu estive na semana passada em um evento com o governador Romeu Zema. Nós combinamos, falei com o governador: "temos que tomar um café, falar sobre política. Já passou da hora. Vamos sentar, vamos conversar". E é isso. Nós vamos fazer grandes eventos em Belo Horizonte. Preciso do Estado junto comigo. Fui a Brasília buscar recurso através do Ministério do Turismo. Mas eu quero a Secretaria de Turismo do Estado de Minas Gerais junta comigo. Vamos fazer juntos o Arraial de Belô. Vamos fazer juntos uma grande festa de aniversário da capital do Estado. Vamos fazer juntos uma grande festa de réveillon. A gente sempre quer dialogar não só com o governo do Estado como com o governo federal. Belo Horizonte não é independente. Belo Horizonte é uma cidade que precisa de dialogar. A política não aguenta mais uma pessoa e não consegue fazer um viaduto na cidade porque o prefeito da cidade não conversa com o governador ou o governador não conversa com presidente da República.
O senhor acha que o governador erra ao não se aproximar do governo federal?
Não. Eu estou falando por mim. Eu não posso falar do governo do Estado, não posso falar sobre o governador. Eu posso falar o que eu quero para mim. É isso. O que eu quero para mim é tomar café com o governador do Estado, independentemente de quem seja, e jantar com o presidente da República, independentemente de quem seja. Eu quero conversar com todos os ministros. Eu não vou olhar se ele é ou não é do meu partido. Eu quero estar em Brasília. Como estive na semana passada com a bancada do PT. O PT me convidou para poder ir para lá. Vamos lá então. Como prefeito da cidade, temos muitas pautas para Belo Horizonte que a bancada do PT está buscando. O prefeito pode nos acompanhar? É claro que pode. E se o PL chamar, eu vou também.
Pensando em 2026, Álvaro Damião vai estar junto com o governador, junto com o presidente? Com quem o senhor vai estar nas eleições? O senhor falou que encontrou com Rodrigo Pacheco. O que foi essa conversa? Ele vai ser candidato?
Todos sabem da minha relação com Rodrigo Pacheco. É de amigo. Eu fui para o Democratas depois de uma conversa com o Rodrigo, Permaneci no Democratas, que aí virou União Brasil. Sempre ouvi o Rodrigo antes de tomar qualquer decisão política. Sobre ele ser candidato no ano que vem, ele sabe que Belo Horizonte está de portas abertas para ele, que o Estado de Minas Gerais está. Ele é senador da República pelo Estado de Minas Gerais e foi presidente do Senado.
Tem alguma preferência de candidato? Quem pode ser o candidato do senhor? É o Rodrigo Pacheco?
Não, não tenho preferência. Não está decidido ainda. Eu vou esperar eles se decidirem. Mas o Rodrigo sabe do carinho que tenho por ele.
O senhor falou que esteve com a bancada do PT em Brasília. O senhor poderia ser um palanque do PT em Minas numa eventual reeleição?
Eu não gostaria de tratar assim. Você vai ser um palanque de fulano, de ciclano? Não. Eu posso ser um elo entre eles e a população de Belo Horizonte. Eu posso ser um elo entre o candidato A, o candidato B. Posso. É isso que eu quero ser. Eu quero ser uma pessoa que agregue a um projeto político que interesse para Belo Horizonte. Por que sou prefeito de Belo Horizonte. Tem um projeto aqui que interessa para o povo de Belo Horizonte. Então conta comigo. É isso que eu quero. Eu quero estar num projeto que interesse para o povo de Belo Horizonte, porque eu sou prefeito de Belo Horizonte.
E nesse momento, o senhor acredita que estar mais próximo do presidente Lula, caso ele venha a se candidatar, pode ser um caminho que se aproxima mais assim desse projeto de Belo Horizonte ou não?
Para ser sincero, eu tenho que esperar, inclusive os próprios candidatos à Presidência da República. O que eles vão decidir. Quem vai ser candidato, quem vai ser candidato, quem vai ser o candidato. Eu não quero me preocupar em apoiar o candidato de direita ou de esquerda, ou de centro. Eu não quero me preocupar com isso. Eu quero me preocupar em apoiar um candidato que tenha compromisso com o povo de Belo Horizonte. Não é o Álvaro Damião, é com o povo de Belo Horizonte.
E na Câmara, prefeito, essa questão da polarização é muito presente. Tem uma ala mais progressista, uma ala mais direita. Como está esse diálogo? Como é que tem conseguido equilibrar a relação?
Converso com todos do mesmo jeito, sem problema nenhum. Converso com todos eles. Eu fui vereador por oito anos. Eu sei que tem o diálogo dos projetos que envolvem a prefeitura. Eu sei que tem um diálogo dos projetos entre eles, das discussões deles, do campo democrático de cada um. Eu não tenho problema nenhum com eles, nem com a ala da direita, nem com a ala da esquerda.
A gente tem visto um debate muito polarizado, com projetos que muitas vezes são inconstitucionais. O prefeito Fuad vetava muitos desses projetos. Qual que vai ser a postura do senhor?
Vai depender do projeto. A gente vai analisar o projeto por projeto. Eu não quero interferir nisso. Acho que o prefeito de Belo Horizonte não tem que opinar sobre projeto A ou projeto B, ele tem que ver qual projeto é melhor para a cidade. Porque não adianta também vetar o projeto, pois ele volta para lá e volta sancionado. Porque? Porque vão derrubar o veto. Então vai virar guerra política. Eu não quero participar disso. Eu quero participar do que seja bom para Belo Horizonte.
Pensando para esse ano, tem algum projeto específico que o senhor gostaria de enviar para a Câmara?
Não, a gente ainda está refazendo tudo sobre os projetos que a gente vai enviar para a Câmara. A gente não quer ficar mandando projeto toda semana para a Câmara de Vereadores. Mas a gente vai mandar projetos que possam mudar a cara do povo belo-horizontino e a gente precisa do apoio da Câmara. Não podemos mais ver Belo Horizonte perdendo espaço na construção civil. A gente não pode mais dormir tranquilamente. Será que não tem um prédio de 50 andares pronto na terceira maior capital do Brasil? Gente, é isso aí. Eu tenho que trabalhar por isso, eu tenho que ver coisas novas na minha cidade. Eu tenho que atrair o povo para vir para Belo Horizonte e não ficar esperando só o Carnaval para poder vim. Eu tenho que ter congressos internacionais aqui, a minha cidade tem que repercutir Brasil afora de forma positiva. É o que nós vamos fazer em conjunto com a Câmara, o que é, o que será feito em conjunto com a Câmara, o crescimento da cidade, todas as ideias que tivemos. Se temos que dialogar com a Câmara, a gente vai dialogar.
Quando se fala de construção civil, isso inclui a flexibilização de construção em alguns pontos da cidade. Muito se fala em construir prédios mais altos, ocupar prédios ociosos. Para isso, vai ter alguma mudança no Plano Diretor e na questão da outorga?
É isso que a gente está estudando. Estamos trabalhando para mudar. E mudar por quê? Por que mudar? Porque a gente já viu que não deu certo. É só olhar as cidades da Grande BH, as nossas vizinhas. Está todo mundo indo para lá. A nossa outorga, por exemplo, o que é cobrado aqui (para se construir). O que eu quero mudar não é só esse ou aquele número, é a forma de pensar, é a filosofia. E qual é a filosofia que o Álvaro quer para Belo Horizonte? Pessoas que querem empreender em Belo Horizonte têm que ser parceiros da prefeitura. A prefeitura tem que ser parceira. A prefeitura tem que parar de dizer não. Eu tenho que perguntar primeiro: "o que você precisa para empreender na minha cidade?". Não é perguntar quanto eu vou cobrar para você empreender na minha cidade.
Tem algum bairro específico, algum projeto específico pensando na construção civil?
A Lagoinha, por exemplo. Está no centro de Belo Horizonte e a gente vai continuar vendo a Lagoinha daquele jeito para o resto da vida? A gente vai achar que é certo termos apenas um túnel em Belo Horizonte, numa cidade montanhosa como a nossa? E a gente vai achar que está certo e a gente vai continuar colocando a culpa no trânsito? E aí você tem um bairro no centro que você poderia aumentar a capacidade desse bairro e você não aumenta. Como resolver esse problema? A partir do momento que essas pessoas que morarem ali forem ao centro praticamente a pé. Aí você começa a resolver o problema de trânsito mesmo. E esses cuidados a gente está tendo. A gente está estudando caso por caso, para a gente poder revitalizar o centro de Belo Horizonte e aqueles que margeiam um centro. Tem outros exemplos, como o bairro em que eu nasci, a Concórdia. Da casa onde eu morei, na rua Itaquera, até a praça Sete, são 15 minutos a pé. E você não pode construir um prédio de cinco andares. Isso tá certo? Você não poder construir um prédio de cinco andares, seis andares, num bairro que está ao lado do centro da cidade? Quem é que vai me falar que tá certo? Eu nunca consegui entender como vereador. Agora, como prefeito, estou querendo entender. Precisa mudar. Tirar o bumbum da cadeira, porque falar o "não" é fácil demais. E o "sim"? AH, o "sim" dá um trabalho. Você vai ter trabalho, porque aí vai ter reuniões segunda-feira, terça-feira, quarta-feira. E o imposto? Eu diminuí o imposto, é para diminuir? Como é que é que reponho? Aí começam as grandes discussões. Então o "sim" é muito difícil de ser falado. É o que eu percebi em Belo Horizonte, que o "não" já está banalizado. Tudo o que você quer fazer em Belo Horizonte não dá. Não, não pode, não tem jeito. Aí o cara fala: "então vou para São Paulo, vou construir em São Paulo".
Entra nisso a região da Pampulha?
Demais. Eu fui a Lagoa Santa e fui dar uma volta na Lagoa, caminhando em volta a lagoa eu vi um deck, uma coisa mais linda que eu vi, um deck mavilhoso. Eu fui, liguei para o meu secretário, falei por que não tem um desse em Belo Horizonte? Falaram: "prefeito a gente tem que conversar sobre isso, o que pode e o que não pode fazer aqui, porque não pode fazer muita coisa. E agora você vai descobrir isso". Eu falei: "não, gente, pelo amor de Deus, é sério? Fala sério!" Tem muita coisa que a gente gostaria de fazer em Belo Horizonte e que não consegue fazer.
Podemos esperar mudanças no Plano Diretor?
Pode esperar. A gente quer a cidade nova, Eu quero uma uma cidade mais bonita, mais bonita ainda do que é. Eu quero Belo Horizonte avançando. Eu quero que as pessoas que frequentam a aula da Lagoa da Pampulha se sintam confortáveis. Eu quero que a pessoa tenha conforto, conforto para poder levar a criança, para poder passear. Você vai segurar a criança se ela quiser fazer as necessidades dela? Você vai fazer como? Vai fazer aonde? Banheiro químico, nós queremos? Vocês querem? Nós queremos banheiros químicos na orla da Lagoa da Pampulha para sempre? Porque o banheiro químico é para socorrer, não é para conforto, é para socorrer pessoas nos eventos. Eu quero isso para minha cidade? Não, não quero. Eu quero as pessoas dando voltas na lagoa, falando que elas estavam no lugar mais bonito do mundo. Com conforto, com segurança. Já conversei com o secretário de Segurança, que é o Márcio Lobato. Ele já me mandou uma mensagem e falou: "é a Câmara do Olho Vivo que você reclamou aí na reunião de ontem". Falei com ele, ele falou e no mesmo dia está lá: a Guarda Municipal prendeu três pessoas roubando cabo, cabo de alta tensão lá, cabo de energia no bairro tal. Isso foi feito como foi feito com nosso sistema de inteligência com que a gente tem. E olha que o que a gente tem ainda não é o que a gente quer, o que a gente quer é um ainda mais avançado. O que a gente tem é bom, mas não sei se ele estava sendo usado da forma como a gente quer que seja usado. Eu quero Guarda Municipal pela cidade. Eu quero o mesmo sistema que tem o governo do Estado, que são as bases móveis da Guarda Municipal, onde a Polícia Militar aceitar em parceria.
E essas mudanças do Plano Diretor, acredita que ainda esse ano deve ter alguma proposta?
A gente tem as ideias, agora a gente coloca essas ideias no papel, a gente vai agora oportunizar, ver de que forma isso será feito. Senão fica um negócio só da minha cabeça. Não pode ficar só na minha cabeça. Eu vou sentar com o meio ambiente para ver os problemas. E depois que a gente fizer todo um conjunto, aí a gente começa a discutir com a Câmara.
Um problema que o senhor vai ter na sua gestão é novo contrato dos ônibus. A população está pagando o preço desse contrato por mais de 20 anos. O que precisa ser mudado nesse contrato? Vai continuar tendo subsídio?
O subsídio, é bom as pessoas entenderem, se ele não existisse, a passagem já estava a R$ 8, R$ 9. Por quê? Porque tem um contrato a cumprir. Não é chegar lá e falar da minha cabeça: "não". O que acontece quando não reajusta a passagem de acordo com o que manda o contrato? As empresas vão entrar na Justiça contra a prefeitura e qual chance deles perderem se o contrato não for cumprido? Alguém vai ter que pagar. Então, quando veio o subsídio, foi para isso, para não colocar a mão no bolso do contribuinte e cobrar dele no preço da passagem. Como que vai ser feito de 2028 para frente? É o que nós já estamos estudando. A gente está fazendo já um trabalho de consultoria, a gente está buscando os melhores modelos do mundo para poder aplicar em Belo Horizonte. Temos condições para isso. Estamos na terceira maior capital do Brasil. Nós podemos procurar os modelos que deram certo em outras partes do mundo e trazer para Belo Horizonte. É isso que a gente está fazendo.
Como o senhor vê a questão de bilhete único para a Grande BH?
Esse é o sonho e não é só para Belo Horizonte. Esse é o sonho para todo mundo, principalmente para aquele que pega o ônibus em Igarapé, em Betim, Contagem. São José da Lapa, em Vespasiano. Para todos. Agora, para fazer isso, precisa de quem? De São José da Lapa, Betim, Contagem, Vespasiano. Não faz isso só para Belo Horizonte. Belo Horizonte pode assumir o papel que é dela e qual o papel que a de Belo Horizonte: ela que está na cabeça, ela é a principal desse movimento todo. Sentar com os outros prefeitos, sentar com o governo do Estado para ver de que forma a gente possa aproveitar o contrato de 2028 para que possa agradar não só o povo de Belo Horizonte, porque essa “Grande BH” vem em BH praticamente todos os dias.
O partido do senhor, o União Brasil, fez uma federação com o PP. Como o senhor viu isso? Mudou em algo a sua relação com o partido?
Não, não tem problema nenhum. Nem pensamos nisso, nem nunca pensei em sair de partido. Sou muito feliz no União e acho que essa federação foi uma boa saída. Ela já é o maior partido do Brasil hoje, a maior bancada. Os números mostram isso e são grandes lideranças do Brasil. O evento que eu acompanhei em Brasília foi um negócio muito grandioso, só cresceu, só aumentou. Não tem nada que possa diminuir a nossa participação.
Sobre a contenção de chuvas, tem alguma coisa que você gostaria de anunciar que você pretende fazer?
Chuvas são um problema tão grande porque a gente prevê, prevê, prevê e chega todo ano parece que foi maior do que no ano anterior. Parece que é mais do que no ano passado. O que eu posso dizer é que nós passamos pelo teste Neste ano. Nós tivemos grandes chuvas, mais chuvas do que tivemos ano passado, um volume muito maior do que o ano passado. Registramos um caso apenas, que é triste. A gente quer zerar. Quando se fala em número de vidas perdidas, a gente quer zerar. Não é comemorar o fato de ter uma. Queremos é zerar. Fica a tristeza de ter perdido uma jovem, como a gente perdeu por causa de uma enxurrada em Belo Horizonte. Mas é trabalhar ainda mais, melhorar a capacidade das nossas. Belo Horizonte não construiu apenas uma bacia nos últimos anos, foram várias as bacias. Agora é melhorar ainda mais a capacidade delas para que a gente consiga minimizar o impacto das chuvas. E não tivemos nenhum problema grande de encostas nesse ano. É trabalhar. São 24 horas pensando em como fazer. Só assim a gente vai conseguir fazer para minimizar.
Qual foi a última vez que o senhor falou com o prefeito Fuad? O senhor acha que ele tinha consciência, em algum momento, que talvez não iria conseguir assumir e que o senhor teria de tocar a cidade? Houve algum pedido do Fuad para o senhor nesse sentido?
Não, sobre a saúde dele, não. Quando a gente estava na campanha, para eu aceitar o convite para ser vice dele, uma das coisas que perguntei foi: "prefeito, o senhor me quer como vice para poder ficar lá ao seu lado na prefeitura para poder ajudar realmente, para ser atuante" Ou o senhor quer o vice apenas porque o senhor tem que ter um vice? Porque é obrigado a colocar alguém?. Se for para isso eu não vou não". Ele disse: "eu quero a primeira opção. Eu quero uma pessoa que esteja ao meu lado, principalmente nos bairros mais distantes, nas vilas, nas favelas, que é onde você tem um conhecimento muito grande e eu tenho certeza que você pode acrescentar muito, me ajudar muito". Então eu já sabia desde o começo que eu ia ter muito trabalho. Não imaginávamos nem eu, nem ele, não imaginávamos que fosse ser assim. Eu tenho certeza absoluta que ele também não imaginava que fosse perder a vida poucos meses depois. A gente já estava vendo ele evoluir. A gente estava comemorando o fato dele, quando ele anunciou a remissão da doença. E eu fiquei muito triste e isso me abalou demais. Eu fiquei muito, eu sinto quando vou falar dele. A última vez em que eu estive com ele, falando com ele, foi no dia que nós tomamos posse. Eu na Câmara e ele de chamada de vídeo, na casa dele. Aquele dia foi a última vez que eu falei com ele, falei por telefone. Eu liguei para ele, falei da emoção que todos sentiram lá na Câmara. Ele estava muito emocionado também, estava com a voz muito embargada. Já estava com muita dificuldade para falar, mas foi a última vez que eu falei com ele. Eu chorei muito.Depois disso eu respeitei o momento. Eu sabia das dificuldades que ele estava passando junto com a família, e tinha o momento dela com ele no hospital. É a minha função. A partir daquele momento, eu tinha que assumir e dar tranquilidade para ele. Ele tinha que ter a tranquilidade, porque nos momentos que ele podia falar, que não eram tantos, seria com a esposa dele, com a dona Mônica, ou com os filhos dele. Se ele perguntasse: "e na prefeitura?" Eu queria que a dona Mônica falasse para ele: "pode ficar tranquilo que o Álvaro está tocando".
O PSD tem uma conversa com o senhor? Como é que está depois que o prefeito Fuad morreu?
Eu não tenho, assim, uma conversa com o PSD. As conversas que eu tenho com o PSD são conversas institucionais, tanto com Kassab, com quem eu estive no velório do Fuad, deixei aberta a Prefeitura de Belo Horizonte. O PSD é um partido que a gente tem que ter um carinho muito grande, porque é o partido que abrigava o prefeito Fuad e eu não posso, no meio da entrevista, ir contra aquilo que eu falei no começo. Gratidão. Não posso falar nada que seja contra o PSD aqui.
Um outro problema que está atingindo na cidade: a questão da superlotação dos hospitais. A gente está vivendo crise respiratória, hospitais, alguns sendo fechados. Como a prefeitura de Belo Horizonte vai trabalhar com isso? Abrir posto no fim de semana. Qual é o plano da Prefeitura de Belo Horizonte?
Eu conversei recentemente com o secretário, com o Danilo, que é o nosso secretário de Saúde. Belo Horizonte já tinha essa preocupação e não é de agora não. Desde janeiro que a gente já tem um plano sobre esses problemas respiratórios das crianças em Belo Horizonte, que a gente já sabia que ia chegar agora - em meados de abril, maio - e quando o frio vier mesmo, em junho. Mas a gente já fez todo um trabalho, a gente já fez todo um trabalho em Belo Horizonte. Sobre hospitais que estão sendo fechados, como você disse, não são os hospitais que Belo Horizonte tem administração sobre eles; não são os leitos que Belo Horizonte tem administração sobre eles. O que a gente pode fazer é o que a gente está fazendo, é todo um planejamento para quando chegar numa hora dessa. Quando chega, como está chegando agora, para Belo Horizonte. Já chegou muito mais forte em outras cidades na Grande Belo Horizonte. Em Belo Horizonte não está tão forte ainda, porque nós fizemos todo um planejamento já esperando que essa demanda fosse acontecer. Nós estávamos preparados e planejados para ela.
Um tema também que é muito caro para Belo Horizonte na questão de despoluição da Lagoa da Pampulha. Isso foi inclusive alvo de uma CPI na Câmara Municipal. O que a gente pode esperar da gestão do senhor para resolver esse problema?
A Pampulha, eu não vou tratar nunca a Pampulha como problema. A Pampulha é o nosso cartão postal, é uma das grandes alegrias do mineiro; não é só do povo de Belo Horizonte. É um gasto muito alto. Se você passar na Pampulha, você vai perceber e percebe isso com muita tranquilidade, que ela mudou radicalmente. Mas isso tem custo, tem custo para manter a Pampulha. Não é ainda o que a gente quer. A gente quer uma Pampulha navegável. Ainda não é assim, mas para poder fazer ela chegar onde ela chegou, acabar com aquele mal cheiro que existia, com tudo aquilo, Não é simples, não é fácil e exige muito recurso. Agora, com parceria do governo do Estado, através da Copasa, para poder despoluir a Pampulha, a gente só vai ter uma Pampulha melhor do que essa daqui para frente. Pode ter certeza que voltar não tem como. Não há prazos para isso. Eu não posso falar que prazo sabe? Recentemente, numa entrevista que eu dei, perguntaram se eu iria navegar na Pampulha? Falei: meu sonho. Agora eu não vou falar isso para eu cair no mesmo erro de outros que falaram. Eu não vou falar que vou fazer; eu não vou cair nesse erro. O que eu prometo para o povo de Belo Horizonte é que eu sou uma das pessoas que caminha a pé pela orla da Lagoa, para sentir se ela está com aquele cheiro horrível que tinha ou não. Eu sou uma das pessoas que olha na orla da lagoa para ver se tem lixo ali ou não. Eu sou uma das pessoas que se preocupa com o número de material orgânico que é jogado na orla da lagoa. Então é isso que nós vamos fazer. Nós vamos cuidar da Pampulha, voltar aquela Pampulha que nós tínhamos que não era orgulho para nós, belo horizontinos, não vai voltar. É disso para melhor. Pampulha só vai melhorar, pode ter certeza disso.