Seis meses após assumirem o mandato na Câmara Municipal de Belo Horizonte, praticamente 30% dos vereadores da capital já confirmam que pretendem deixar a Casa para ocupar cargos em outras esferas do Poder Legislativo. Levantamento feito por O TEMPO revela que, dos 41 parlamentares, 12 têm planos de disputar as eleições de 2026, que vai eleger deputados estaduais e federais, além de senadores, governador e presidente.

Dos 41 integrantes da Câmara procurados por O TEMPO, oito descartam, ao menos por ora, a possibilidade de disputar as eleições de 2026. Entre os que afirmaram não ter intenção de se candidatar, alguns ponderam que a decisão final caberá ao partido ou ao grupo político ao qual pertencem. Cinco parlamentares não responderam.

Outros 16 disseram ainda avaliar a possibilidade de concorrer no ano que vem. Somados aos 12 que admitem a intenção de concorrer ao pleito, o número de parlamentares que não descartam deixar a Câmara em 2026 chega a 28 – ou seja, 68,2% dos membros do Legislativo municipal. Tanto entre os que cogitam concorrer quanto entre os que já indicam intenção de estar na disputa, parte condiciona a decisão ao partido, enquanto outros admitem incerteza sobre permanecerem nas siglas às quais estão filiados.

Se todos os 28 decidirem lançar candidaturas em 2026, o número de vereadores a concorrer a um novo cargo antes mesmo de completar o segundo ano de mandato será maior do que em 2022, quando 24 integrantes da Câmara disputaram as eleições – naquele ano, seis deles foram eleitos deputados, sendo três estaduais e três federais.

Entre os que não confirmam, mas também não descartam uma candidatura em 2026, estão nomes citados nos bastidores como certos na disputa, como Pablo Almeida (PL) e Pedro Rousseff (PT). Procurado, Rousseff afirmou que seu único objetivo para o próximo ano é “rodar o Estado para a reeleição do presidente Lula”. Já Pablo argumenta que é cedo para uma definição e que aguarda a decisão do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) - líder do grupo político ao qual pertence - sobre disputar o governo de Minas ou buscar a reeleição.

Pablo e Rousseff foram os vereadores homens mais votados da capital em 2024, o que aumenta o interesse de seus partidos em lançá-los para deputado. Em eleições proporcionais, candidatos com grande votação ajudam a elevar o quociente eleitoral da legenda, favorecendo a eleição de outros nomes da chapa – por isso são considerados “puxadores de voto”. Em eventos do PT, o deputado federal Reginaldo Lopes, um dos líderes do partido em Minas, já externou o desejo de lançar Rousseff como deputado federal. Enquanto isso, Bruno Pedralva (PT) avalia sair a deputado estadual, mas afirmou não ter decido com “todos os coletivos, movimentos e lideranças” que compõem seu mandato. 

O atual presidente da Câmara, Juliano Lopes (Podemos), por outro lado, já crava a intenção de disputar uma vaga de deputado estadual, mas condiciona a candidatura à conjuntura partidária – o Podemos, legenda ao qual é filiado, ainda estuda uma fusão com o PSDB.

Entre os que já ensaiam uma candidatura, somente Vile (PL) almeja o Senado – ele também é o único entre os pré-candidatos que está no primeiro mandato. Sobre colocar seu nome para a disputa, ele diz aguardar o aval do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). “Caso isso não aconteça, eu ainda vou estudar outra candidatura”, disse. 

Partido Novo quer lançar todos os quadros

Apesar de dois dos três vereadores do Partido Novo em BH ainda não cravarem uma candidatura em 2026 – só Braulio Lara adianta que disputará –, o presidente estadual da legenda, Christopher Laguna, confirma que a sigla quer lançar todos os seus parlamentares a algum cargo. Para ele, o trabalho do trio, que se reelegeu em 2024, demonstra que todos têm possibilidade de se eleger. 

“Para o Novo, isso ajuda demais. Nós temos um trabalho enorme pela frente para bater a cláusula de barreira”, pontua Laguna. A regra citada prevê que as siglas devem eleger 13 deputados federais distribuídos em nove Estados ou ter 2,5% dos votos válidos para ter acesso ao Fundo Partidário e tempo de rádio e TV.

Já o PSOL, por exemplo, evita tratar do assunto, embora uma de suas três vereadoras em BH confirme o desejo de se candidatar em 2026. “No momento, temos prioridades, como o debate sobre a cidade”, diz a dirigente estadual da sigla, Maria Clara Melo. Procurados, os presidentes do PT e do PL, que têm as maiores bancadas na Câmara de BH, não responderam.

Análise

(Anderson Rocha)

A candidatura de vereadores a cargos em esferas superiores não é ilegítima, mas, na avaliação do doutor em ciências sociais Robson Sávio, a decisão é questionável sob aspectos éticos e pragmáticos. “Quem elege o vereador não está querendo um deputado estadual. Ele quer alguém que o represente no município. Esse é um compromisso feito na hora do voto”, analisa.

Assim, ainda segundo Sávio, candidatos que pleiteiam novos cargos constrangem esse acordo com o eleitor. Para o especialista, isso ocorre sobretudo porque eles não o fazem, em geral, para melhorar a entrega à comunidade. “O vereador deixa de se preocupar com os assuntos do plano municipal para trabalhar em outras pautas, como as de costume, temas que o município não tem poder de decisão ou de legislação”, complementa.

A cientista política Marta Mendes, coordenadora do Núcleo de Estudos sobre Política Local (Nepol), da UFJF, lembra que, em uma Câmara com 41 vereadores, a constatação de que 28 dos 41 parlamentares avaliam disputar a eleição em 2026 – sendo que 12 desses confirmam a intenção – revela um dado substancial. Apesar disso, ela defende que muitas candidaturas são montadas já cientes de que não têm possibilidade real de vitória. “Pode haver uma questão estratégica, de tentativa de reeleição, de se manter evidência, testar sua força eleitoral”, diz.

Independentemente das razões, Marta pontua que as candidaturas em si podem ser negativas para o município. “Há impactos importantes na composição da Câmara, afastando-a do formato originário, de quando ocorreu a eleição. Com essa saída de vereadores, acabam ficando aqueles com menos influência e experiência, enfraquecendo a Casa”, conclui.