Seis anos e oito meses após estrear na vida pública como governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo) oficializa, no próximo sábado (16/8), em São Paulo (SP), a inclusão de seu nome no rol dos pré-candidatos à Presidência da República. Depois de sair vitorioso das duas únicas eleições que disputou – o que inclui uma reeleição em 1° turno, em 2022, no estado que detém o segundo maior colégio eleitoral do país –, o mineiro de Araxá (Alto Paranaíba) enfrenta agora dois grandes desafios: tornar-se suficientemente conhecido fora das divisas do próprio estado e impulsionar seu nome a ponto de sobressair como o candidato da direita, em um cenário que tem ao menos outras sete figuras do mesmo campo cotadas para o Palácio do Planalto em 2026.

O chefe do Executivo mineiro já tem incorporado o “modo candidato” pelo menos desde o início deste ano. A estratégia é clara: investir tempo e recursos na nacionalização do próprio nome para driblar o alto grau de desconhecimento entre os eleitores. Para se ter uma ideia, uma pesquisa Quaest divulgada em junho revelou que, a pouco mais de um ano da eleição, seis em cada dez pessoas aptas a votar no país (60%) ainda não sabiam dizer quem é Romeu Zema. Entre nove nomes testados, somente o do governador de Goiás e também pré-candidato, Ronaldo Caiado (União Brasil), teve desempenho numericamente pior (62%).

A alta taxa de desconhecimento foi, inclusive, o que levou a equipe da pré-campanha de Zema a decidir lançá-lo tão cedo na disputa, aponta um interlocutor ouvido por O TEMPO. A avaliação é que, embora a alta exposição neste momento eleve o risco de desgaste precoce da imagem de Zema, o tempo extra pode ser crucial para fazer com que o eleitorado fora de Minas o reconheça quando a campanha começar de fato. “Acreditamos que até o fim do ano ele vá crescer nas pesquisas”, aposta o presidente estadual do Partido Novo, Christopher Laguna. 

Dentro dessa estratégia, o governador de Minas já começou a rodar outros estados e tem concedido, nos últimos meses, uma série de entrevistas a veículos de comunicação do eixo Rio-São Paulo. Além disso, ele investe na participação em podcasts direcionados ao eleitorado conservador, seu principal alvo em 2026.

Essas aparições, inclusive, têm sido usadas para buscar engajamento nas redes sociais. Recortes de trechos com ataques inflamados ao PT, à gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e às decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) passaram a ter lugar de destaque no Instagram do governador. Somente entre 5 de junho e 5 de julho, das 63 publicações feitas por ele, 27 não tinham relação direta com o governo de Minas. Dessas, 19 (70,3%) eram dedicadas a criticar, ainda que indiretamente, o governo petista ou o Supremo. Em uma das mais recentes, Zema culpa o governo do petista pelo tarifaço imposto ao Brasil pelos EUA.


Desvantagem será usada como trunfo

Embora admitam que o desconhecimento é, hoje, o principal adversário de Romeu Zema (Novo) na corrida pela presidência, interlocutores que atuam na pré-campanha apostam que este pode, também, ser um trunfo do mineiro. “É trunfo porque ele é uma novidade na eleição, porque a gente vive momento em que figuras tradicionais da política não são tão bem vistas pela população, que demanda novas lideranças”, defende uma fonte próxima do governador. 

Especialista em marketing político, o publicitário Acácio Veras pontua, porém, que Zema se arrisca ao lançar a pré-candidatura a tanto tempo do pleito. “É, sem dúvida, um momento prematuro. Por um lado, é necessário para ele se tornar mais conhecido, mas, por outro, será um jogo difícil porque ele pode servir como ‘boi de piranha’, com chance, inclusive, de ser alvo de fogo amigo”, avalia Veras, que vê risco de a pré-campanha de Zema acabar minada por outros nomes da direita interessados no mesmo posto.



No páreo, há outros presidenciáveis bolsonaristas

O discurso antipetista e contra decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) adotado por Romeu Zema flerta com o bolsonarismo e sinaliza uma tentativa do pré-candidato de herdar o espólio político do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que está inelegível. 

Mas a disputa pelo espólio bolsonarista é acirrada. O nome do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), por exemplo, voltou a ganhar força na última semana. Ex-ministro de Bolsonaro, ele visitou o ex-presidente na quinta-feira (7/8) na prisão domiciliar, em claro acesso aos aliados do líder do PL. A leitura é que, com o cerco se fechando contra Bolsonaro, aumentam as chances de o governador ser escolhido como o candidato do bolsonarismo.

A disputa pode incluir ainda outros presidenciáveis de direita e centro-direita, como os governadores do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSD), e membros do clã Bolsonaro, como a ex-primeira-dama Michelle e os filhos do ex-presidente Flávio e Eduardo.

Para o especialista em marketing político Acácio Veras, o cenário torna difícil para Zema se sustentar como nome da direita em 2026. “O desafio será se colocar como outra via. Talvez, para isso, seja melhor ele se posicionar como um candidato antipolarização e se descole da narrativa extremista”, avalia.

Entretanto, uma fonte ligada à pré-campanha de Zema confirmou que ele não fará esforço para se descolar da imagem do ex-presidente. Nos últimos dois meses, Zema já se reuniu com Bolsonaro para comunicar sua pré-candidatura, esteve ao lado dele na avenida Paulista e declarou apoio após a prisão domiciliar imposta pelo STF, embora não tenha participado dos últimos atos, em 3 de agosto.