Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, com pouco mais de 620 mil habitantes, é o segundo maior município do país governado pelo PT - atrás apenas de Fortaleza (CE), administrada desde o início do ano pelo petista Evandro Leitão. Em seu quarto mandato à frente do município (de 2005 a 2013 e de 2021 até hoje), Campos ostenta altos índices de aprovação e é o nome forte do Partido dos Trabalhadores para as eleições de 2026, seja em campanhas para o governo do Estado, para o Senado ou ainda no comando do município.
“Acho que o PT precisa olhar para esse modelo aqui, como uma cidade onde o Bolsonaro ganhou sua eleição, mas conseguiu reeleger uma prefeita petista em primeiro turno. Consegue dialogar para ter uma base ampla na Câmara Municipal, uma base que não é petista, que não é de esquerda, com muitos vereadores que se dizem conservadores, mas que têm em comum a vontade de trabalhar pela população”. A avaliação é da vereadora petista Moara Saboia, que está em seu segundo mandato na Câmara Municipal de Contagem. Ela foi entrevista pelo programa Café com Política, que está disponível no canal de O TEMPO no YouTube.
Para ela, a atuação do PT em Contagem precisa ser referência para a sigla. “Uma experiência que conseguiu organizar o partido internamente, conseguiu ampliar a sua base, conseguiu ampliar o número de vereadores na última eleição (de 2 para 3), conseguiu conquistar a reeleição e tem conseguido fazer uma gestão conectada com a população”, diz. “E o Lula deu esse recado no dia da posse do Edinho (Silva, presidente eleito do PT). O partido precisa olhar para quem é mais pobre, para sua base histórica, para quem realmente precisa. E essas pessoas são de todos os tipos, inclusive conservadoras, evangélicas, que vivem nas nossas periferias”, completou.
Para a vereadora, a experiência bem sucedida em Contagem cacifa a prefeita Marília Campos para voos mais altos. A prefeita chegou a ser cotada para representar o partido na disputa pelo governo de Minas em 2026 e aparece com chances reais numa disputa pelo Senado, embora já tenha declarado sua intenção de seguir conduzindo o município de Contagem.
“Tenho certeza que a Marília seria uma ótima candidata a qualquer um dos cargos estaduais que ela se dispusesse a disputar. E as pesquisas têm apontado isso. Mas o que ela tem reafirmado é que ela quer encerrar o mandato para evitar um desmonte das políticas públicas que ela construiu”, diz Moara, que acha que a política também pode contribuir “dando a vitória para o Lula em Contagem” e ajudando a angariar votos para o partido nas disputas no Senado, na Câmara dos Deputados e na Assembleia Legislativa de Minas Gerais.
Sobre uma eventual candidatura do senador Rodrigo Pacheco (PSD) ao governo de Minas, com apoio da esquerda e do presidente Lula, Moara diz que a tarefa de Pacheco não é atrair os votos da esquerda, mas os eleitores de centro-direita. “Acho que é muito nesse sentido que Lula aposta no Rodrigo Pacheco. É jovem, mas já foi presidente do Senado, então mostra sua capacidade de diálogo, de amplitude. Então, acho que a tarefa dele não é tanto dialogar com a esquerda. Acho que o Lula, Marília, os aliados desse campo aqui, eles podem fazer essa papel. Acho que a principal tarefa do Pacheco, para se viabilizar, é conseguir atrair eleitores além da esquerda”, opina.
Sobre o governo de Romeu Zema (Novo), Moara Saboia diz que o objetivo do governador em seu segundo mandato foi apenas se tornar conhecido nacionalmente para se viabilizar como presidenciável. “A gente vê o desespero um pouco da parte dele, com aqueles vídeos dele comendo banana com casca ou com um bebê reborn do Lula para tentar aparecer e com pré–lançamento em São Paulo da sua candidatura à Presidência, se intrometendo em muitos assuntos nacionais e cuidando pouquíssimo de Minas Gerais”.
Para ela, um exemplo claro desse ‘abandono’ foi o Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag). O projeto de lei, inclusive de autoria do senador Rodrigo Pacheco, busca equacionar o problema da dívida dos Estados com a União. No caso de Minas, o débito ultrapassa os R$ 160 bilhões. “Quem conduziu as negociações do Propag foi o Pacheco e nosso governador foi omisso nisso, como está sendo omisso em várias outras situações, como na questão do Rio Doce, da reparação dos crimes da Vale e das empresas mineradoras, que teve pouca participação do Estado”.
Política local
Na entrevista, a vereadora também comentou sobre a situação da ex-vice-líder do governo na Câmara Municipal de Contagem Adriana Souza (PT). Em junho deste ano, a parlamentar renunciou ao posto de vice-líder após as muitas críticas de colegas da Câmara após ela se posicionar contra o reajuste salarial de 9,42% no salário dos vereadores, aprovado em maio. “Já foi superado completamente”. Após a saída de Adriana, o cargo de vice-líder do governo passou a ser ocupado pelo vereador Diemerson Mauro Ferreira, o Didi (PRD), que está em seu primeiro mandato na Casa.
Por fim, a parlamentar comentou sobre suas pretensões políticas de chegar à ALMG, cargo que já tentou nas eleições de 2022. “Tenho pretensão de novamente ser candidata a deputada estadual. Nesse momento, a Marília tem falado muito sobre a necessidade de Contagem ter os seus deputados eleitos e que respondam pela cidade”.