A Rede Minas está levando ao ar, de segunda a sexta-feira, às 8h, uma animação infantil criada pela vice-presidente da Igreja Batista Getsêmani, Daniela Linhares. Sem ter os custos informados pela Empresa Mineira de Comunicação (EMC), que é subordinada à Secretaria de Comunicação Social do governo Romeu Zema (Novo), o desenho “Danizinha Protetora”, que estreou na segunda-feira (22/7), tem como protagonista uma personagem inspirada na pastora.

Ao anunciar a nova programação na última sexta (19/7), a EMC descreveu que a animação teria como propósito “proteger as crianças contra ameaças que podem tirá-las da sua infância”. “Ela (Danizinha) encarna a defensora dos valores cristãos e ensina a importância da confiança em Deus e como reconhecer situações que podem comprometer seu bem-estar”, completa o comunicado. 

Os episódios são acompanhados por canções. Em um deles, que tem pouco mais de três minutos e é intitulado “Obedecer”, a protagonista ensina o público infantil a soletrar a palavra título do episódio. “B, de bênçãos que somente Deus pode dar. (...) C, de contemplar tudo o que Deus fez. (...) Papai, mamãe e Deus eu sempre vou obedecer”, diz a personagem. Em outro, ela cita Deus como o responsável pela criação do universo.

O Portal da Transparência não especifica se e quanto a EMC gastou para levar “Danizinha Protetora”, cujo canal estreou no YouTube apenas no último mês de abril, para a grade de programação da Rede Minas. Dos pouco mais de R$ 10 milhões desembolsados até esta terça (23/7) para ações classificadas como “cultura”, R$ 906 mil são para “serviços de terceiros”, pessoas jurídicas ou físicas, sem informar quem são. Questionados pelo Aparte, EMC e governo Zema não se posicionaram. 

Daniela diz que teria cedido os direitos autorais da animação “Danizinha Protetora” à Rede Minas. “O contrato não envolve valores. Cedi todos os direitos. Não recebo nada, mas também não pago nada. Não pode vincular propaganda ao produto e, para mim, é uma forma de divulgação do projeto”, alega a pastora, que defende que o desenho não teria qualquer relação com religião e não seria financiado pela Igreja Batista Getsêmani.    
  
Segundo ela, os recursos da produção são próprios ou, então, de doações de voluntários. “O conteúdo (da animação) não envolve igreja. Fala de educação e princípios cristãos, como obediência, obedecer aos pais. Não acredito que isso incomode a esquerda”, ironiza Daniela, que afirma que foi procurada pela Rede Minas para ceder os direitos de “Danizinha Protetora”. A EMC não explicou quais foram os critérios adotados para incluir o desenho na grade.   

Em maio passado, Daniela registrou, em uma rede social, uma reunião que teve com o diretor de Conteúdo e Programação da EMC, Leonardo Vitor, que é ex-coordenador do MBL em Minas Gerais. “Teremos muitas novidades e será um prazer compartilhar com vocês. Em breve, estaremos no ar!”, anunciou a pastora à época após uma visita à Rede Minas. De acordo com ela, o projeto teria sido concebido em 2003.  

A gestão da EMC, que, além da Rede Minas, é responsável pela Rádio Inconfidência, é criticada pela oposição a Zema desde que a reforma administrativa feita pelo governo foi aprovada pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais em abril de 2023. Antes da reestruturação, a empresa era vinculada à Secretaria de Cultura e Turismo. Desde então, a estatal está sob o guarda-chuva da Secretaria de Comunicação, recém-criada.