Quadros vêm, quadros vão. A mágoa continua. O Salão Nobre da Câmara Municipal de Belo Horizonte virou campo de disputa entre figuras políticas que já nem têm mais mandato na Casa. Por anos ocupado por uma galeria com os retratos de ex-presidentes da Câmara, o espaço passou por mudanças em 2023, quando, sob a presidência de Gabriel Azevedo (MDB), foi transformado no projeto Câmara Cultural, voltado à promoção de atividades culturais. Os quadros foram realocados para outra sala. Mas bastou Juliano Lopes (Podemos) assumir a presidência para que o projeto cultural fosse desfeito, em janeiro deste ano.
No lugar, ele reinstalou a galeria de fotos, em cerimônia realizada na segunda-feira (16). A reinauguração, que contou com trompete, flores e bolo, tinha como foco o “descerramento do quadro de Nely Aquino”, conforme convite enviado por Juliano Lopes. Curiosamente, o quadro de Gabriel, antecessor de Juliano, não estava no local.
Pela cronologia, a pintura de Gabriel Azevedo deveria estar logo abaixo do quadro da atualmente deputada federal do Podemos, que é um desafeto político dele. Mas apenas após Nely, o secretário de Estado de Governo, Marcelo Aro (PP), e seus aliados – grupo apelidado de “Família Aro” – terem ido embora, o quadro de Gabriel foi, enfim, colocado no lugar.
A ausência da pintura revela um quadro maior: a continuidade da desavença política entre o grupo liderado por Marcelo Aro e o ex-vereador e ex-candidato à Prefeitura de Belo Horizonte Gabriel Azevedo, que se iniciou na Câmara dos Vereadores. De antes aliado de Nely, Gabriel se tornou “persona non grata” na Família Aro depois de não ter cumprido um acordo que o colocou na presidência da Casa. Segundo Juliano, Gabriel teria assinado um documento se comprometendo a renunciar em 2024, dividindo a cadeira com o colega: no primeiro ano, a presidência seria de Gabriel, no segundo, de Juliano, o que não ocorreu.
Procurado pelo Aparte, Juliano Lopes afirmou não saber detalhes do caso da galeria de retratos por estar como prefeito em exercício no dia da cerimônia, mas disse que a pintura de Gabriel não era a única ausente e que a inauguração foi feita “às pressas”, o que fez com que alguns quadros chegassem depois. Interlocutores presentes da cerimônia, no entanto, afirmaram que todas as outras pinturas estavam penduradas.
Questionado sobre o motivo da “inauguração” do quadro da deputada Nely Aquino, sendo que ele já estava pendurado na Câmara desde 2023, em outra sala, Juliano respondeu que, na ocasião anterior, não houve cerimônia formal. Procurado, Gabriel afirmou que, à época, Nely foi convidada para participar da entrega, mas que “não houve compatibilidade de datas, como comprovam trocas de e-mail”.
O ex-presidente, entretanto, minimizou a ausência de seu quadro na cerimônia: “Não há problema nenhum. Meu quadro é o único que não foi custeado com recursos públicos e foi doado sem cerimônia”, afirmou, ao explicar que, na época em que pendurou sua pintura, em dezembro de 2024, não quis nenhum ato. “Não senti que precisava de uma cerimônia para algo tão simplório”. E completou: “Temos que nos esforçar para resolver os problemas que são relevantes para o povo”.