Os esforços do governador Romeu Zema (Novo) para se consolidar como representante das pautas das forças de segurança pública têm enfrentado resistência por parte das próprias categorias. As críticas à política salarial do governo de Minas Gerais têm dificultado o projeto político do chefe do Executivo mineiro, que é apontado como um dos possíveis candidatos à Presidência da República em 2026.
Nos últimos 45 dias, Zema publicou ao menos 20 postagens nas redes sociais sobre o tema — uma média de quase uma a cada dois dias. As mensagens incluem críticas ao governo federal, elogios a ações do Executivo mineiro e menções a investimentos na segurança pública. Ainda assim, lideranças sindicais que representam policiais civis, militares e penais apontam que o discurso não é acompanhado de medidas efetivas para valorizar os servidores.
Desde o início de maio, o governador destacou inaugurações de delegacias e unidades do Corpo de Bombeiros no interior, entregas de viaturas, a viagem de Zema para conhecer a segurança pública em El Salvador, país da América Central, e até sua participação na Corrida da Polícia Civil. Em paralelo, tem intensificado os ataques ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a quem acusa de negligenciar o combate à criminalidade. “O Estado brasileiro decidiu não combater a criminalidade”, afirmou Zema em uma das postagens. Em outra, declarou: “No Brasil, os criminosos estão dentro do governo”.
Um dos vídeos publicados, com mais de 26 mil curtidas, mostra Zema discursando sobre o crime organizado. Apesar da repercussão positiva entre apoiadores, a postagem também foi alvo de críticas. “Fiquei curioso agora para saber como é a política remuneratória do tal Bukele, se ele prometeu já conceder reajuste e, depois, voltou atrás com a própria palavra”, comentou um seguidor, em alusão à viagem do governador a El Salvador.
Na ocasião, Zema visitou o país governado por Nayib Bukele, para conhecer de perto a política de segurança pública baseada em “tolerância zero”. A visita gerou comparações com o modelo brasileiro e críticas à condução da segurança pública em Minas Gerais. “Enquanto Zema passeia com dinheiro público fazendo seu marketing político, viaturas estão paradas por falta de combustível”, escreveu um internauta.
As cobranças também partem das entidades sindicais. O presidente do Sindicato dos Servidores da Polícia Civil de Minas Gerais (Sindpol-MG), Wemerson Silva, afirma que o Estado enfrenta um avanço das facções criminosas e critica a ausência de investimentos. “Estamos vendo facções invadindo Minas Gerais, disputando território. O governo de Minas está criando caos para vender soluções. São 44% de perda salarial e falta investimento para investigação”, disse. “A quem interessa não investir e não investigar crimes”, questionou o dirigente sindical.
Jean Otoni, presidente do Sindicato dos Policiais Penais de Minas Gerais (Sindppen), aponta falta de diálogo com as categorias. “O governador não tenta se aproximar da categoria. Ele apenas usa a imagem da categoria, como se estivesse se aproximando. Se realmente quisesse estar próximo, buscaria diálogo ou mecanismos de negociação. Pela lei, segurança pública não pode fazer greve, mas precisa de negociação, e não há”, afirmou.