Uma troca recente na chefia do Centro de Referências das Juventudes (CRJ), vinculado à Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de BH, causou descontentamento entre movimentos sociais e setores da própria prefeitura. Segundo apurado pela coluna Aparte, a mudança ocorreu por conta de uma indicação do deputado federal Reginaldo Lopes (PT), que participou da campanha de Fuad Noman (PSD) e tem outros quadros dentro da gestão municipal.
Houve uma “queda de braço” nos bastidores para barrar a nomeação do nome apresentado pelo petista, que enfrentava forte resistência. No entanto, isso não impediu a exoneração da então chefia do CRJ. No lugar, foi nomeado outro integrante do mesmo grupo político.
A exoneração foi publicada no dia 19 de julho. Quem deixou o cargo foi Paixão Sessémeandê, que ocupava uma das funções de chefia no CRJ desde junho de 2024 e é a primeira pessoa não-binária a conseguir a retificação do nome e gênero na capital mineira. No mesmo dia, o estudante de direito Leonardo Tomaz Ferreira foi nomeado para o posto.
Nos bastidores, a movimentação já estava em curso antes da publicação oficial. Segundo apuração da coluna, a prefeitura havia decidido indicar Patrick Cesário - secretário-parlamentar de Reginaldo - para substituir Paixão. A escolha provocou reação imediata de setores do próprio governo, de movimentos sociais e até de vereadores da capital. Paixão era considerado um quadro técnico e bem-visto por movimentos atendidos pelas políticas do CRJ.
Repercussão
Segundo o vereador Pedro Patrus (PT), movimentos sociais procuraram parlamentares de esquerda, e alguns levaram a demanda ao governo. A Inspetoria Centro-Sul da Guarda Municipal de BH foi um dos setores da prefeitura a se movimentar antes da exoneração. Dois dias antes da troca, o órgão enviou um e-mail a Paixão destacando a importância de sua atuação como gerente do CRJ, localizado na área de cobertura da unidade: "sua posição como gerente é um pilar crucial para o sucesso das nossas iniciativas”, destacou.
Já a Rede Afro LGBT Minas divulgou uma carta de repúdio à exoneração de Paixão, ressaltando sua ligação com o Centro desde a origem do equipamento - que nasceu de uma ocupação de jovens que demandavam um espaço dedicado à juventude na cidade. Paixão participou das ocupações, fez estágio e depois ingressou em uma assessoria antes de assumir o cargo de gestão. Por conta desta e de outras insatisfações, a Rede se retirou de dois conselhos da pasta.
Representantes de projetos da UFMG atualmente em curso na CRJ, o cursinho popular Emancipa e o Programa Ballet Jovem MG também pediram pela manutenção da gerência. “Destacamos a importância de sua permanência para a continuidade e o bom andamento das ações desenvolvidas no Centro”, escreveu o Ballet Jovem.
A Rede Emancipa chamou a exoneração de “arbitrária” e “sem diálogo com as juventudes que constroem diariamente no CRJ”. O Fórum das Juventudes de BH avaliou que a “exoneração repentina” desestrutura processos e é uma “grande perda para a defesa dos direitos das juventudes”.
Cargo político
À coluna, Paixão disse que as cartas demonstram uma preocupação com um eventual comprometimento do andamento dos processos. “Não foi feita uma análise de conjuntura do próprio equipamento para que fosse tomada essa decisão”, queixou-se.
Segundo Paixão, foi dito por um membro da prefeitura que o cargo que estava ocupando era “político”, mas argumenta que o cargo exige capacidade técnica: “se a pessoa não tiver minimamente a capacidade técnica de lidar com toda essa estrutura de uma vez, ela pode trazer impactos graves de desmanche para essa política pública que estamos há anos lutando para ter”.
A PBH foi procurada, mas não respondeu aos questionamentos da coluna. Reginaldo Lopes preferiu não se manifestar.