BRASÍLIA -afastamento de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) da Câmara dos Deputados não travou a ofensiva da oposição na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional. O grupo articula debates voltados ao cenário internacional, especialmente aos Estados Unidos com o governo do presidente Donald Trump.

O nome de Eduardo era dado como certo para o comando do colegiado. O deputado, no entanto, decidiu não retornar de viagem aos EUA e pediu licença do mandato. Ele informou que ficaria em solo norte-americano para buscar punições ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. 

Com isso, o deputado Filipe Barros (PL-PR) tomou posse, em 19 de março, como presidente da comissão. Barros já foi líder da oposição e teve seu nome referendado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que virou réu por tentativa de golpe de Estado na quarta-feira (26). 

Também na quarta-feira, o colegiado fez a primeira reunião de votações do ano. Entre os requerimentos aprovados, está uma moção de louvor a Eduardo Bolsonaro proposta pelo atual líder da oposição na Câmara, deputado Zucco (PL-RS), e assinada também pelo deputado Mário Frias (PL-SP). 

Zucco Justificou que Eduardo “tem se destacado pela bravura e coragem com que representa o Brasil em importantes fóruns internacionais, denunciando os abusos de autoridade e a crescente perseguição política contra cidadãos e lideranças políticas de direita no país”.  

Agência alvo de Trump 

Outro requerimento aprovado na quarta-feira mira a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID). O órgão virou alvo depois da posse de Trump, em janeiro.  

O presidente dos EUA anunciou que fechará a USAID, enquanto o bilionário Elon Musk, chefe do Departamento de Eficiência Governamental (Doge), a chamou de “organização criminosa”. Autoridades de fora dos Estados Unidos endossaram o coro contra a Agência, como o presidente da Argentina, Javier Milei. 

O rumor surgiu por uma entrevista do ex-funcionário do Departamento de Estado dos EUA Michael Benz, que declarou, sem provas, que a USAID financiou uma suposta fraude eleitoral no Brasil. As acusações são de que a USAID financiou injetou milhões de dólares para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vencesse Jair Bolsonaro nas eleições de 2022. 

“Se a Usaid não existisse, Bolsonaro ainda seria o presidente do Brasil e o Brasil ainda teria uma internet livre e aberta”, disse Benz em 4 de fevereiro ao podcast War Room. O programa é de Steve Bannon, ex-assessor de Trump. A tese - não comprovada - chegou a ser explorada por militantes da direita nas redes sociais.  

A USAID foi criada em 1961 e atua em mais de 100 países. Seu foco é unificar programas de assistência ao redor do mundo. O site oficial com dados de investimentos estrangeiros dos EUA indica que em 2022, o órgão aplicou US$ 29,2 milhões no Brasil em projetos de áreas como saúde, educação e assistência social. Não há, na lista, registro de financiamento de projetos relacionados às eleições. 

Apesar da falta de comprovação da informação, esse é o teor do requerimento aprovado, que foi apresentado pelo líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ). O documento pede a participação de Benz em uma audiência para falar sobre a suposta “interferência” da USAID no Brasil. 

“Recentes denúncias sobre a atuação da USAID no Brasil suscitam preocupações acerca da nossa soberania nacional e integridade de nossos processos democráticos”, justificou Sóstenes. Ainda não há data prevista para a audiência com Benz.