Pandemia

Morre pai de vítima da Covid que recolocou cruzes arrancadas em protesto no Rio

A cena protagonizada por Márcio do Nascimento que comoveu o país aconteceu dois meses após a morte do filho, quando a ONG Rio de Paz decidiu fazer um protesto abrindo 100 covas nas areias de Copacabana e fincando cruzes

Por O Tempo Brasília
Publicado em 04 de outubro de 2022 | 15:01
 
 
 
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Morreu nesta terça-feira (4), aos 58 anos, o taxista Márcio Antônio do Nascimento Silva. Ele é o pai que viralizou nas redes sociais ao recolocar cruzes em um protesto em memória às vítimas da Covid-19 nas areias da Praia de Copacabana, em 11 de junho de 2020, quando o Brasil registrava 40 mil óbitos na pandemia, incluindo o filho dele, Hugo Dutra do Nascimento, que morreu em abril de daquele ano. O jovem era saudável e não integrava o grupo de risco, mas não resistiu ao coronavírus e morreu após 16 dias internado. Até esta hoje foram 686 mil vidas perdidas no país.

A cena protagonizada por Márcio do Nascimento que comoveu o país aconteceu dois meses após a morte do filho, quando a ONG Rio de Paz decidiu fazer um protesto abrindo 100 covas nas areias de Copacabana e fincando cruzes. Pais de várias das vítimas da Covid-19 foram convidadas para participar do ato. A intenção era cobrar ações do governo federal contra a pandemia, quando o presidente da República, Jair Bolsonaro, integrantes do seu governo e apoiadores sustentavam discursos que minimizam a pandemia, sendo contra ações de prevenção. 

A manifestação em Copacabana foi interrompida por um homem que passava pelo calçadão da praia e decidiu derrubar as cruzes. Márcio fincou novamente os objetos na areia, com um discurso indignado. “Meu nome é Márcio. Pai do Hugo, que faleceu aos 25 anos de Covid 19. Só queria dizer que a dor do pai é muito grande. É ter que conviver todo o dia com essa dor, com os pensamentos. Tentar lidar com estes pensamentos”, disse o pai, em vídeo que ganhou as redes sociais.

Com a repercussão, Márcio foi convidado a dar um depoimento na CPI da Covid, no Senado, em Brasília. Ele deu a declaração em outubro de 2020. “Eu acho que nós merecíamos um pedido de desculpa da maior autoridade do país. Porque não é questão política – se é de um partido, se é de outro. Nós estamos falando de vidas de pessoas. Cada depoimento aqui, eu acho que, em cada depoimento, um sentiu o depoimento do outro e acrescentou o que o outro tinha para falar, entendeu? Então, a nossa dor não é mimimi, nós não somos palhaços. É real”, disse o taxista.

Márcio morreu no Rio de Janeiro, onde morava com a família. Ele estava internado com problemas no coração. O enterro está previsto para a tarde desta terça-feira, no Cemitério São João Batista, na capital carioca.

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