Na mira

Dilma enfrenta novas denúncias em meio à crise

Delcídio garante que presidente sabia de tudo sobre subornos pagos durante década pela grandes construtoras a políticos e funcionários da petroleira

Por AFP
Publicado em 20 de março de 2016 | 07:25
 
 
 
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A presidente Dilma Rousseff, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva continuam sendo alvo de denúncias que ameaçam a permanência de seu partido no poder.

O senador Delcídio do Amaral, que aceitou colaborar com as investigações em troca de uma redução de pena pelo escândalo Petrobras, garante que Dilma Rousseff "sabia de tudo" sobre os subornos pagos durante uma década pela grandes construtoras a políticos e funcionários da petroleira.

"O Lula comandava o esquema", garantiu. "A Dilma também sabia de tudo" e os dois "tentam de forma sistemática obstruir os trabalhos da Justiça", acusou a ex-liderança do Partido dos Trabalhadores no Senado em uma entrevista à revista Veja.

A reação da Presidência não demorou: em comunicado, anunciou que tomará medidas jurídicas contra Delcídio por suas declarações "caluniosas e difamatórias".

Ao contrário de Lula, que já é alvo das investigações da Operação Lava Jato, Dilma até agora se manteve a salvo. Segundo Delcídio a diferença entre Dilma e Lula é que a presidente "fingia não ter nada a ver com o caso".

- 68% a favor do impeachment -

De acordo com uma pesquisa publicada neste sábado pelo Data Folha, 68% dos brasileiros se declararam em meados de março a favor do impeachment, percentual maior do que há um mês (60%). A mesma pesquisa indica que para 65% dos entrevistados Dilma Rousseff deveria renunciar.

A presidente nomeou Lula ministro da Casa Civil para tentar recompor a base aliada e impedir um voto favorável ao seu impeachment. No entanto, um juiz federal suspendeu na sexta-feira sua nomeação, por suspeita de que sua principal motivação tenha sido garantir o foro privilegiado ao ex-presidente.

Até que o Supremo Tribunal Federal decida em plenário no dia 30 de março se anula ou mantém a sua nomeação, Lula volta a ser investigado pela Lavo Jato, nas mãos do juiz Sérgio Moro.

"Moro pode ordenar a prisão (de Lula), mas terá que demonstrar que há mais fatos que a justifique", explicou à AFP Carlos Gonçalves, doutor e professor de Direito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP).

"Ele não poderá se basear em supostos crimes, porque esses ainda não foram julgados. Mas pode ser alegado, por exemplo, que (em liberdade) o ex-presidente Lula poderia tentar influenciar na produção de provas do processo", acrescentou.

A investida política e judicial contra o governo do PT encontra forte respaldo da população. No domingo passado, cerca de 3 milhões de pessoas saíram às ruas em todo o para exigir a saída de Dilma Rousseff do governo do país.

A esquerda reagiu na última sexta-feira, protestando contra a tentativa de "golpe de Estado".

O próprio Lula discursou para uma multidão em São Paulo, com a paixão de seus anos de sindicalista contra o regime militar.

A mobilização (270.000 pessoas segundo a polícia, 1,2 milhão de acordo com os organizadores), foi de menor envergadura do que a realizada no domingo passado pela oposição, mas cumpriu os objetivos do governo. 

"Até agora, como as outras tentativas de levar as pessoas às ruas contra o impeachment tinham fracassado, se acreditava que os brasileiros apoiavam (o impeachment) ou que tinham uma posição neutra", disse Luis Felipe Miguel, professor de Ciências Políticas da Universidade de Brasília (UnB), citado pela Agência Brasil. "Mas agora se viu que não é assim", acrescentou.

- Guinada à direita -

A crise política do Brasil acompanha uma grave recessão econômica, que reduz o ânimo dos brasileiros a poucos meses dos Jogos Olímpicos, em agosto.

As acusações de corrupção atingem todo a cena política e gera incertezas sobre quem poderá ganhar com a crise.

"Há raiva contra a classe política como um todo e quero crer que se achará uma saída através de uma recomposição dos  partidos políticos", disse Gonçalves, que descarta o surgimento de um Donald Trump à brasileira.

"Não há nenhum movimento sério desse tipo, mas nas eleições municipais de 2016 e na presidencial de 2018 prevalecerão as tendências de ideologia mais conservadoras, mais de direita", estima.

Outra pesquisa do Datafolha divulgada nesse sábado indica que Marina Silva, terceiro lugar nas últimas eleições, lidera as intenções de voto.

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