O governador do Amazonas, Wilson Lima (União Brasil), decretará nesta sexta-feira (29) emergência em todo o estado, por causa da seca severa. Das 62 cidades do estado, apenas duas ainda não sentem os efeitos da estiagem. E o cenário só deve piorar, pois não há qualquer previsão de reversão do fenômeno climático. Cerca de 520 mil podem ser impactadas pela estiagem até dezembro.
Manaus e outros 18 municípios já decretaram emergência. Mais de 110 mil pessoas sofrem com falta de água potável e alimentos. A navegação é o principal meio de transporte no estado, tomado por floresta. Nas últimas duas semanas, houve uma redução de 40% na capacidade de transporte fluvial na região.
A estiagem já compromete a chegada de insumos e a distribuição de produtos da Zona Franca de Manaus. A situação deve afetar a distribuição de água e alimentos para cerca de 500 mil pessoas até o fim de outubro. Cerca de 20 mil crianças podem ficar sem ter como chegar às escolas.
A extrema seca no Rio Negro fez Manaus decretar estado de emergência na quinta-feira (28). Além da estiagem recorde que atinge a região, a cidade está coberta por fumaça de queimadas há mais de um mês.
O Rio Negro chegou a medir 16,11 metros de profundidade na quinta. O afluente está a só 3,5 metros de atingir a maior seca da história do Amazonas, quando atingiu a cota de 13,63 metros, em 2010. Segundo o Porto de Manaus, que mede o rio há décadas, a descida das águas está em uma média de 30 centímetros por dia.
Nas redes sociais há centenas de fotos e vídeos de milhares de peixes mortos no Rio Solimões, outro grande corredor aquático do bioma. Também há registros de botos-cor-de-rosa e peixes-boi sem vida em meio a pequenos e lagos rasos onde passavam rios volumosos.
Os dados foram divulgados pelo governador Wilson Lima, após reuniões com autoridades do governo federal, em Brasília, na terça-feira (26). Lima se encontrou com os ministros Waldez Góes (Integração e do Desenvolvimento Regional), Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima), Renan Filho (Transporte) e Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos).
Ainda de acordo com o governador, o governo federal vai ajudar com serviço emergencial de dragagem em trechos dos rios Solimões e Amazonas, para tentar manter ativa a rota de barcos.
O serviço visa retirar sedimentos do fundo de um manancial, como terra, areia, rochas e lixo. No caso dos rios amazônicos, esses sedimentos viram barreiras para as embarcações em período de estiagem, quando o nível das águas baixa muito.
O governo estadual também espera receber R$ 100 milhões da União para colocar em prática medidas emergenciais de apoio às famílias afetadas em áreas como saúde e abastecimento de água, bem como na distribuição de cestas básicas, kits de higiene pessoal, renegociação de dívidas e fomento para produtores rurais.
Os municípios mais afetados são os localizados na Calha do Alto Solimões, onde fica Benjamin Constant e São Paulo de Olivença. Além deles, Atalaia do Norte, Amaturá, Santo Antônio do Içá e Tonantins estão na lista. Em Atalaia do Norte, o rio está tão baixo que a empresa de abastecimento não consegue mais captar água. Mais de 5 mil pessoas estão sem acesso à água potável.