Crise climática

Emergência no Amazonas: Rios secos, botos mortos, população sem água e comida

O governador do Amazonas, Wilson Lima, decretará emergência em todo o estado, por causa da seca severa

Por Renato Alves
Publicado em 29 de setembro de 2023 | 11:28
 
 
 
normal

O governador do Amazonas, Wilson Lima (União Brasil), decretará nesta sexta-feira (29) emergência em todo o estado, por causa da seca severa. Das 62 cidades do estado, apenas duas ainda não sentem os efeitos da estiagem. E o cenário só deve piorar, pois não há qualquer previsão de reversão do fenômeno climático. Cerca de 520 mil podem ser impactadas pela estiagem até dezembro.

Manaus e outros 18 municípios já decretaram emergência. Mais de 110 mil pessoas sofrem com falta de água potável e alimentos. A navegação é o principal meio de transporte no estado, tomado por floresta. Nas últimas duas semanas, houve uma redução de 40% na capacidade de transporte fluvial na região. 

A estiagem já compromete a chegada de insumos e a distribuição de produtos da Zona Franca de Manaus. A situação deve afetar a distribuição de água e alimentos para cerca de 500 mil pessoas até o fim de outubro. Cerca de 20 mil crianças podem ficar sem ter como chegar às escolas. 

A extrema seca no Rio Negro fez Manaus decretar estado de emergência na quinta-feira (28). Além da estiagem recorde que atinge a região, a cidade está coberta por fumaça de queimadas há mais de um mês.

O Rio Negro chegou a medir 16,11 metros de profundidade na quinta. O afluente está a só 3,5 metros de atingir a maior seca da história do Amazonas, quando atingiu a cota de 13,63 metros, em 2010. Segundo o Porto de Manaus, que mede o rio há décadas, a descida das águas está em uma média de 30 centímetros por dia.

Nas redes sociais há centenas de fotos e vídeos de milhares de peixes mortos no Rio Solimões, outro grande corredor aquático do bioma. Também há registros de botos-cor-de-rosa e peixes-boi sem vida em meio a pequenos e lagos rasos onde passavam rios volumosos. 

Governo federal vai ajudar Amazonas com serviço emergencial de dragagem 

Os dados foram divulgados pelo governador Wilson Lima, após reuniões com autoridades do governo federal, em Brasília, na terça-feira (26). Lima se encontrou com os ministros Waldez Góes (Integração e do Desenvolvimento Regional), Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima), Renan Filho (Transporte) e Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos). 

Ainda de acordo com o governador, o governo federal vai ajudar com serviço emergencial de dragagem em trechos dos rios Solimões e Amazonas, para tentar manter ativa a rota de barcos. 

O serviço visa retirar sedimentos do fundo de um manancial, como terra, areia, rochas e lixo. No caso dos rios amazônicos, esses sedimentos viram barreiras para as embarcações em período de estiagem, quando o nível das águas baixa muito.

Governo do Amazonas espera R$ 100 milhões para medidas emergenciais

O governo estadual também espera receber R$ 100 milhões da União para colocar em prática medidas emergenciais de apoio às famílias afetadas em áreas como saúde e abastecimento de água, bem como na distribuição de cestas básicas, kits de higiene pessoal, renegociação de dívidas e fomento para produtores rurais. 

Os municípios mais afetados são os localizados na Calha do Alto Solimões, onde fica Benjamin Constant e São Paulo de Olivença. Além deles, Atalaia do Norte, Amaturá, Santo Antônio do Içá e Tonantins estão na lista. Em Atalaia do Norte, o rio está tão baixo que a empresa de abastecimento não consegue mais captar água. Mais de 5 mil pessoas estão sem acesso à água potável.

 

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!