RIO DE JANEIRO. Com a derrocada do império “X”, Eike Batista perdeu boa parte de seu patrimônio e o status de homem mais rico do Brasil. O potencial de sua imaginação, no entanto, cresceu na proporção inversa. Foram muitos os projetos mirabolantes que o empresário passou a avaliar para retornar ao cenário econômico nacional: da produção de um genérico do Viagra a clones de gado e até pasta de dente.
A produção da pasta de dente foi o projeto que mais avançou. A pasta será à base de um mineral chamado hidroxiapatita, que promete regenerar o esmalte dos dentes e torná-los mais brancos. Em análise na Anvisa, foi batizada de Elysium. No Japão, há um produto semelhante, vendido ao equivalente a U$ 30. Aqui, Eike quer vender o tubo da Elysium a R$ 1.
A produção de um medicamento que se dissolve embaixo da língua para combater a impotência sexual também foi uma forte aposta de Eike. Um acordo de desenvolvimento teria sido firmado com uma empresa farmacêutica sul-coreana, mas o negócio não vingou, segundo pessoas próximas ao empresário.
Na Coreia do Sul, Eike também encontrou uma equipe de cientistas dispostas a clonar animais. Segundo a agência de notícias Bloomberg, o empresário teria interesse em clonar gado no Brasil. Uma parceria com uma empresa brasileira de biomassa, que cultiva cana-de-açúcar, também chegou a ser discutida. A ideia seria exportar a biomassa para o Reino Unido, com o objetivo de ser usada em usinas para gerar eletricidade.
A opção pelos negócios “exóticos” de Eike se dá em um momento em que a credibilidade do empresário foi fortemente abalada não apenas pelas investigações da Polícia Federal como também pela derrocada de seu império.
Seus principais negócios tinham foco em infraestrutura com cinco áreas de atuação: óleo e gás (OGX, atual OGPAR), construção naval (OSX), logística (LLX), mineração (MMX) e energia (MPX). E eram integrados de tal forma que o sucesso de um impulsionaria o desempenho do outro. Da mesma forma, o fracasso de um comprometeria os demais. Foi o que aconteceu.
No auge, as cinco principais empresas do grupo eram avaliadas em mais de R$ 100 bilhões. Mas a crise da OGX, em 2013, contaminou os demais braços do grupo. Hoje, pouco resta a Eike.
Internet
Memes. A internet reagiu com surpresa e memes após Eike Batista ter a prisão decretada pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal do Rio de janeiro, em ação da operação Eficiência.
Sem diploma
Eike ficará com presos comuns
RIO DE JANEIRO. O empresário Eike Batista disse em sua autobiografia “O X da questão” que não possui diploma de curso superior. Sem o diploma, o empresário pode dividir espaço com presos comuns, caso sua prisão seja realizada. “Estudei engenharia metalúrgica na Universidade de Aachen, na Alemanha. Rodei o mundo. Falo cinco idiomas. Sou engenheiro por formação, ainda que não tenha completado a graduação. Fui vendedor de seguros”, escreveu Eike, no primeiro parágrafo da introdução do livro publicado em 2011.
A decisão sobre qual presídio o empresário ocupará cabe à Secretaria Estadual de Administração Penitenciária (Seap). “Todas as prisões são iguais, mas há unidades para presos com ensino superior e presos sem ensino superior. Se ele não tem ensino superior, ele será encaminhado para uma unidade para presos sem ensino superior”, informou a assessoria da Seap.
Presídio. A assessoria, no entanto, não soube informar especificamente em qual presídio o empresário seria alocado nem qual a média de presos nas unidades estaduais – agente penitenciários ouvidos pelo portal UOL afirmam que é recorrente haver entre 80 e 100 detentos por cela nas unidades do Estado, que sofre com a superlotação. O sistema, hoje com 51.113 detentos, conta com apenas 27.242 vagas.
Há apenas uma unidade para presos com ensino superior – a Cadeia Pública Pedrolino Werling de Oliveira, conhecida como Bangu 8 –, onde o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB) está preso desde novembro do ano passado.
Esportista
Vitórias. No jornal “O Globo”, a história de Eike começou nas páginas de Esportes. Ele colecionou vitórias em competições náuticas de Offshore, ainda no início dos anos 1990. Depois, como “marido de Luma” (de Oliveira, ex-modelo), como ele gostava de se apresentar.
Patrimônio
‘Prodígio’ vê império ruir em dez anos
RIO DE JANEIRO. Menos de dez anos antes, era difícil prever que o empresário tido como um prodígio nos negócios – que construiu companhias em áreas como energia, indústria naval, mineração, turismo e gastronomia – fosse ver seu império ruir.
Em junho de 2008, foi destaque em reportagem “Gás na Bolsa e R$ 24 bi no bolso”, que noticiava a estreia da OGX, petroleira de Eike, na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), em junho de 2008. Na maior oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) realizada no país até então, a empresa captou R$ 6,7 bilhões.
Era a coroação de uma trajetória de pesados investimentos capitaneados por Eike. Em novembro de 2007, a OGX foi responsável por 74% do total arrecadado pelo governo na nona rodada de leilões da Agência Nacional do Petróleo (ANP), arrematando 21 blocos. Agora, ele é alvo de mandado de prisão preventiva.
Campanhas
Doações eleitorais atingiram 13 partidos
BRASÍLIA. As doações eleitorais de Eike Batista mostram o trânsito dele por diversos partidos. De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Eike destinou, entre 2006 e 2012, R$ 12,6 milhões a políticos e diretórios regionais de 13 partidos em oito Estados.
As doações abrangem as campanhas presidenciais de 2006 e 2010. Eike doou R$ 1 milhão para o comitê financeiro do então presidente Lula em 2006 e R$ 100 mil para o senador Cristovam Buarque (então no PDT, hoje no PPS).
Quatro anos depois, Eike fez transferências de R$ 1 milhão para os comitês de Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) e de R$ 500 mil para o de Marina Silva (então no PV, hoje na Rede).
Os partidos que receberam recursos foram PT, PMDB, PSDB, PP, PSD, PSB, DEM, PR, PDT, PV, PCdoB, PTB e PTC. Os Estados dos políticos são Rio, Minas Gerais, Santa Catarina, Maranhão, Ceará, Mato Grosso do Sul, Amapá e o Distrito Federal. A maior parte das doações (R$ 12,1 milhões) foram feitas por Eike como pessoa física. Somente em 2012, ele se valeu de uma das empresas, MMX Mineração, para fazer repasses de R$ 500 mil.
Algumas doações foram feitas diretamente para candidatos. A maior parte dos repasses, porém, foi feita por meio de diretórios e comitês.
Supersticioso, considera que X era sinônimo de multiplicar riqueza
RIO DE JANEIRO. Supersticioso, Eike Batista conferia ao uso do “X” no nome de suas empresas a capacidade de multiplicar riqueza. Em dezembro de 2011, disse em entrevista: “Deus pôs o item ‘saber fazer dinheiro’ no meu pote”.
Ele chegou a figurar como maior fortuna do Brasil e sétima maior no mundo, segundo ranking da revista americana “Forbes”.
Nos tempos de bonança, Eike Batista costumava dizer: “Meu objetivo é passar Bill Gates”, então considerado o homem mais rico do mundo.