BRASÍLIA - Brasil e Coreia do Norte estão perto de terem embaixadores nos dois países após quatro anos. O Ministério das Relações Exteriores informou na noite de quarta-feira (14) que “concedeu agrément [um aval diplomático] ao senhor Song Se Il como embaixador extraordinário e plenipotenciário da República Popular Democrática da Coreia no Brasil”.
Atualmente, a Coreia do Norte tem apenas quatro diplomatas no Brasil, sendo dois conselheiros e dois secretários, todos residindo em Brasília – os últimos chegaram ao em 2016. Já o Brasil está sem um embaixador em Pyongyang desde 2010, apesar de ter um diplomata nomeado para a função.
Luís Felipe Silvério Fortuna foi escolhido embaixador do Brasil na Coreia do Norte em dezembro de 2018. Mas, dois anos depois, ele teve que se mudar para Seul, na Coreia do Sul, por causa da restrição do regime controlado por Kim Jong-un durante a pandemia da Covid-19. Entre outras coisas, a ditadura norte-coreana cortou rotas aéreas.
Agora, com o aval do Brasil para o indicado de Kim Jong-un chefiar a embaixada em Brasília, é esperado que a Coreia do Norte libere o retorno de Fortuna à Pyongyang. O diplomata segue como responsável pela embaixada no país mais fechado do mundo, apesar de permanecer em Seul.
Coreia do Norte anuncia reabertura a turistas estrangeiros
Também nesta quarta-feira foi noticiada a decisão do regime de Kim Jong-un de reabrir suas portas ao turismo estrangeiro em dezembro, após quase cinco anos de fechamento devido à pandemia. O anúncio foi feito por dois operadores turísticos especializados na venda de pacotes para a Coreia do Norte.
“Recebemos a confirmação do nosso parceiro local de que o turismo para Samjiyon e, potencialmente, para o restante do país será retomado oficialmente em dezembro de 2024”, informou a Koryo Tours, com sede em Pequim, em seu site. A China é a única via de acesso para os ocidentais que desejam visitar a Coreia do Norte.
Perto da fronteira norte entre a Coreia do Norte e a China, Samjiyon, é uma porta de entrada para o Monte Paektu, onde, segundo a história oficial, nasceu o falecido líder norte-coreano Kim Jong Il, o que é contestado por historiadores de vários países, por total ausência de provas.
Para atrair turistas à região, que a dinastia Kim vende como um local sagrado – justamente por supostamente ser o local de nascimento de Kim Jong Il –, Kim Jong-un investiu somas significativas no desenvolvimento de Samjiyon, incluindo novos apartamentos, hotéis e uma estação de esqui.
A KTG Tours, também com base na China, publicou no Facebook que recebeu informações de que os turistas poderão visitar Samjiyon “neste inverno” – no hemisfério norte. “As datas exatas ainda serão confirmadas. Até agora, apenas Samjiyon foi confirmada oficialmente, mas esperamos que Pyongyang e outros lugares também sejam abertos", acrescentou a empresa.
Estudante norte-americano foi preso e morreu após viagem à Coreia do Norte
Antes da pandemia, o turismo internacional na Coreia do Norte era limitado, com cerca de 5 mil ocidentais visitando o país por ano. Cerca de 20% eram norte-americanos, até que Washington proibiu viagens ao país após a prisão e morte do estudante Otto Warmbier.
O estudante foi preso acusado de rasgar um pôster de propaganda política no hotel em que estava hospedado com outros turistas estrangeiros, em janeiro de 2016. Sentenciado a 15 anos de prisão, ele morreu após ser repatriado aos Estados Unidos, onde chegou já inconsciente, em coma, após 17 meses em uma prisão norte-coreana.
Um país sob uma ditadura, que ignora convenções mundiais de direitos humanos, mantêm relações diplomáticas com poucas nações, em guerra tecnicamente com a Coreia do Sul há mais de meio século – apesar dos bombardeios terem sido suspensos em 1953 –, em permanente conflito verbal com os EUA e com ameaças de atingir países inimigos com ogivas nucleares, não é amigável com os turistas estrangeiros ávidos a captar o maior volume possível de imagens dos cenários e cidadãos norte-coreanos, seja de qualquer origem for o visitante e o volume de dinheiro ele esteja disposto a deixar para Kim Jong-un.
É possível entrar na Coreia do Norte pela fronteira com a China, mediante a contratação de pacote turístico por agência credenciada e o cumprimento de uma série de normas. Mas é muito difícil circular pelas suas cidades e estradas. Principalmente por suas zonas rurais, onde, segundo organismos internacionais, há miséria, fome e campos de trabalho forçado.
Não há liberdade para se locomover fora da hospedagem. Agentes do Estado comunista sempre acompanham os visitantes, durante o rígido itinerário, geralmente baseado em visitar a capital, ainda que alguns também incluam viajar à Zona Desmilitarizada, na fronteira com a Coreia do Sul.
Sequer é dado ao turista que contratou os serviços de uma agência em Pequim a opção de escolher o hotel e o roteiro da viagem. Também não é possível sair do hotel sem o guia ou sem a autorização dele.