BRASÍLIA – O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), afirmou em entrevista ao O TEMPO Brasília, nesta quarta-feira (15), que vem mantendo conversas com o cantor Gusttavo Lima e lideranças políticas sobre a disputa presidencial de 2026, incluindo o também governador Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, e o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos-MG).
Reforçando o plano para se lançar candidato à Presidência da República no próximo ano, Caiado deu detalhes sobre a conversa que teve com Gusttavo Lima na última sexta-feira (10). Os dois almoçaram na fazenda do cantor, em Goiás, e conversaram por horas sobre política. O governador disse respeitar o desejo do sertanejo de também ser presidente. Mas insistiu que o quer como candidato ao Senado.
“Eu fiquei na fazenda dele a tarde toda de sexta-feira. Eu disse: ‘Olha, é muito importante que você se filie. Eu quero deixar claro que o União Brasil está aqui à sua inteira disposição, para sua filiação no partido, e que nós podemos tranquilamente caminhar pelo Brasil'”, contou Caiado.
O projeto do governador é uma dobradinha de Gusttavo Lima com a primeira-dama de Goiás, Gracinha Caiado, que também deve disputar uma cadeira na Casa no ano que vem – cada Estado vai escolher dois senadores em 2026. Caiado oficializou o convite para que Lima se filie ao seu partido. O cantor, por sua vez, teria pedido um tempo para decidir sobre a filiação.
“Primeiro, sou amigo pessoal do Gusttavo Lima, converso sempre com ele e, para ter uma ideia, esta vontade de decidir pela vida política, não é algo de hoje. Ele só não foi candidato ao Senado na eleição anterior porque não tinha idade certa. Ele já se posicionou na eleição de 2022 como pré-candidato a disputar em Goiás uma eleição para o Senado”, contou Caiado.
“Só que naquele momento tinha 34 anos de idade e com isso ele tinha uma limitação do ponto de vista da legislação que o impedia de disputar”, prosseguiu Caiado. A idade mínima para disputar o Senado é 35 anos, a mesma que Gusttavo Lima tem atualmente. Nascido em 3 de setembro de 1989, ela terá 37 em 2026.
Apesar de querer Gusttavo Lima como candidato a senador, Caiado afirmou que vê com bons olhos o nome do cantor como concorrente ao Palácio do Planalto para impedir a polarização. “O Gusttavo Lima conseguiu fazer algo extremamente importante para a política ou para as eleições de 2026. É o fato de diminuir essa polarização da campanha e fazer com que a população passe a ouvir outras alternativas”.
“Quando você concentra muito esse acirramento, muitas vezes, ele abre mão de se ter um governo mais aberto ao desenvolvimento, mais moderado, mais conciliador. Mas é na tese de promover investimentos substantivo de desenvolver o Estado, de cuidar da segurança, da educação, da saúde”, ponderou o governador goiano.
Caiado e Gusttavo Lima conversaram com Cleitinho
Caiado revelou que, no encontro na fazenda de Gusttavo Lima, conversou também, por meio de chamada de vídeo, com Cleitinho. “Eu nunca tive antes a oportunidade de conhecer ou de falar com Cleitinho. Eu estava na fazenda dele, ele ligou para o Cleitinho, fui apresentado ao Cleitinho por uma videoconferência, que nós fizemos da lei da fazenda dele, tá certo?”
O governador confirmou que os três conversaram sobre os planos para 2026, mas o governador não quis dar detalhes. “Lógico que falamos sobre 2026. Toda conversa vai para o lado político. Falei para o Cleitinho que, estando em Brasília, para vir à Goiânia me visitar, conversar pessoalmente comigo”, relatou Caiado. Ele disse ainda que, naquela ocasião, conversou com outros políticos, mas não quis citar os nomes.
Caiado fez questão de frisar que não tem controle sobre as decisões de Gusttavo Lima, apesar da longa e próxima amizade de ambos. “Ele é livre, ele pode continuar esse movimento”, afirmou. “Eu acho mais do que correto que o Gusttavo Lima também possa ouvir outras pessoas, até porque, da mesma maneira que o União Brasil propôs uma filiação, também é normal que ele ouça outros partidos, converse com outras lideranças políticas”, completou.
Já Cleitinho foi eleito com 4 milhões de votos para o Senado em 2022 e é cotado para concorrer ao governo de Minas Gerais em 2026.
Governador de Goiás elogia governador de Minas
Ronaldo Caiado também falou sobre a sua relação com o governador Romeu Zema (Novo). Ele elogiou o governador mineiro, mas titubeou ao ser perguntado sobre como vê o nome dele como potencial concorrente na disputa pela presidência em 2026.
“Temos nos falado bastante, principalmente agora nessa fase. Temos nos encontrado com frequência, não pessoalmente, mas por telefone, trocando mensagens. Há poucos dias, nós tivemos juntos no interior de São Paulo, participamos de um debate, eu e ele, sobre os sistemas da política nacional. Eu tenho um respeito muito grande por ele. Já tive com ele também aí no Norte de Minas”, relatou Caiado.
Caiado foi candidato a presidente em 1989
O governador de Goiás disse ter iniciado sua campanha para presidente em 1989 – a primeira com eleição direta após o fim da ditadura militar (1964-1985) – em Uberlândia, no Triângulo Mineiro. “Então, a minha proximidade com a política e o povo de Minas Gerais é muito grande. Foi lá também uma das maiores bases da UDR, do movimento ruralista de 1986”, citou.
Caiado criou a União Democrática Ruralista (UDR), entidade associativa que visa defender os interesses dos proprietários rurais e, tornando-se seu presidente, após um conflito de terras na região do Triângulo Mineiro que resultou na desapropriação da fazenda Barreiro. Era o governo de José Sarney e os latifundiários se sentiram ameaçados com a possibilidade da reforma agrária.
Descendente de uma família tradicional da política goiana, formado em medicina e produtor rural, Ronaldo Caiado ligou-se à Associação Goiana de Criadores de Zebu, à Sociedade Goiana de Pecuária e Agricultura e à Associação Goiana de Criadores de Nelore. Depois fundou a UDR, quando entrou definitivamente para a política.
Em 11 de julho de 1987, Caiado liderou uma passeata de 40 mil produtores rurais, em Brasília, contra a proposta de reforma agrária defendida por partidos de esquerda na Assembleia Constituinte, que resultaria na Constituição de 1988, a primeira após o fim do regime militar.
A candidatura dele à presidência foi lançada em 21 de fevereiro de 1989, quando a UDR, em assembleia extraordinária, em Brasília, o liberou para iniciar articulações com partidos políticos em busca de uma legenda. Então com 39 anos (faria 40 durante a campanha) estreou como candidato a cargos eletivos disputando a Presidência da República pelo Partido Social Democrático (PSD).
Entre os 22 candidatos a presidente, Caiado ficou em sétimo lugar, com 488.872 votos, o equivalente a 0,68%. No segundo turno, ele apoiou o candidato vitorioso, Fernando Collor, do Partido da Reconstrução Nacional (PRN). Collor bateu Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que hoje está no terceiro mandato de presidente.