BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quinta-feira (17/7) que foi “surpreendido” com a carta enviada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciando tarifas de 50% a produtos brasileiros e disse que ficou “indignado por saber que esse ataque ao Brasil tem apoio de alguns políticos”. A declaração aconteceu em pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão.
Em sua fala, Lula declarou também que o Brasil sempre esteve aberto ao diálogo e que recebeu "uma chantagem inaceitável, em forma de ameaças às instituições brasileiras" como resposta de Trump.
"O Brasil sempre esteve aberto ao diálogo. Fizemos mais de 10 reuniões com o governo dos Estados Unidos, e encaminhamos, em 16 de maio, uma proposta de negociação. Esperávamos uma resposta, e o que veio foi uma chantagem inaceitável, em forma de ameaças às instituições brasileiras, e com informações falsas sobre o comércio entre o Brasil e os Estados Unidos"
"Minha indignação é ainda maior por saber que esse ataque ao Brasil tem o apoio de alguns políticos brasileiros. São verdadeiros traidores da pátria. Apostam no quanto pior, melhor. Não se importam com a economia do país e os danos causados ao nosso povo", acrescentou.
Além disso, o presidente declarou que o Judiciário brasileiro é independente e que o "tentar interferir na justiça é um grave atentado à soberania nacional". Na carta enviada ao Brasil, Trump cita o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por suposta tentativa de golpe de Estado em 2022.
"Contamos com um Poder Judiciário independente. No Brasil, respeitamos o devido processo legal, os princípios da presunção da inocência, do contraditório e da ampla defesa. Tentar interferir na justiça brasileira é um grave atentado à soberania nacional", disse Lula.
O petista voltou a defender a regulação das plataformas digitais, uma das críticas do presidente norte-americano ao Brasil.
"A defesa da nossa soberania também se aplica à atuação das plataformas digitais estrangeiras no Brasil. Para operar no nosso país, todas as empresas nacionais e estrangeiras são obrigadas a cumprir as regras. No Brasil, ninguém — ninguém — está acima da lei. É preciso proteger as famílias brasileiras de indivíduos e organizações que se utilizam das redes digitais para promover golpes e fraudes, cometer crime de racismo, incentivar a violência contra as mulheres e atacar a democracia, além de alimentar o ódio, violência e bullying entre crianças e adolescentes, em alguns casos levando à morte, e desacreditar as vacinas, trazendo de volta doenças há muito tempo erradicadas".
O pronunciamento foi gravado na noite da última quarta-feira (16), no Palácio da Alvorada, horas após a crise com os EUA ter escalado mais um patamar com o anúncio de uma investigação que pode mirar ferramentas brasileiras como o Pix.
Na semana passada, o presidente norte-americano Donald Trump endereçou uma carta ao presidente Lula para informar sobre a imposição de uma sobretaxa de 50% sobre todas as exportações brasileiras nos Estados Unidos a partir de 1º de agosto.
Desde o anúncio, o presidente tem ameaçado usar a Lei da Reciprocidade, que permite ao Brasil adotar medidas contra países que impõem tarifas unilaterais. No entanto, a medida não deve ser adotada. O governo tem buscado o diálogo com os setores do empresariado e do agronegócio.
Mais cedo, em entrevista à CNN Internacional, o presidente Lula afirmou que está disposto a negociar com o governo dos Estados Unidos, mas que não aceita ser “refém”.