BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quinta-feira (17/7) que está disposto a negociar com o governo dos Estados Unidos após o anúncio do presidente Donald Trump de impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros. No entanto, Lula enfatizou que não aceita ser “refém” dos EUA. 

“O Brasil deve cuidar do Brasil e cuidar do povo brasileiro, e não cuidar dos interesses dos outros”, disse Lula, acrescentando: “O Brasil não aceitará nada que lhe seja imposto. Aceitamos negociação e não imposição". 

“Ninguém quer se livrar dos EUA. Não queremos ser reféns dos EUA. Queremos liberdade para negociar”, destacou, durante entrevista à jornalista Christiane Amanpour, da CNN Internacional. 

Na semana passada, o presidente norte-americano Donald Trump endereçou uma carta ao presidente Lula para informar sobre a imposição de uma sobretaxa de 50% sobre todas as exportações brasileiras nos Estados Unidos a partir de 1º de agosto.

O petista também negou que exista uma crise entre o Brasil e os Estados Unidos e indicou que acredita na possibilidade de negociação. "Eu não vejo crise ainda. Sinceramente, eu acho que negociação resolve", disse. "Eu vou dizer ao povo brasileiro: nós garantimos que Brasil não gosta de confusão, gosta de negociar. Isso é o que achamos. O Brasil é um aliado histórico dos EUA, nós aceitamos negociar".

'Trump não foi eleito para ser imperador do mundo'

Na entrevista à CNN Internacional, nesta quinta-feira, Lula ainda rebateu declarações recentes de Trump e disse que o norte-americano não foi eleito “para ser o imperador do mundo”. 

Questionado se as diferenças ideológicas entre os dois líderes poderia prejudicar as negociações tarifárias, o brasileiro afirmou que não vê o presidente norte-americano como "de extrema-direita". 

“Não sou um presidente progressista. Sou o presidente do Brasil. E não vejo o presidente Trump como um presidente de extrema direita. Vejo como o presidente dos EUA – ele foi eleito pelo povo americano", destacou.

"Não interessa se eu gosto dele ou não, em termos de ideologia. O que interessa é que ele é o presidente dos EUA e eu sou o presidente do Brasil. Então a melhor coisa no mundo é nós sentarmos em uma mesa e conversar. Isso seria a melhor coisa do mundo", concluiu o presidente.

Ele ainda criticou a decisão de Trump sobre as tarifas, tomada com base "em jornais", e acrescentou que achou que a carta enviada ao Brasil seria "fake news".

Lula voltou a afirmar que está disposto a negociar, mas disse que pode recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) e também pode usar a Lei da Reciprocidade, que permite ao Brasil adotar medidas contra países que impõem tarifas unilaterais. 

Além disso, o presidente declarou que o Judiciário brasileiro é independente e que o "presidente da República não tem qualquer influência". Na carta enviada ao Brasil, Trump cita o ex-presidente Jair Bolsonaro, réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por suposta tentativa de golpe de Estado em 2022.

O norte-americano também critica as decisões da Corte contra plataformas digitais que não cumprem a legislação brasileira - a exemplo de Rumble e X.