Crime na Amazônia

Barco de Bruno Pereira e Dom Phillips ainda não foi encontrado

Em nova busca, agentes da PF, mergulhadores da Marinha e indígenas deixaram o porto de Atalaia do Norte por volta das 9h desta sexta (17) rumo ao ponto indicado por homem que confessou participação em assassinatos

Por Renato Alves
Publicado em 17 de junho de 2022 | 08:54
 
 
 
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As buscas pela embarcação onde estavam o indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira, 41 anos, e o jornalista inglês Dom Phillips, 57, foram retomadas na manhã desta sexta-feira (17).

Agentes da Polícia Federal, mergulhadores da Marinha e indígenas deixaram o porto de Atalaia do Norte por volta das 9h rumo ao ponto indicado pelo pescador Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como Pelado.

Pelado confessou envolvimento no crime na terça-feira e levou agentes ao local onde estavam os restos mortais, resgatados na noite de quarta-feira (15) e levados para perícia em Brasília na noite de quinta-feira (16).

Assim como os restos mortais, o barco foi enterrado em uma área alagada da Floresta Amazônica, em um braço do Rio Itaquaí. 

"Colocaram sacos de terra nela para ela afundar. Tiraram o motor, afundaram o motor", contou o delegado Eduardo Alexandre Fontes, superintendente da Polícia Federal no Amazonas, em entrevista na noite de quarta.

Corpos estão sendo periciados em Brasília

Apesar de terem sido encontrados na noite de quarta, os corpos que podem ser do de Bruno Pereira e Dom Phillips só chegaram a Brasília na noite de quinta. Ambos desapareceram em 5 de junho, na região do Vale do Javari, no Amazonas.

A PF ainda procura mais suspeitos de participar da emboscada a Dom e Bruno. A corporação confirmou, na noite de quarta, que Pelado, um dos suspeitos investigados pelo desaparecimento de ambos confessou envolvimento no assassinato deles. 

Pelado levou agentes ao ponto onde estavam os restos mortais.

Uma terceira pessoa envolvida no crime foi presa na quinta. A informação é do assessor jurídico da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), Eliésio Marubo, em transmissão ao vivo.

“Houve um terceiro suspeito, sim, mas ainda não sabemos o nome desse terceiro suspeito”, disse Marubo durante a live. Durante a transmissão, ele afirmou que há ainda outras pessoas a serem presas, mas que a instituição não vai comentar o inquérito policial em andamento.

A entidade, que se dedica à proteção dos povos indígenas, é a mesma para a qual Bruno trabalhava após se licenciar da Fundação Nacional do Índio (Funai).

Investigação aponta pesca ilegal e conexão de crimes

A investigação aponta a pesca e a caça ilegal na região – e os conflitos decorrentes das atividades ilegais – como pano de fundo do crime. 

Policiais investigam um suposto financiamento da atividade ilegal de pesca e caça pelo narcotráfico na região, comum em praticamente toda a tríplice fronteira do Brasil com Peru e Colômbia. 

Caso seja confirmada a conexão com tráfico internacional de um eventual crime, o caso passará a ter natureza federal e será investigado apenas pela PF.

Acusado diz que dupla foi morta a tiros e corpos queimados e mutilados

Na noite de quarta, agentes encontraram restos mortais no local apontado por Pelado. Dom e Bruno desapareceram quando retornavam para Atalaia do Norte (AM), município mais próximo à terra indígena Vale do Javari. 

Eles foram perseguidos e alvos de tiros. Mortos, tiveram os corpos queimados e mutilados, antes de serem enterrados, numa tentativa de ocultação do crime, segundo o suspeito.

Durante as buscas pelo indigenista e pelo jornalista, uma equipe de indígenas conseguiu localizar uma mochila, roupas e um documento pessoal de Bruno Araújo, no rio Itaquaí. 

No domingo (12), mergulhadores do Corpo de Bombeiros do Amazonas foram ao local na tentativa de recolher mais objetos. Encontraram itens em uma árvore submersa, o que indica intenção de ocultamento. Tudo foi entregue à PF e também enviado a Brasília para perícia.

Também preso, irmão de Pelado nega participação

Além de Pelado, há outro suspeito de envolvimento no crime. Preso na terça-feira, Oseney de Oliveira, o Do Santos, é irmão de Pelado. Ele permaneceu em Atalaia na quarta para a audiência de custódia. A PF disse que Do Santos nega ter participado do assassinato.

Os irmãos moram na comunidade São Gabriel, ocupada por ribeirinhos que sobrevivem da pesca e da agricultura tradicional. Alguns, no entanto, teriam sido cooptados pelo crime organizado, ganhando para participar de um esquema de pesca ilegal, em maior escala.

A região é marcada por forte exploração ilegal do pirarucu e de tracajás, principalmente dentro da terra indígena. Traficantes de drogas alimentariam a pesca ilegal com barcos e equipamentos modernos, caros. 

O delegado Eduardo Fontes acredita no envolvimento de Do Santos e diz haver  indícios de participação de uma terceira pessoa no crime. Ele, no entanto, não quis falar sobre o narcotráfico. Alegou que o detalhamento de informações pode atrapalhar as investigações.

Sangue encontrado em barco de suspeito não é de indigenista

Na última sexta (10), a PF divulgou que havia encontrado o que poderia ser vestígios de material genético humano na região do rio Itaquaí, mas aguarda o resultado da perícia.

Os investigadores falaram na ocasião em material "aparentemente humano" nas proximidades do porto de Atalaia do Norte. Ele foi enviado para perícia em Brasília.

Nesta quinta, a PF informou que os trabalhos de perícia realizados na primeira leva de materiais biológicos encontrados durante as buscas a Dom e Bruno tiveram resultados inconclusivos

Em nota, a corporação afirmou que as amostras de sangue encontradas no barco de Pelado não são compatíveis com o material genético do repórter. 

As coletas feitas na embarcação foram analisadas com o material de DNA de Bruno, mas os resultados foram inconclusivos. As análises, no entanto, já indicaram que o sangue é de um homem. 

Os trabalhos foram conduzidos pelo Instituto Nacional de Criminalística e serão realizados exames complementares. Já nas vísceras humanas encontradas no rio, segundo a PF, há compatibilidade humana, mas não foi detectado nenhum DNA. 

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