Sem homenagem

Bolsonaro veta inclusão do nome da médica Nise da Silveira em livro sobre heróis

Ela é pioneira da terapia ocupacional e mudou os rumos dos tratamentos psiquiátricos no Brasil, que até então eram feitos com isolamento em hospícios e o uso de eletrochoque, lobotomia, entre outros procedimentos

Por Renato Alves
Publicado em 25 de maio de 2022 | 10:49
 
 
 
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O presidente Jair Bolsonaro (PL) vetou a inclusão do nome da psiquiatra alagoana Nise da Silveira no livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. Ela, que morreu em 1999, é pioneira da terapia ocupacional e mudou os rumos dos tratamentos psiquiátricos no Brasil, que até então eram feitos com isolamento em manicômios e o uso de eletrochoque, lobotomia, entre outros procedimentos.

Por ser contra tais métodos e considerada comunista, Nise foi presa em 1936. ficou 18 meses no presídio Frei Caneca, com o escritor Graciliano Ramos, que a converteu em personagem do livro Memórias do Cárcere. Ao sair da prisão, a médica viveu na clandestinidade por nove anos. 

Nise começou a atuar na medicina nos anos 1940, mas, por questionar os métodos usados em pacientes, foi punida com transferência para a área de terapia ocupacional, onde justamente encontrou o espaço necessário para desenvolver um modelo humanizado de tratamento aos transtornos mentais.

Uma das terapias desenvolvidas por Nise foi a expressão dos sentimentos pelas artes. A produção de alguns pacientes ganhou reconhecimento pela qualidade estética, além de ter demonstrado resultados positivos na recuperação. Parte das obras está exposta no Museu de Imagens do Inconsciente, no Rio de Janeiro. Esses trabalhos também estiveram no Museu de Arte Moderna de São Paulo.

Bolsonaro alegou que não é possível "avaliar a envergadura dos feitos da médica"

A inclusão de Nise da Silveira no rol de Heróis e Heroínas da Pátria havia sido aprovada pelo Senado em 27 de abril. Em seu veto, publicado no Diário Oficial da União desta quarta-feira (25), Bolsonaro alegou que não é possível "avaliar a envergadura dos feitos da médica" e o impacto deles no desenvolvimento do país. 

"Ao ouvir as pastas ministeriais, o Presidente da República decidiu vetar a proposição legislativa, pois prioriza-se que personalidades da história do País sejam homenageadas em âmbito nacional, desde que a homenagem não seja inspirada por ideais dissonantes das projeções do Estado Democrático", justificou a Secretaria-Geral da Presidência da República.

O livro com os nomes de homenageados como Machado de Assis, Leonel Brizola, Tiradentes e Zuzu Angel existe desde de setembro de 1989 e fica no Panteão da Pátria, monumento construído na Praça dos Três Poderes. Ele homenageia homens e mulheres que tiveram relevância em episódios históricos do país.

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