DIVIDENDO EXTRAORDINÁRIOS

‘Falar em intervenção na Petrobras é querer criar desinformação’, diz Prates

Presidente da Petrobras admite que Conselho seguiu orientação de Lula, mas nega que isso tenha sido uma intervenção

Por Manuel Marçal
Publicado em 14 de março de 2024 | 10:13
 
 
 
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O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, confirmou nesta quinta-feira (14) que o Conselho de Administração da estatal seguiu a orientação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre a retenção dos dividendos extraordinários. Por meio de uma rede social, Prates argumentou que não se trata de uma “intervenção” e que a ação do governo ao orientar os conselheiros foi algo “legítimo”, uma vez que a União é a maior acionista da empresa. 

“Falar em ‘intervenção’ na Petrobras é querer criar dissidências, especulação e desinformação.  É preciso de uma vez por todas compreender que a Petrobras é uma corporação de capital misto controlada pelo Estado Brasileiro, e que este controle é exercido legitimamente pela maioria do seu Conselho de Administração. Isso não pode ser apontado como intervenção! É o exercício soberano dos representantes do controle da empresa”, escreveu pela rede social X (antigo twitter). 

Como maior acionista da estatal, o governo possui 6 dos 11 membros do Conselho de Administração da estatal. Outros membros conselheiros representam funcionários e acionistas minoritários da empresa. Dessa forma, a União é controladora majoritária da Petrobras. “É legítimo que o CA se posicione orientado pelo Presidente da República e pelos seus auxiliares diretos que são os ministros. Foi exatamente isso o que ocorreu em relação à decisão sobre os dividendos extraordinários”, disse. 

Na semana passada a Petrobras divulgou o balanço financeiro relativo ao ano passado. Nele, foi apontado lucro líquido de R$ 124,6 bilhões. Dessa forma, havia uma expectativa do mercado de que seria realizado o repasse aos investidores dos R$ 43,9 bilhões em dividendos extraordinários. No entanto, a petroleira comunicou que faria apenas a distribuição dos dividendos ordinários (obrigatórios) e que alocaria a quantia extra em uma reserva de capital (caixa da própria empresa).

Essa decisão gerou uma crise interna do governo e com o próprio mercado, que interpretou o gesto como interferência do Palácio do Planalto. Os papéis da companhia sofreram uma forte desvalorização, chegando a perder, em um único dia, R$ 55 bilhões em valor de mercado. Inicialmente, o presidente da petroleira defendia que metade dos R$ 43,9 bilhões retidos em reserva fossem repassados aos acionistas. Mas ele foi voto vencido na decisão do Conselho de Administração da estatal, que seguiu a orientação do presidente Lula e dos ministros Alexandre Silveira (Minas e Energia) e Rui Costa (Casa Civil). 

Ainda nesta quinta-feira, Jean Paul Prates disse que o “mercado ficou nervoso esperando dividendos sobre cuja decisão foi meramente de adiamento e reserva”. “Somente quem não compreende (ou propositalmente não quer compreender) a natureza, os objetivos e o funcionamento de uma companhia aberta de capital misto com controle estatal pode pretender ver nisso uma intervenção indevida”, escreveu Prates. 

O “desabafo” do presidente da Petrobras  foi uma quebra de silêncio dele em relação ao tema. Após uma reunião tensa no Palácio do Planalto, na última segunda-feira (11), Jean Paul Prates afirmou à imprensa que não se pronunciaria mais sobre o assunto, e quem falaria sobre este tema era o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Os dois inclusive acumulam uma série de desentendimentos sobre a gestão da estatal. 

Mudança nos conselhos das estatais

A queda de braço entre Silveira e Prates respingou em outros órgãos e pode gerar um efeito cascata de mudanças nas demais estatais da União. Na terça-feira (12), Rui Costa informou que o governo vai fazer um “rodízio” nos conselhos de administração das estatais de forma a “oxigenar” os colegiados. 

“Esse rodízio nós vamos fazer em outros lugares, rodízio de pessoas de um conselho para outro. Até para oxigenar os conselhos das estatais a gente vai fazer com algumas pessoas esse rodízio. Não é exclusivo da Petrobras, nós haveremos de fazer esse rodízio em outros conselhos também", disse o ministro da Casa Civil. 

Novo comunicado da Petrobras

Em comunicado divulgado na quarta-feira (13), a petroleira informou ao mercado que vai pagar, no próximo dia 20 de março, a segunda parcela dos dividendos ordinários referentes ao balanço do quarto trimestre de 2023. Além disso, o governo federal sinalizou que os dividendos extraordinários podem ser pagos, mas que o Conselho de Administração da empresa vai discutir quando e como isso vai acontecer. 

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