FURANDO A BOLHA

Lula dá início a campanha ‘Fé no Brasil’ ao citar milagre e Deus em discurso

Governo federal tem criado estratégia para tentar furar a bolha e diminuir a rejeição do público mais conservador, sobretudo os evangélicos, a gestão petista

Por Manuel Marçal
Publicado em 04 de abril de 2024 | 13:51
 
 
 
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já colocou em prática o novo mote da campanha  “Bote Fé no Brasil” do governo federal. O petista usou várias vezes a palavra “Deus”, “fé” e fez menções a “milagres” ao discursar para o público que participou, nesta quinta-feira (4), da inauguração da Estação Elevatória de Água Bruta Ipojuca (PE), que pretende atender 20 cidades do agreste pernambucano.

O apelo religioso é uma tentativa do Palácio do Planalto de tentar furar a bolha para alcançar uma parcela da sociedade mais conservadora. Em especial, àquelas ligadas ao setor do agronegócio e ao público evangélico, que expressam forte rejeição à gestão petista, conforme identificado por pesquisas de opinião pública. 

Embora o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta, não admita que a intenção seja essa, ele declarou que o novo bordão “ajuda” às pessoas a prestarem atenção no governo federal. "O povo do Brasil é um povo de fé. Agora é evidente que a gente faz pesquisa, a palavra 'fé' ajuda as pessoas a nos ouvir", respondeu quando questionado se o slogan tinha objetivo de dialogar com segmento mais religioso da população. “A ideia de dizer ‘fé no Brasil’, é porque ‘Estamos no Rumo Certo’”, declarou fazendo referência a outra frase que completa a campanha. 

A obra de abastecimento, inaugurada nesta quinta, vai levar águas do Rio São Francisco para cerca de 20 municípios do interior de Pernambuco. Ao discursar, Lula utilizou várias vezes a palavra "milagre" e "fé" em referência ao fato dele ter se tornado presidente da República, bem como ter dado início, nas suas primeiras gestões, à transposição do rio. O petista, inclusive, iniciou o discurso perguntando quem ali acreditava em Deus e em milagres. 

“Só pode ocorrer esse milagre por causa da fé de vocês, por causa da crença de vocês. Se vocês não acreditassem, não tivessem fé, jamais vocês teriam votado para presidente da República em um pernambucano que não tem diploma universitário, um diploma primário, um curso  do Senai. Vocês voltarem em mim é um ato de fé, foi um ato de coragem, foi um ato de acreditar que um milagre estava para acontecer neste país”.

Nesse sentido, o petista lembrou que, como retirante nordestino do interior de Pernambuco, ele voltou à região décadas depois para anunciar fornecimento de água para a população. Ele também procurou destacar também o trabalho que o governo federal tem feito na área da educação, como a criação do programa “Pé de Meia”, de incentivo aos estudantes do ensino médio.

E foi ao falar sobre a importância de se combater a desigualdade social no país por meio de investimento na área da educação, que o petista adotou, pela primeira vez, o tom religioso.“Então, resolvi investir na Educação. E com a graças de Deus e com o milagre da fé, eu sou  o presidente que mais fez universidades neste país, que mais fez escolas técnicas neste país”, disse olhando para os céus e elevando as mãos. 

“O outro milagre que eu vejo é o milagre da crença”, continuou ao destacar a importância de que os pais e mães não perderem a fé no sonho dos filhos, mas que, para isso, o Estado precisa gerar oportunidades de educação e geração de emprego.

Ataque às fake news

Desde o início do seu terceiro mandato, ao falar sobre fé e religião, o petista tem atacado a maneira como a extrema-direita tem feito uso político do tema. Chegou a acusar os adversários, inclusive, de produzirem fake news nas campanhas de 2018 e 2022 com a pauta de costumes como forma de desacreditar a esquerda. 

Nesta quinta-feira, em Ipojuca, ele voltou a repetir que “Deus não é mentira” e usou palavras duras sobre as fake news. “Eu digo para a Janja todo dia: o mundo é difícil. Eu vejo a fábrica de mentiras das fake news, que vocês acompanham. Uma fábrica podre. Parece um bando de lixo, parece uma fossa que só fala mentira, só prega o ódio, só conta falsidade, inventa mentira todo dia, que a gente não pode acreditar, porque Deus não é mentira. Deus é a verdade e ninguém pode utilizar o nome de Deus em vão, como eles usam todo santo dia”, concluiu encerrando o discurso. 

'Fé no Brasil'

No mês passado, Paulo Pimenta e auxiliares do governo Lula negaram que exista uma política pública voltada para os evangélicos ou uma estratégia de comunicação específica para este público. No entanto, desde semana passada o ministro da Secom, Paulo Pimenta, tem feito uma série de reuniões no Palácio do Planalto com secretários-executivos e coordenadores de comunicação dos ministérios sobre a nova estratégia de comunicação do governo federal. Autarquias e bancos públicos também estão sendo convocados para os encontros.

Uma dos objetivos, segundo interlocutores ouvidos pela reportagem, é subsidiar a Secom com informações e programas das pastas que possam mostrar que "o Brasil está no rumo certo". O ministro Paulo Pimenta fez um apelo para que os ministérios deem mais destaque a todos aqueles temas que se encaixem no slogan "Fé no Brasil".

Outro alinhamento que houve na estratégia de comunicação, é que os ministérios e órgãos ligados ao Executivo federal terão autonomia nas execuções das campanhas publicitárias."Mas com bom senso", teria dito Pimenta em uma das reuniões. Ou seja, o foco é não perder o norte nas peças publicitárias e discursos de autoridades, de que o país está no rumo certo, e, por isso, o apelo "fé no Brasil".  

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