BRASÍLIA - O PT criticou o movimento do PL contra a deputada Camila Jara (PT-MS), que teria agredido o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) na quarta-feira (6/8) à noite durante a desobstrução do plenário. O Partido Liberal apresentou uma representação direta contra Jara à corregedoria da Câmara pedindo a suspensão do mandato dela por seis meses. O presidente Hugo Motta (Republicanos-PB) também remeteu ao corregedor 13 denúncias contra deputados de oposição que teriam dificultado a retomada do controle da Câmara. 

O líder do PT considerou injusta a ação. "É um absurdo a tentativa de afastar a deputada federal Camila Jara para criar uma falsa equivalência ou imparcialidade e forçar a ideia de punição 'aos dois lados'", afirmou Lindbergh Farias (PT-RJ). "Houve tumulto atrás da mesa, que gerou um ato reflexo de legítima defesa de uma mulher para proger sua integridade física contra um corpo em sua direção. Nós vamos recorrer dessa decisão absurda", completou.

As denúncias ainda serão recebidas pela corregedoria da Câmara, que recomendará ao presidente Hugo Motta a suspensão ou não dos mandatos. Em seguida, cabe a ele decidir se aceita as punições sugeridas. O processo ainda precisa passar pelo Conselho de Ética, e os deputados que compõem o grupo é que darão a palavra final. Se admitidas as punições, os parlamentares afetados estarão impedidos de participar das sessões da Câmara nesse período e não receberão seus salários; os gabinetes também serão desativados.

As representações enviadas por Motta começarão a ser analisadas na segunda-feira (11/8); elas têm como alvos os deputados:

  • Allan Garcês (PP-MA)
  • Bia Kicis (PL-DF)
  • Carlos Jordy (PL-RJ)
  • Caroline de Toni (PL-SC)
  • Domingos Sávio (PL-MG)
  • Julia Zanatta (PL-SC)
  • Marcel Van Hattem (Novo-RS)
  • Marco Feliciano (PL-SP)
  • Marcos Pollon (PL-MS)
  • Nikolas Ferreira (PL-MG)
  • Sóstenes Cavalcante (PL-RJ)
  • Zé Trovão (PL-SC)
  • Zucco (PL-MG)

O que aconteceu?

Deputados de oposição obstruíram fisicamente o espaço do plenário da Câmara na terça-feira (5/8) para impedir a realização de sessões e votações, obrigando a paralisia completa dos trabalhos. A condição colocada para eles para desocupar o plenário e encerrar o motim era uma indicação do presidente Hugo Motta de que suas duas pautas prioritárias seriam votadas: PL da Anistia e PEC do foro. Elas podem beneficiar diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Apesar de um acordo construído entre líderes partidários e o ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para liberação do plenário na quarta-feira (6/8) à noite, alguns deputados de oposição resistiram à ideia e continuaram sentados à mesa da presidência. Foi necessária articulação e apelos da própria oposição para que eles deixassem Hugo Motta chegar à própria cadeira. 

A avaliação é que os deputados agiram ostensivamente para impedir a retomada do controle do plenário pelo presidente. Cenas registradas mostram Marcel Van Hattem sentado à cadeira de Motta, impedindo-o de iniciar a sessão. Quem também agiu assim foi o deputado Zé Trovão, que colocou a perna na chegada à mesa para evitar a passagem do presidente.

A desobstrução do plenário foi tão caótica quanto as horas que a antecederam. Em reunião com líderes na quarta-feira à tarde, quando a obstrução física ultrapassava um dia de duração, Motta ameaçou punir os deputados que não liberassem o plenário. Àquela altura, a oposição reagiu mal e decidiu que não sairia, e naquele momento apenas os deputados podiam entrar no espaço. Nikolas Ferreira (PL-MG), no interior do plenário, iniciou uma transmissão ao vivo para seus seguidores e dobrou a aposta com Motta. A ameaça do presidente não foi tratada com seriedade por parlamentares; um aliado questionou: "Vai punir todo mundo? Suspender o mandato de cem deputados?".

Camila Jara

O líder do Partido Liberal na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), apresentou uma representação na corregedoria contra a deputada Camila Jara (PT-MS), que teria agredido o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) na quarta-feira (6/8) durante a desobstrução do plenário.

"Apresentamos hoje à corregedoria da Câmara a representação por quebra de decoro com pedido de suspensão cautelar do mandato", publicou Sóstenes nesta sexta-feira (8/8). "Violência não é argumento. Imunidade parlamentar não é salvo-conduto para agressão", completou. A representação é assinada pelo PL e também pelo Partido Novo; eles são aliados na oposição.

A representação contra Camila Jara retrata a mudança na postura do líder do PL. Na quinta-feira (7/8), Sóstenes subiu à tribuna do plenário da Câmara para pedir perdão ao presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), por conversas que eles tiveram durante a obstrução da oposição. Durante a declaração, o líder disse ter conversado com Nikolas sobre o ocorrido e garantiu que o partido não representaria contra a deputada do PT.

"Acho que muitos colegas aqui, no calor da emoção, seja da esquerda, porque eu vi uma colega da esquerda agredindo o deputado Nikolas. Ela não foi feliz. Nós não estávamos emocionalmente estruturados para aquilo", disse. "E, se depender de mim, presidente, conversei ontem [quarta-feira, 6] com o deputado Nikolas. Se depender do PL, nós não vamos representar contra a deputada da esquerda. Sabe por quê? Porque ela emocionalmente estava como todos nós, inclusive eu", completou.

O pedido de suspensão do mandato da deputada é também uma resposta do PL às representações que os petistas protocolaram contra parlamentares que participaram da obstrução do plenário.

A oposição acusa a deputada Camila Jara de ter agredido o deputado Nikolas Ferreira durante a retomada do controle do plenário pelo presidente Hugo Motta na quarta-feira à noite. A parlamentar do PT contesta a acusação e garante que não "nocauteou" o colega. A confusão aconteceu durante empurra-empurra no final da sessão, quando Motta se preparava para deixar o plenário. Ele estava cercado por outros deputados que disputavam espaço ao redor dele. Em um momento, Nikolas cai.

O deputado diz ter sido agredido por Camila Jara. Imagens registradas pela Câmara dos Deputados mostram a cena. A deputada nega agressão. "Não houve soco ou qualquer outro ato de violência deliberada, como alardeado nas redes sociais por publicações direcionadas", declarou em nota.