'Galápagos do Brasil'

Marinha fará exercício com tiros de canhão em paraíso ecológico no litoral de SP

Marinha brasileira marcou para 16 e 17 de agosto o exercício militar no Arquipélago de Alcatrazes, berço de 1300 espécies de aves, répteis e mamíferos, muitas delas em extinção

Por Renato Alves
Publicado em 09 de agosto de 2022 | 15:11
 
 
 
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A Marinha do Brasil anunciou um exercício militar, com tiros de canhão de embarcações, no Arquipélago dos Alcatrazes, em 16 e 17 de agosto. Localizado no litoral norte do estado de São Paulo, o conjunto de ilhas é o maior sítio reprodutivo de aves marinhas da costa brasileira. A maior delas, que dá nome ao arquipélago, tem uma grande diversidade de plantas e animais, muitas ameaçadas de extinção e que não ocorrem em nenhum outro lugar do planeta.

A Marinha do Brasil começou a usar o Arquipélago de Alcatrazes como área de treinamento no início dos anos 1980, durante a ditadura militar. Em 2004, um disparo efetuado contra o arquipélago em um exercício militar provocou um incêndio que destruiu 20 hectares de mata nativa e resultou na morte de milhares de animais. Em 2013, em meio à pressão de ambientalistas, a Marinha baniu os tiros em Alcatrazes. 

O local recebeu proteção legal ao ser decretado como Refúgio de Vida Silvestre, convertendo-se na segunda maior unidade de conservação integral da Marinha. A visitação por turistas foi aberta no fim de 2018, de forma bastante controlada – o desembarque nas ilhas ainda é proibido. 

No entanto, em novembro de 2021, na gestão de Jair Bolsonaro (PL), ignorando os repetidos apelos de ambientalistas e conservacionistas e até  recomendações de órgãos governamentais como o ICMBio, a Marinha do Brasil anunciou que retomaria os exercícios militares no arquipélago. Conforme o ofício nº 116/CASOP (Centro de Apoio a Sistemas Operativos), a operação marcada para 16 e 17 de agosto, com tiros ao alvo, acontecerá na segunda maior ilha do arquipélago, Sapata.

Em resposta, moradores do Litoral Norte e ambientalistas se uniram em protestos, organizando um abaixo-assinado que já conta com 7,5 mil assinaturas. Eles ressaltam que a data do exercício coincide com o período reprodutivo das aves e dos peixes, além da migração de baleias. Mesmo sendo realizado na Ilha Sapata, a execução causaria impactos significativos à fauna silvestre, principal objeto de conservação do refúgio, alertam.

Estudo do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres aponta que perturbações no ninhal em época reprodutiva podem causar até 75% de perda de filhotes e ovos das fragatas, por causa do comportamento de sabotagem dos machos não pareados quando os ninhos ficam desprotegidos, após uma revoada brusca dos pais. Impactos em outros grupos da fauna estão sendo estudados.

Distante 48km da costa de São Sebastião, o arquipélago também é um dos mais importantes berçários de peixes do continente. Entre outras coisas, tem uma população de 10 mil aves, com 93 espécies ameaçadas de extinção e 20 espécies endêmicas (que só ocorrem naquele local). Por isso, Alcatrazes também é conhecida como “Galápagos do Brasil”.

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