Um fato inusitado tem deixado os deputados estaduais de Minas atônitos: a continuidade da gestão petista nas estatais. Nada menos que BDMG, Cemig, Codemig, Copasa, MGS e Cohab (fora subsidiárias) ainda contam com presidentes e diretorias integralmente nomeados por Fernando Pimentel. Juntas, as empresas controlam ativos mais valiosos do que um ano de Orçamento do Estado e chegam a pagar salários 800% maiores do que o do próprio governador.

Com R$ 40 bilhões em ativos e R$ 23 bilhões de receita líquida no balanço de 2018, a Cemig foi alvo de escrutínio da comissão de transição do atual governo. Mateus Simões, coordenador desta, chegou a afirmar, em recente entrevista, que “só o grupo Cemig teria algo de 700 empregados, ao custo de folha de R$ 500 milhões por ano” – um custo médio de quase R$ 55 mil mensais por indicado. Dos que consegui identificar, oito dos 11 diretores atuais doaram, sozinhos, R$ 149 mil à campanha do petista em 2018. Se estes ainda estão lá, é bem provável que os outros 689 ainda estejam também – e só Deus sabe quanto estes doaram, uma vez que a caixa-preta da empresa é desconhecida até para a Assembleia.

Nesta semana, o governo de Minas desistiu, judicialmente, de uma operação bizarra que tentava a venda de parte da Codemig camuflada como um empréstimo de R$ 2 bilhões para a MGI. Mesmo assim, os responsáveis pela operação, advindos do governo anterior, continuam à frente dessas estatais. A atual diretora-presidente da Copasa, que comanda a empresa há quatro anos, trabalhou, antes disso, nas prefeituras de Ribeirão das Neves e Belo Horizonte durante gestões petistas, com intervalos de serviço aos governos Lula e Dilma Rousseff. No comando do BDMG está Nelson Barbosa, ex-ministro da Fazenda de Dilma nos últimos meses do seu governo. Com diferentes nomes em diferentes empresas, a história se repete por toda a administração indireta do Estado.

Durante a campanha, o governador Romeu Zema foi claro ao dizer que “as empresas estatais estão subvalorizadas, devido a uma gestão desastrosa”, e que, para mudar tal quadro, a solução seria uma “gestão profissional”. É exatamente isto que deixa os deputados atônitos: ao contrário do processo de seleção para secretários de Estado, onde o Novo navega por territórios inexplorados, a escolha dos gestores das estatais deveria ser lugar comum para o partido do governador, formado por empresários extremamente bem-sucedidos e respeitados.

Da minha parte, eu interpreto o movimento atual mais como cautela. Como ainda não sabe quais estatais poderá privatizar ou como isso será feito, é possível que o atual governador ainda resista a mexer no vespeiro estatal. Se isso for verdade, meu conselho vai justamente na contramão: é preciso mudar rápido e profundamente todas as estatais e subsidiárias do Estado, de maneira a alinhar o pensamento de suas diretorias ao programa proposto durante a campanha. A real situação interna das empresas só poderá ser verdadeiramente diagnosticada com pessoas de confiança do governador no comando.

Acima de tudo, não custa nada lembrar: num país cujas eleições foram definidas pelo escândalo do petrolão, a inércia pode ter consequências e repercussões graves na formação da base e na confiança dos seus eleitores.