Caminhamos para o desfecho do primeiro ano do novo ciclo político brasileiro. Como sabemos na definição jobiniana, “o Brasil não é para principiantes”. Os dias foram turbulentos. A economia dá sinais de retomada. Juros e inflação baixos, reformas em curso, portanto o copo está meio cheio. Mas, por outro lado, o desemprego continua elevado, as desigualdades, crescentes, a instabilidade política ainda ameaça a confiança, a situação fiscal é gravíssima. O Pisa nos colocou em 59º lugar entre 79 países. O IDH nos destinou a 79ª posição entre 189 países. Inevitável enxergar o lado meio vazio do copo.
A velha raposa mineira, o ex-governador Hélio Garcia, sempre advertia sua equipe em relação ao “gesto inútil”. Se uma fala ou um ato criassem muito barulho e nenhum resultado, deveriam ser evitados. Fico me perguntando qual o ganho em cutucar o grande ator internacional Leonardo DiCaprio, a personalidade do ano eleita pela “Time”, a “pirralha” ambientalista Greta Thunberg, ou o novo governo argentino? Ou abrir mão de receber a COP 25 e jogar fora o protagonismo brasileiro na questão ambiental? Ou agredir artistas brasileiros, sonhar com a volta do AI-5 e negar a discriminação racial em nossa história? Enfim, estilo é estilo.
Entre as boas notícias está o surgimento de novas lideranças, sendo o atual governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, com seus 34 anos, talvez o maior exemplo. A consistente e corajosa entrevista dada ao “Valor”, no último dia 3, revela maturidade, clareza de diagnóstico e objetivos, habilidade política, serenidade, equilíbrio e um novo perfil de líder político. Mas o retrato revelado por ele é assombroso. Como podemos imaginar ser sustentável uma situação em que existem 100 mil professores aposentados e apenas 50 mil em sala de aula, ou 35 mil policiais militares na reserva para 16 mil na ativa? Isso resulta num déficit previdenciário anual de R$ 20 bilhões, numa dívida de 233% da receita líquida anual, em salários atrasados e em um investimento pífio de 0,3% do PIB gaúcho. Mas o jovem governador desencadeou um ousado programa de ajustes e reformas para colocar as coisas nos trilhos. Como ele mesmo disse na entrevista: “Não existem soluções simpáticas para uma situação dramática como essa”.
O Congresso Nacional, sob a liderança de Rodrigo Maia e com a ativa participação de David Alcolumbre, nunca produziu tanto, apesar da cortina de fumaça da radicalização retórica dos extremos. Não foi pouca coisa em um ano: aprovou pacote anticrime, corrigindo os equívocos da excludente de ilicitude e do acordo de “plea bargain”, garantiu segurança jurídica à questão da prisão em segunda instância, reformou os marcos regulatórios das telecomunicações e do saneamento, introduziu mudanças importantes no sistema previdenciário, votou a nova lei de proteção de dados, o cadastro positivo, as mudanças no ISSQN, entre outras importantes decisões. O único tropeço foi na questão do Fundo Eleitoral, em momento de grave restrição fiscal. Não importa o bate-boca extremado se as mudanças legais, necessárias para a modernização do país, avançarem. Vale a máxima: “Enquanto os cães ladram, a caravana passa”.
Que no futuro imediato os “gestos inúteis” sejam poucos e que as ações para melhorar nosso desempenho no Pisa e no IDH prevaleçam.