Dados do Censo 2022 divulgados recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que há 10.524.280 mulheres em Minas Gerais, número que corresponde a 51,24% da população mineira.
Entretanto, a presença delas nos postos institucionais de poder não seguem a mesma proporção. No caso das prefeituras, de acordo com dados da Justiça Eleitoral, entre as 853 cidades mineiras, apenas 64 elegeram mulheres em 2020, o que corresponde a 7,5% do total de chefes dos Executivos municipais do Estado.
Elas também não estão proporcionalmente representadas nas câmaras municipais, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) e no Congresso Nacional. Sem contar o fato de que o Estado nunca foi governado por uma mulher. Mas o que pensam e dizem as mulheres que ocupam esses espaços?
"As violências que nós, mulheres, sofremos no espaço político são diversas e cotidianas, desde os comportamentos mais sutis, como 'brincadeiras' até os ataques mais bárbaros, e para garantir maior participação da mulher na política, além de instrumentos para incentivar as candidaturas, é preciso ter condições para exercermos os mandatos com respeito, segurança e dignidade. Representatividade importa e importa muito. Não existe democracia sem a presença das mulheres, nós representamos 52% da população. É inadmissível que não estejamos nesse espaço de decisão política para tratar sobre aquilo que vai impactar 50% da população. A gente precisa pensar em várias estratégias, como intensificar a fiscalização das cotas, da participação das mulheres nas chapas e dos recursos destinados às candidaturas femininas". Ana Paula Siqueira, deputada estadual e presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher na ALMG
"A violência política retrai muito a atuação política do nosso mandato. A gente perde uma energia enorme para se proteger, limita as nossas agendas e interações com os nossos eleitores, com os cidadãos, a gente viaja menos, enfim, a violência política, de alguma forma, ela sequestra, de fato, os nossos mandatos. A gente tenta manter a vida e os nossos mandatos o mais regular e comum possível, mas ainda assim temos que despender uma energia extraordinária para conseguir nos defender. Para além disso, a violência política e o machismo, a misoginia, muitas vezes gera obstrução do nosso trabalho legislativo dentro da Assembleia também. Requerimentos e comissões que deveriam ser pautados com democracia são pautados a partir de um clima de violência que se estabelece contra nós dentro da casa". Bella Gonçalves, deputada estadual
"Eu vejo que a violência política de gênero tem crescido de uma maneira muito assustadora nesses últimos anos e isso, obviamente, tem como objetivo principal afastar as mulheres da arena pública. Não é outro, senão esse, o objetivo desses ataques que as parlamentares, como eu, sofrem, estão sofrendo atualmente. E, para reverter esse quadro, é preciso que haja uma mobilização da sociedade, das instituições, a criação de protocolos, a responsabilização das pessoas envolvidas nesse crime, porque a ameaça já é o crime, a violência política de gênero já é o crime, não é preciso que seja cometido mais nada, isso já é o crime, então é preciso que haja apuração e responsabilização e que a gente consiga trazer para a sociedade essa ideia de que quanto mais mulheres estiverem participando, mais democracia nós teremos, e não o contrário". Cida Falabella, vereadora de Belo Horizonte
"O ambiente político precisa ser percebido pelas mulheres como uma das possibilidades de atuação, se elas assim quiserem. Como toda profissão é preciso gostar, ser vocacionado e ter preparo para exercer a carreira. O preparo não pode ser negligenciado, pois determinará a permanência nos cargos eletivos e fará a jornada ser mais leve. Meninas e mulheres jovens podem despertar, serem incentivadas e se prepararem para tal. Para isso, é muito importante que nós mulheres que já ocupamos cargos eletivos possamos através do nosso exemplo, inspirar e despertar em outras mulheres essa possibilidade, temos uma grande responsabilidade com a próxima geração política". Flávia Borja (PP), vereadora e presidente da Comissão das Mulheres na Câmara Municipal de Belo Horizonte
"Nós precisamos avançar com a legislação eleitoral no Brasil. O que hoje nós poderíamos fazer é o que já está sendo praticado em vários países no mundo, que é garantir uma cota no número de vagas para as mulheres no Legislativo. Os países que fizeram isso aumentaram significativamente a representação das mulheres na política e no Legislativo. Hoje no Brasil nós avançamos na cota de participação das mulheres na formação de chapas, avançamos também no financiamento para as mulheres, os partidos têm uma obrigatoriedade no financiamento para as mulheres, mas ainda tem muita manipulação desse processo. Então, eu creio que é avançar agora na reserva de cotas para as mulheres nas vagas do Legislativo, aí sim eu acho que a gente vai aumentar a representação das mulheres". Marília Campos (PT), prefeita de Contagem