Se na futura gestão Jair Bolsonaro (PSL) as privatizações são tratadas como prioridade, o mesmo não se aplica a Minas Gerais. Apesar de previstas no plano de governo do Partido Novo, Romeu Zema esfriou o discurso sobre a venda de estatais a partir da reta final da campanha eleitoral, e o tema dificilmente será alvo de debates no curto prazo no governo estadual.
Com uma dívida líquida de R$ 105,6 bilhões acumulada até o segundo quadrimestre de 2018, o Estado poderia ganhar um fôlego com a privatização de empresas como a Companhia Energética de Minas (Cemig) e a Companhia de Abastecimento de Minas (Copasa). Juntas, as estatais estão avaliadas em cerca de R$ 24,5 bilhões – R$ 18 bilhões da Cemig e R$ 6,5 bilhões da Copasa.
O problema é que, na avaliação do futuro governo, ambas as empresas estão desvalorizadas e o mais lógico neste momento seria trabalhar pela reestruturação das duas para, no futuro, voltar a falar sobre eventuais vendas.
“Quando você tem uma empresa, quando você vai fazer qualquer tipo de ação, nesse caso a questão de se fazer ou não a privatização, você tem duas formas. Ou você vende da maneira como está ou tenta fazer uma melhora no ativo para que ele seja valorizado de uma forma melhor. O que tem todo sentido econômico”, explicou o futuro secretário de Fazenda de Zema, Gustavo Barbosa.
Cenário
Para o economista e coordenador do curso de administração do Ibmec, Eduardo Coutinho, a estratégia que o futuro governo estadual pretende adotar em relação às privatizações faz sentido. “A Cemig passou por algumas dificuldades financeiras e está em processo de reestruturação. Então, acho que a empresa está muito barata para ser vendida agora. Faz mais sentido recuperar as empresas, torná-las rentáveis, melhor organizadas, mais racionalizadas e, aí sim, dentro dessa valorização, pensar em como fazer a privatização”, analisou.
Ainda segundo Coutinho, a venda de estatais mineiras pode, e deve, acontecer no futuro, desde que o processo ocorra sem atropelos e respeitando o consumidor. “A questão da privatização não é se deve ou não, eu não tenho dúvida nenhuma que deve. Ela não deve ser feita de maneira açodada, de forma que você entregue um monopólio público ao setor privado. Tem que se criar um mecanismo que viabilize uma privatização que assegure ao consumidor alguma concorrência no setor para que o serviço seja feito de forma mais barata e de melhor qualidade”, disse.
Já para o professor do Insper e autor do livro “Capitalismo de Laços, os Donos do Brasil e Suas Conexões”, Sérgio Lazzarini, a questão fiscal dos Estados vai muito além das privatizações. “O grande ‘X’ da questão nos Estados chama-se salários e aposentadorias. Claro que as estatais entram nessa equação, mas o grosso é com essas coisas que falei. Se eu fosse gestor público, eu colocaria foco nisso, porque já demanda uma articulação política muito forte”, analisou Lazzarini.
Vale a pena?
“Só” R$ 3 bi. Avaliada hoje em cerca de R$ 18 bilhões, a Cemig renderia ao governo de Minas, numa eventual privatização, R$ 3 bilhões. Isso porque o Estado é dono de apenas 17% da empresa.
Minientrevista
Gustavo Barbosa
Futuro Secretário de Fazenda na gestão Zema
O governador eleito descartou, momentaneamente, a venda das principais estatais. Retomar esse assunto faz parte dos planos?
A proposta do governador é ver a eficiência das empresas, observar a posição do Estado nas empresas. A gente tem que analisar e ele (Zema) colocou que a avaliação é de ir para um caminho de você privatizar algumas estatais. Isso faz parte, inclusive, do programa do Novo. Então, até onde eu sei, permanece esse indicativo de que, primeiro, fazer mais valor do ativo, e, depois, se assim acontecer, que haja a continuidade desse processo.
Há um cronograma para que isso ocorra?
Não, é prematuro. Minas é um mundo e a gente está muito focado nos diagnósticos corretos, tentando avaliar as contas públicas do Estado. É um diagnóstico bastante complexo e que vai ser demorado, não tem jeito.