Estratégias

Reeleição pode ser ‘salvação’

De olho em 2018, citados na Lava Jato correm para se manter no cargo e, com isso, garantir foro

Por Luiza Muzzi
Publicado em 18 de junho de 2017 | 03:00
 
 
 
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Os brasileiros só voltarão às urnas daqui a pouco mais de um ano e três meses, mas, para muitos políticos citados na operação Lava Jato, a corrida para garantir a reeleição já começou. De estratégias jurídicas a manobras no Legislativo, o que não faltam, em meio à enxurrada de denúncias, são tentativas dos citados para se agarrarem aos cargos e salvarem a própria pele, sob a proteção do foro privilegiado.

“O contexto é muito diferente, são muitos políticos acusados, então, certamente, as eleições de 2018 serão diferenciadas. Se essas investigações vão puni-los ou se isso vai para debaixo do tapete ainda não está certo. Mas há uma tentativa da classe política de barrar um pouco as investigações, para que estejam aptos a se candidatar”, avalia Sonia Fleury, doutora em ciência política e professora da Fundação Getulio Vargas (FGV) Rio.

As recentes investidas para aprovar, no Congresso, projetos como a anistia ao caixa 2, a lei de abuso de autoridade, o prolongamento de mandato e a instituição do voto em lista fechada são apenas alguns exemplos de atitudes dos parlamentares que têm gerado incômodo e desconfiança em parte do eleitorado por possibilitarem, em tese, uma proteção legal aos próprios políticos.

“Todos esses mecanismos que podem ajudá-los são tentativas de reduzir a possibilidade de serem lesados. Parte disso surge no momento em que começa a ficar mais claro o maior número de envolvidos nos esquemas”, analisa Maria do Socorro Braga, professora de ciência política da Universidade Federal de São Carlos.

Judiciário. Ao mesmo tempo em que tentam blindar-se no Legislativo, políticos investigados pela Lava Jato também têm adotado certas posturas para garantirem sua defesa na esfera jurídica. Na avaliação do cientista político Lucas Cunha, pesquisador da UFMG, entre as estratégias estão a tentativa de desmoralizar práticas da operação, especialmente no que se refere à seletividade na forma de conduzir as investigações. 

À Justiça, os acusados têm alegado que suas contas foram aprovadas, além de dizerem que as denúncias estão sendo baseadas apenas em delações, faltando provas contundentes. Outra tentativa é focar na existência de caixa 2, para escapar de condenações por corrupção, e culpar o antigo sistema de financiamento de campanhas.

Defensor de 18 políticos no âmbito da Lava Jato, o criminalista Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, é um dos que frequentemente insistem em mostrar supostas falhas na condução da operação. Sem entrar em detalhes, o advogado diz que as estratégias de defesa de seus clientes variam caso a caso, mas ressalta que “excessos” fazem com que a opinião pública seja induzida a um “julgamento precipitado”.

“O vazamento das delações, quando elas são feitas antecipadamente, como acontece quase todas as vezes, é um pré-julgamento e uma pré-condenação porque expõe a pessoa e induz o Judiciário a fazer juízo de valor muito severo, e, evidentemente, a exposição é uma pena sem previsão legal. E mesmo quando há autorização pelo Supremo, o que acontece é que a lei diz que divulgação só deve se dar após a denúncia”, critica.

Para Kakay, os delatores frequentemente se contradizem. “É um gotejamento de versões falsas. Entregou dinheiro para fulano. Cadê a prova?”, questiona.

Banco dos réus

“O eleitor não está fazendo essa distinção entre os políticos porque a informação não está sendo distinguida. Há uma condenação antecipada. Para o eleitor, o político estar sendo investigado já o coloca no banco dos réus. E isso vai se refletir claramente no próximo pleito. Todos foram colocados no mesmo saco, até quem não deveria estar ali.”
Geórgia Nunes
direção da Abradep

Reputação

“Todos têm direito à ampla defesa e ao contraditório, porém, no ambiente político, nem sempre um fato jurídico tem a mesma materialidade que uma reputação. Reputações podem ser colocadas em xeque nas urnas por conta de denúncias e elementos políticos. Candidatos com muita rejeição vão trabalhar mais para desconstruir essa rejeição do que para tentar crescer.”
Lucas Cunha
Cientista político 

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