Na série de análises sobre as candidaturas colocadas à Presidência da República, hoje é dia de falar do nome de Leonardo Péricles, do partido Unidade Popular. Evidentemente, ninguém é ingênuo de achar que o caçula dos partidos políticos no Brasil entra na corrida ao Planalto para eleger o presidente, mas em uma eleição todos disputam alguma coisa: a difusão das ideias, a manutenção da existência de um partido, seu crescimento ou a continuidade de uma trajetória política, por exemplo. É o caso de Léo Péricles.
Do ponto de vista dos trunfos que tem para alcançar alguma relevância na disputa eleitoral, é preciso enfatizar que o Unidade Popular é uma alternativa nova, arejada e que traz consigo um ideal. Ao contrário de outras legendas que surgem em busca de fundo partidário e negociações por cargos, trata-se de uma sigla que surgiu com uma ideia construída no Movimento de Luta nos Bairros Vilas e Favelas (MLB). O grupo pressiona por uma reforma urbana que consiga sanar os crônicos problemas de moradia que a desigualdade impõe no país. Portanto, a candidatura de Léo Péricles tem um propósito e tem uma mensagem a passar.
Também é importante para o movimento negro, que convive com a sub-representação política e que precisa de mais vozes a alertarem para o racismo estrutural persistente no país. São raros os candidatos negros a cargos executivos e, sobretudo, à Presidência da República.
Além disso, é uma oportunidade para o surgimento de uma nova liderança, autônoma, na esquerda. Nos ultimos anos, com a hegemonia do PT e do comando do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a esquerda sofreu para fazer despontar outras alternativas. Léo Péricles, um morador de ocupação de Belo Horizonte, que liderou movimentos estudantis, foi diretor da União Brasileira de Estudantes Secundaristas (Ubes) e presidente da Associação Metropolitana de Secundaristas da capital mineira (Ames-BH) tenta ocupar um espaço nesse processo político.
Mas é claro que os desafios são muito maiores que os trunfos, ainda que o objetivo seja apenas passar a mensagem e pontuar discretamente na corrida presidencial. Como todos os nomes de esquerda, Léo Péricles tende a ser aniquilado pela candidatura de Lula. Sobra pouco espaço para que nomes do campo consigam alguma representatividade com uma candidatura tão grande nessa ala do eleitorado. Atingir 1% dos votos será tarefa muito difícil, sobretudo com a pregação do voto útil para que a eleição seja liquidada pelo petista no primeiro turno.
Também há como peso enorme a se carregar o fato de que a legenda nem mesmo aparecerá na televisão, terá espaço na imprensa ou dinheiro de fundo partidário ou eleitoral para fazer campanha. Provavelmente, a maior parte dos brasileiros terminará a a disputa eleitoral sem nunca ter ouvido o nome de Leonardo Péricles ou sem saber um detalhe sequer sobre sua vida.
E, claro, sem dinheiro de fundo partidário, e sem a capacidade de arcar, do próprio bolso com a campanha - ressalto que Léo Péricles declarou patrimônio de R$ 197 em uma conta poupança - divulgar a candidatura e andar pelo país é tarefa quase impossível. Até mesmo pela ausência de palanques que possam sustentar seu nome fora de Belo Horizonte, de onde também é a vice, a dentista Samara Martins, ou de Natal, onde ela vive atualmente. Em uma eleição extremamente polarizada e com o primeiro duelo de presidentes da história da redemocratização, ser nanico e novato é tarefa ainda mais complicada.