Política em Análise

A candidatura de Nilmário Miranda

Postulante do PT passou ileso aos escândalos da esquerda mas vai enfrentar rejeição trazida pela legenda

Por Ricardo Corrêa
Publicado em 16 de setembro de 2020 | 10:24
 
 
 
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Antes de qualquer coisa é preciso explicar: tenho feito a análise das candidaturas à Prefeitura de Belo Horizonte na ordem da escolha das convenções. Hoje, por esse critério, seria a vez de Wendel Mesquita (Solidariedade). Mas como ainda há debates de última hora em torno dela e de uma possível aliança com o Avante, analisarei primeiro o nome de Nilmário Miranda (PT). Mais adiante, confirmando-se a candidatura de Wendel, falamos dele.

No caso de Nilmário, entre os pontos que podem ajudá-lo na campanha está o fato de que foi uma figura da esquerda que passou incólume às crises políticas que atingiram seu partido e outros políticos de sua época. Entre presos, acusados e denunciados não se viu o nome dele que, por isso, acabou retomando o fôlego para continuar relevante na vida pública mesmo diante da derrocada da esquerda brasileira e de seus aliados.

Além do mais, Nilmário é uma figura que consegue dialogar melhor do que outras na esquerda. Ele tem, inclusive, um perfil até um pouco semelhante ao de outra figura do PT que teve êxito em Belo Horizonte: Patrus Ananias, que terminou a administração bem avaliado como prefeito, embora depois tenha fracassado em outra tentativa de se eleger para o cargo.

Destaco ainda o fato de que o PT sabe bem disputar as eleições e tem uma militância que sempre coloca o candidato do grupo em um segundo patamar já no início da disputa. Assim, mesmo enfrentando a maior crise de sua história, a legenda conseguiu levar Fernando Haddad ao segundo turno das eleições presidenciais. Não é feito a se desprezar.

Por outro lado, é fato concreto que o PT encarna enorme rejeição. Talvez hoje só o PSDB alcance tamanha rejeição e dificulte tanto a vida de um candidato, como se vê nas pesquisas e no enfraquecimento dos últimos anos. E isso, claro, será um peso para Nilmário carregar, principalmente caso consiga chegar a um segundo turno. 

Além disso, o fato de estar já há tanto tempo na política sem conseguir êxito em disputas ao Executivo é um ponto claro a se considerar. Se já estava difícil para Nilmário quando seu partido vivia a crista da onda, imagine agora que as pessoas demonstram interesse em renovação e afastam os políticos mais tradicionais?

Por fim, tem ainda a própria divisão da esquerda, que vai provocar um confronto direto com uma candidata que demonstra mais vitalidade eleitoral que ele. Áurea Carolina (PSOL) não será a única. Ainda há a concorrência na esquerda de Wadson Ribeiro, do PCdoB, partido que tem caminhado frequentemente ao lado do PT nos últimos anos e, neste ano, abandonou esse barco para um caminho próprio. Diante dessa divisão da esquerda, será ainda mais difícil para Nilmário convencer o eleitorado desse espectro político.

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