A notícia de que o ato do próximo dia 15 em apoio ao presidente da República tem gerado desavenças entre apoiadores de Jair Bolsonaro por conta da definição da pauta de reivindicações demonstra, mais uma vez, que não é possível hoje ser lava-jatista e bolsonarista ao mesmo tempo. Ou se apoiam as pautas que foram geradas pela maior operação de combate à corrupção da história do Brasil ou se apoia a política do atual governo. As duas coisas não se misturam.

Embora Bolsonaro tenha sido eleito na onda gerada pelas revelações de escândalos monstruosos de antigos políticos feitas a partir das investigações da Lava Jato, o presidente não tem se comportado, de forma nenhuma, como defensor das pautas de combate à corrupção, ainda que em seus discursos tente mostrar o contrário.

O exemplo claro é dado na questão do apoio ao projeto de lei (ou à proposta de emenda constitucional) que retoma a possibilidade da prisão após a condenação em segunda instância. Bolsonaro é contra por uma razão muito simples: seu filho mais velho, Flávio Bolsonaro, está encrencado no Rio de Janeiro e pode muito em breve ir parar atrás das grades caso o cumprimento da pena seja acelerado por essa mudança de legislação.

Os grupos em defesa do bolsonarismo estão bombardeando aqueles que querem incluir na manifestação do dia 15 o apoio à aprovação do projeto que autoriza a prisão em segunda instância. É o principal tema que o Congresso empurra com a barriga atualmente, com discussões paralisadas na Câmara e no Senado, mesmo com as maiorias das duas Casas dizendo-se, na frente das câmeras, favoráveis à mudança. 

E por qual motivo o grupo mais ideológico de apoio ao presidente não quer que se peça a segunda instância na manifestação? Por que este não é o interesse do presidente. Bolsonaro quer, na verdade, confrontar o Congresso para manter a popularidade, pois já aprendeu que deputados e senadores são execrados por boa parte da população. No entanto, na questão da segunda instância, presidente e parlamentares estão do mesmo lado.

É pelo mesmo motivo que Bolsonaro também não fez questão nenhuma de apoiar o projeto do ministro Sergio Moro para o pacote anticrime. Tanto que manteve no texto aprovado pelo Congresso a criação do juiz de garantias, mesmo sendo este um tema que a Lava Jato abomina. 

O presidente sempre alega que não pode ficar desagradando ao Parlamento, mas só agora, quando a discussão é sobre R$ 30 bilhões do Orçamento, é que o presidente está espalhando vídeos e convocando manifestação contra o Congresso. Por qual motivo não fez isso para salvar o pacote anticrime? E por qual motivo não vetou a criação do juiz de garantias e convocou a população a ir às ruas para pressionar o Congresso a manter o veto? A resposta é a mesma: porque Bolsonaro não é contra o juiz de garantias. Pelo contrário: é a favor, pois contava que a mudança pudesse gerar mais demora no processo envolvendo seu filho e seus aliados no Rio de Janeiro. 

Por essas razões, é cada vez mais difícil ver alguém ser lava-jatista e bolsonarista ao mesmo tempo.