Política em Análise

Bolsonaro sacrifica Deltan

Presidente dá a senha para a tropa bolsonarista abandonar a defesa do procurador, que está fragilizado

Por Ricardo Corrêa
Publicado em 13 de agosto de 2019 | 07:43
 
 
 
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Às vésperas de uma reunião do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) que pode começar a decidir o futuro de Deltan Dallagnol, o presidente Jair Bolsonaro decidiu sacrificar o coordenador da Lava Jato. Nas redes sociais, compartilhou uma publicação que acusa o procurador de ser “esquerdista estilo PSOL”. Era uma resposta aos bolsonaristas que defendiam o paranaense como futuro procurador geral da República.

A mensagem de Bolsonaro não serve apenas para rechaçar a chance de escolhê-lo para o comando do Ministério Público. É também um recado para que a tropa de apoio ao governo nas redes sociais desembarque do apoio ao procurador. Isso tende a fragilizar ainda mais Deltan Dallagnol no momento em que ele enfrenta a maior pressão.

Ontem, novos diálogos de mensagens hackeadas de autoridades vieram a público. Neles, uma constrangedora conversa, ainda sem um contexto muito claro, na qual Deltan diz a Fabio Oliveira, líder de um movimento chamado Mude, que já sabia, antes da divulgação da chamada "lista do Fachin", que Ônyx Lorenzoni estava entre os delatados por irregularidades por executivos da Odebrecht. Ao ser questionado se sabia sobre o nome do agora ministro de Bolsonaro entre os delatados, Deltan Dallagnol responde que sabia, mas "tinha que fingir que não sabia" e ainda completou que "isso foi bom".

Ao escantear Deltan Dallagnol, Bolsonaro também amplia seu descolamento das vontades de seu ministro Sergio Moro, próximo do procurador. É mais um movimento que enfraquece o ministro da Justiça e da Segurança Pública, que já viu seu pacote anticrime ser colocado em banho-maria, perdeu o comando sobre o Coaf, que terá um novo indicado por Paulo Guedes, e tudo indica, está cada vez mais longe da vaga do Supremo, prometida a ele no passado. Tendo na Esplanada um possível concorrente em eleições presidenciais no futuro, Bolsonaro resolve jogar seu próprio jogo.

 

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