Defensores mais ardorosos do presidente Jair Bolsonaro, assim como ele próprio, desdenham da pesquisa Datafolha divulgada ontem que mostrou mais uma queda na popularidade. Usam sempre, como argumento, a versão de que, se dependesse das estimativas do instituto, Fernando Haddad, do PT, e não o capitão do PSL teria sido eleito presidente. A premissa é falsa. Em todos os levantamentos feitos pelo instituto no segundo turno daquela disputa, Bolsonaro apareceu com larga vantagem. O resultado no voto foi muito semelhante ao da última pesquisa Datafolha, divulgada na véspera das eleições:  Bolsonaro aparecia com 54%. Na urna, teve 55,13%. Haddad aparecia com 46% e teve 44,87%. Ou seja: o resultado ficou dentro da margem de erro de dois pontos para mais ou para menos.

É falso também dizer que o instituto foi ajustando os números aos poucos. Na primeira pesquisa do segundo turno, Bolsonaro aparecia com 58% e Haddad aparecia com 42%. Se houve equívoco, foi a favor de Bolsonaro. No primeiro turno, de fato, a divergência foi maior. Bolsonaro aparecia com 40% e ficou com 46%, enquanto Haddad aparecia com 25% e ficou com 29%. Mas mesmo nesse caso captou-se uma tendência e é razoável supor que a polarização forçou uma migração para as duas candidaturas na última hora, desidratando os demais.

Dito isso, pode até ser bom para a imagem do presidente desacreditar as pesquisas para mostrar força, mas, por baixo dos panos, se ele não considerá-las, tende a ver essa perda de capital se aprofundar. Por isso, no Palácio do Planalto, longe dos microfones, já tem gente pensando em maneiras de reverter a queda de popularidade medida ontem não apenas pelo Datafolha, mas também por uma pesquisa encomendada pela XP Investimentos, que de comunista não tem nada. Na deles, também divulgada ontem, foi pior para Bolsonaro: a rejeição ficou em 41% e a aprovação ficou em 30%. Melhor que brigar com os números é tentar entendê-los. Eles podem não ser exatos, mas refletem tendências. As respostas não estão apenas nas redes sociais.

Ricardo Corrêa para o Super N