Enquanto o Senado debate a reforma da Previdência e as duas Casas do Congresso começam a trabalhar na reforma tributária, o presidente Jair Bolsonaro avisou ao ministro Sergio Moro, da Justiça e da Segurança Pública, que ele precisa ter paciência com a demora para a análise do chamado pacote anticrime. O chefe do Executivo disse que lamentava mas, nas palavras dele, teria “que dar uma segurada”. E completou que não queria pressionar por isso e atrapalhar ou tumultuar lá no Congresso. Ainda que a pauta da segurança pública seja fundamental em um país tão violento, não estava de todo errado, considerando que seria razoável aceitar que o foco total estaria nas reformas econômicas, ainda mais urgentes.
Mas viu-se depois que não era bem assim. Ao contrário de Moro, forçado a esperar, o filho do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro, recebeu tratamento muito distinto. O presidente afirmou que é seu herdeiro quem decidirá quando sua indicação será enviada ao Senado, com reforma da Previdência e tudo. Para colocar o parlamentar na embaixada dos Estados Unidos, vale até dividir as atenções entre os senadores e gastar energia, emendas e cargos extras.
E pouco importa se a consultoria legislativa do Senado concluiu que há aí um caso de nepotismo. O presidente já disse que, se o Parlamento não aceitar o filho – a quem disse que daria o filé mignon – como embaixador, pode até colocá-lo de ministro das Relações Exteriores. Talvez seja um blefe, pois esse tipo de provocação ao Parlamento costuma gerar consequências. Hoje, Eduardo Bolsonaro não tem votos para ser aprovado. O parecer da consultoria legislativa só agrava sua situação. Emendas e cargos costumam mudar esse quadro, mas pode faltar poder de fogo lá na frente para as pautas que deveriam ser prioritárias. Sorte de Eduardo Bolsonaro, azar de Sergio Moro.