Após rejeitar, em julho, denúncia de prática de “rachadinha” contra o vereador Flávio dos Santos, a Câmara Municipal de Belo Horizonte teve a chance de reescrever essa história ontem e, mais uma vez, perdeu a oportunidade de discutir e investigar o assunto. Dessa vez, faltou um voto para a abertura do processo, ainda que apenas quatro parlamentares tenham defendido a rejeição da denúncia.
Foram 20 votos a favor do prosseguimento do caso. Com os quatro contrários mais a presidente da Câmara, Nely Aquino, que não vota, e o próprio Flávio dos Santos, que também não pode se posicionar, chegamos a 26 parlamentares, dos 41 da Casa. E os outros 15? Esconderam-se e são os principais responsáveis por empurrarem eventual sujeira para debaixo do tapete.
É preciso dizer que quem se esconde não representa ninguém. Não tenho dúvida de que cada um que votou nos 15 parlamentares que driblaram seu dever de se posicionar preferia que eles colocassem suas posições. Abster-se, como fizeram três deles, faltar, opção de outros seis, ou simplesmente não registrar voto algum mesmo estando lá o tempo todo, tal qual preferiram seis parlamentares, é atitude covarde e que não combina com quem quer participar da vida pública. Não há justificativa para tal. Se algum deles achou que não haveria nenhum indício da prática de “rachadinha”, deveria ter votado contra, como quatro parlamentares fizeram. Se achavam que haveria provas, que votassem sim. E se estivessem em dúvida sobre algum ponto, que votassem pelo sim também, afinal, é o processo, com o vereador, o denunciante e todas as testemunhas se manifestando e apresentando provas, é que definiria, lá na frente, eventual voto contra ou a favor da cassação. Discutia-se ontem apenas a abertura do procedimento. Alguns dirão que, com dúvidas, não poderiam abrir um processo que macularia a imagem do vereador. Bobagem. A denúncia já foi feita, e é exatamente a falta de um processo para apurá-la que faz com que muita gente fique sem a chance de saber se era mesmo verdade.
O fato é que se tem áudios do vereador e de pessoas do seu gabinete falando sobre o que parece ser uma prática de “rachadinha”. Sobre um em que ele próprio aparece, Flávio dos Santos nega apenas a interpretação dada ao diálogo, mas não sua fala. Sobre outro, reconhece que de fato é uma funcionária sua que fala, mas sugere que ela possa ter se confundido em razão da idade.
É bom lembrar que a Câmara tirou do cargo outro vereador em caso semelhante. Cláudio Duarte foi cassado por “rachadinha” mesmo com provas menos robustas. O que havia era gente admitindo a prática, como há também no caso de Flávio dos Santos. Agora, vê-se que seu destino foi diferente não por ter praticado algo que outro também não possa ter praticado, mas porque suas relações políticas eram ainda piores. Quem tirou Cláudio Duarte do cargo não o fez ele por ter se envolvido em um crime, mas por não saber se relacionar com outros vereadores. A dúvida é se o eleitor, no ano que vem, vai participar dessa ação entre amigos.