Naquela que pode ter sido sua principal chance de fazer-se efetivamente respeitado no cenário internacional, o presidente Jair Bolsonaro confundiu Estado com partido político e um debate diplomático com um palanque de campanha. Assim, na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) fez um discurso que em nada agrega à imagem do país.
Ganharia muito mais o Brasil se o presidente da República tivesse gastado os pouco mais de 31 minutos de seu discurso para falar das reformas que estão colocadas no cenário econômico, das perspectivas de controlar a dívida, abrir a economia e tornar mais fácil empreender no Brasil. Conseguiria, assim, diante da mais qualificada audiência mundial, vender o Brasil como uma Nação que busca ser mais moderna e, por consequência, um bom lugar para se investir.
Mas Bolsonaro preferiu falar como se o discurso fosse construído para uma convenção partidária do PSL ou um café da manhã com os membros de seu gabinete do ódio. Falou de socialismo como se ainda estivéssemos na década de 70. Deu a Cuba, hoje, a importância da extinta União Soviética. Pregou contra a ideologia de esquerda, fazendo ele próprio um discurso totalmente ideológico e nada prático.
Não anunciou absolutamente nada que pudesse acalmar os anseios mundiais a respeito da crise na Amazônia. Em vez disso, confundiu as bolas ao achar que o fato de a floresta tropical ser um patrimônio da humanidade significaria alguma restrição à soberania do país quanto ao território que abarca o bioma.
Falar em incêndios espontâneos na floresta e índios colocando fogo na mata, disparar contra o cacique Raoni, uma das lideranças indígenas mais respeitadas no mundo? Nada disso é um discurso de Nação. Nada disso é o que o mundo esperava ouvir do Brasil e de Bolsonaro. Não ter ido talvez fosse um recado melhor ao mundo.