Os vereadores de Belo Horizonte acabaram de voltar de férias. Depois de uma semana de trabalho, na segunda-feira, já não houve quórum para realizar sessão. Não que faltassem assuntos para discutir. Havia. E muitos. O necessário debate sobre como impedir que Belo Horizonte continue refém dos estragos causados pela chuva ano após ano, e, especialmente, a discussão sobre o IPT Verde, uma das muitas alternativas para levar à cidade a um patamar mais sustentável.

Mas os vereadores preferiram gastar a sessão de ontem com uma perda de tempo. A aprovação, em votação simbólica, de uma moção de repúdio à plataforma de streaming Netflix, que veiculou o especial de Natal do grupo humorístico Port ados Fundos, é pouco importante, atenta contra a liberdade de expressão e, mais que isso, é inútil. Qual o efeito prático? Zero.

Veja que aqui não há nem sequer um juízo de valor sobre o especial de Natal. Alguns podem achar inadequado, outros podem achar ruim, o que eu particularmente achei, mas qual a relevância do assunto para a cidade? O que isso mudará na vida do cidadão? E qual efeito terá mesmo no meio artístico? Os vereadores acham que alguém na Netflix ou na Porta dos Fundos vão mesmo estrar se preocupando com uma moção de repúdio vinda de uma Câmara de Vereadores? Desculpem-me mas isso também tem a ver com não saber seu real tamanho. È se achar mais importante do que é. Achar que a Câmara de BH pode ditar o que vale e o que não vale ser produzido em termos de cinema ou entretenimento no Brasil e no mundo.

Além do mais, o Estado deveria ser laico. Não deveria se meter nesse assunto. Quem apoia esse tipo de interferência o faz por ser hoje maioria no círculo do poder. Mas e quando for o contrário? E se um dia os ateus, no poder, quiserem proibir cultos e crenças no país? E se um dia um grupo religioso extremista quiser implantar um modo de pensar e crer que deva ser seguido por todos? Alguém vai dizer que a Constituição proíbe. Pois é. A Constituição proíbe também que se dite o que é ou não é cultura e o que pode e o que não pode ser produzido.