Política em Análise

Moro também se filia à pancadaria eleitoral

Em busca de engajamento nas redes e atenção no noticiário, pré-candidato do Podemos escolhe o mesmo caminho de seus rivais, com ataques mais duros

Por Ricardo Corrêa
Publicado em 20 de janeiro de 2022 | 11:55
 
 
 
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Quem acompanha diariamente o noticiário e os movimentos políticos vê claramente uma mudança de postura do ex-ministro e ex-juiz Sergio Moro, pré-candidato do Podemos ao Palácio do Planalto. Tal qual já vinham fazendo os principais nomes colocados na disputa eleitoral, Moro resolveu ir para o ataque, filiando-se à pancadaria eleitoral que precede uma das eleições mais tensas de nossa história. E vale tudo por engajamento, principalmente para quem precisa furar a bolha da polarização entre lulismo e bolsonarismo.

Até o final do ano passado, quando sua candidatura engatinhava, Moro mais apanhava do que batia. Aconselhado de que, assim, seria trucidado, não se limitou ao media training apenas para tentar melhorar a dicção, o tom da fala e o uso das mãos. Passou a ser duro, incisivo e, por vez, agressivo, tal qual seus concorrentes. Nesta quarta-feira (19), deu mostras disso ao chamar Lula de canalha e membro de quadrilha, em resposta às expressões igualmente dirigidas a ele pelo ex-presidente. Também já usou termos como suicídio (para uma vitória de Lula ou Bolsonaro), ladrão, santo de barro e por aí vai.

Até dezembro, o pré-candidato do Podemos pensava diferente. Chegou a dizer que só debateria com Ciro Gomes se o pedetista deixasse de lado a postura agressiva. A mudança tem razão absolutamente simples: a necessidade premente de engajamento nas redes sociais. Disposto a alcançar 15% das intenções de voto, patamar que o consolidaria como um nome de terceira via, Moro precisa ser lembrado, difundido, inserido na batalha a qualquer custo. A polêmica e as palavras mais fortes têm esse papel na cultura que se construiu nas redes e os efeitos negativos, após o que se viu nas eleições de 2018, parecem valer a pena.

Até poucos anos, sobretudo antes da vitória de Bolsonaro em 2018, a pancadaria mais selvagem havia sido mitigada nas grandes disputas. Permanecia presente nas eleições em municípios menores, mas candidatos com reais chances de vitória em eleições estaduais e federais escamoteavam as críticas aos concorrentes. Tanto era assim que propagandas eleitorais com ataques ao adversário traziam em letras miúdas o nome da coligação (nunca o do candidato) que era o responsável. Às vezes, nem isso possuíam, fazendo com que a Justiça Eleitoral tivesse que agir. O candidato também terceirizava o ataque para algum concorrente, ou usava até mesmo um outro candidato laranja durante a campanha para castigar o oponente nos debates. Havia um certo pudor em colocar a cara, entendo que o eleitor não aceita mais esse tipo de postura. Bolsonaro fez tudo ao contrário em 2018. Assumiu para si os ataques e até as notícias falsas contra os concorrentes. Ganhou. Mudou o jeito de fazer campanha.

Agora, com Moro também tirando as luvas e partindo para a briga de rua, como já faziam Lula, Ciro e Doria, a campanha definitivamente tende a se tornar mais selvagem. Se a temperatura já está assim em meados de janeiro, imagina como estaremos lá para julho ou agosto. O debate de ideias, já tão propalado pelos próprios candidatos e necessário para o duro momento que vive o país, vai ficar em segundo plano.

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