Durante anos o país manteve como norte a frase criada pelo escritor austríaco Stefan Zweig na década de 40 do século XX: Brasil, o país do futuro. Hoje, porém, é triste constatar que a maior nação da América Latina não parece ser o país do futuro. Ao contrário, é voltada para o passado. Que não investe em ciência, tecnologia e inovação e que, por causa disso, perde espaço no mundo de uma economia em constante transformação. O corte de R$ 600 milhões das verbas para pesquisa no país é só mais um reflexo da vocação para destruir qualquer perspectiva de que possamos caminhar para frente.

O corte, sancionado no final da semana passada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), tirou dinheiro que essencialmente seria usado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para fomentar pesquisas em todo o país, incluindo o Centro Nacional de Vacinas recentemente inaugurado pelo presidente em Belo Horizonte. Tudo virará pó se o governo não encontrar outra alternativa para financiar a ciência no país. Inclusive um edital para 30 mil bolsas de pesquisa já lançado e com algumas submissões já feitas, e que sozinho consumiria R$ 250 milhões da verba.

O descaso com o setor não é de hoje. Só piora ano após ano. Dados da Unesco divulgados neste ano indicam que, entre 2014 e 2018, enquanto o mundo investiu cada vez mais em ciência, o Brasil só fez os recursos da área minguarem. Há três anos, enquanto o mundo investia 1,79% do PIB em pesquisa, o Brasil investia 1,26%. Com isso, o número de pesquisadores no Brasil, na casa de 888 por milhão de habitantes, fica bem distante da média mundial, de 1.368 por milhão segundo a Unesco. Se a base for a Coreia do Sul, que experimentou forte crescimento econômico baseado em tecnologia, o abismo é ainda maior. Os coreanos possuem quase dez vezes mais pesquisadores por milhão de habitantes que o Brasil.

O investimento em ciência atingiu o auge no país em 2013, quando, em valores corrigidos, foram depositados R$ 27,3 bilhões na área. De lá para cá, porém, os valores estão em queda, conforme aponta estudo do Ipea realizado no ano passado. Os dados indicam que, em valores corrigidos, o orçamento de 2020 (R$ 17,2 bilhões) retornou aos patamares de 2009 (R$ 19 bilhões). No caso do CNPq, que financia 40% da produção científica brasileira, os valores retrocederam ao século passado. 

A consequência mais imediata disso é a perda de conhecimento. Dados do instituto suíço IMD sobre um ranking de competitividade na manutenção de talentos colocou o país em 59º em um ranking de 63 países. Atrás de nós só estão Venezuela, Eslováquia, Índia e Mongólia. No longo prazo, isso se reflete em menos inovação, menos criação de valor, ampliação da dependência da venda de commodities, menor produtividade em relação aos negócios criados em outros países, e mais uma longa lista de impactos profundamente negativos no crescimento e desenvolvimento brasileiro. Estamos ficando para trás. E cada vez com menos perspectivas.