Nas últimas horas, deu-se de forma mais plena a reação à barbárie que é o ataque às instituições democráticas no Brasil. Um movimento que persiste, ultrapassando as barreiras do tolerável, justamente pelo fato de que, até então, ações criminosas vinham sendo praticadas sem que qualquer de seus incentivadores fosse responsabilizado. A coisa começou a mudar e é melhor que esse processo cumprimento da lei continue de forma plena.
Nesse contexto, viu-se no fim de semana a atuação dos órgãos de fiscalização no Distrito Federal na desarticulação do acampamento dos chamados “300 do Brasil”, que na verdade só reuniam mesmo pouco mais de 20 pessoas. Essa turma tem todo o direito de protestar, mas evidentemente eles passaram de todos os limites ao convocar nas redes sociais pessoas para treinamento armado, pregar o rompimento da ordem democrática e ameaçar a figura dos ministros do STF, como fez a líder da milícia, Sara Winter, já investigada por conta dessa postura criminosa e presa ontem pela Polícia Federal.
Parte desse mesmo grupo, após ser expulso do acampamento, foi para a frente da Corte máxima do Judiciário brasileiro lançar rojões contra o prédio. Uma atitude simbolicamente absurda e potencialmente perigosa para seguranças e pessoas que estavam no tribunal. Diante disso, um cidadão foi detido e liberado. É o mesmo que atacou profissionais de saúde recentemente em um ato na Praça dos Três Poderes. O mesmo que foi demitido do governo após passar meses sem ir trabalhar mesmo recebendo seus salários. Se um cidadão desses não é um perigo para a sociedade, não sei quem seria. O subcomandante da PM do Distrito Federal que permitiu o ato de jogar fogos no STF foi afastado do cargo.
Além da prisão, foi aberto pelo Ministério Público Federal (MPF) um inquérito para investigar o ataque ao Supremo. Esse, ao contrário do outro inquérito, criado na Corte, dentro dos parâmetros legais. O STF requisita e o MPF investiga. É assim que tem que ser. Uma investigação baseada em um regimento interno, como no caso do inquérito das fake news, traz mais incerteza e preocupações do que efetivamente justiça.
Também chamou atenção a resposta dura do presidente do STF, Dias Toffoli, aos novos ataques à Corte. Ele, até então comedido, chegou ao mesmo patamar de insatisfação de outros integrantes do Supremo e enfatizou que “setores do Estado” participam do incentivo à violência. Há uma aparente unidade no plenário em torno da necessidade de punir quem confunde liberdade de expressão com a prática de crimes.
A propósito, tal união pode complicar ainda mais a situação do presidente Jair Bolsonaro e de seu vice, Hamilton Mourão. É que três integrantes do STF integram o corpo do TSE que julga infrações eleitorais. Hoje, parecem propensos a levar a sério a ação que pede a cassação da chapa presidencial por prática de fake news bancadas por caixa 2, ou seja, abuso de poder econômico, nas eleições de 2018. Eles, aliás, entenderam que a nota divulgada pelo presidente, pelo vice e pelo ministro da Defesa indicando que as Forças Armadas não aceitariam um julgamento político foi já pelo temor do resultado no TSE. E prometem não aliviar por conta disso, o que tende a reservar fortes abalos políticos no Brasil dos próximos meses.