Eleições

Transporte e preço da passagem já estão na mira das campanhas para a PBH

Parte dos pré-candidatos à Prefeitura de Belo Horizonte criticou aumento e busca, com táticas diferentes, ter protagonismo

Por Clarisse Souza
Publicado em 06 de janeiro de 2024 | 06:00
 
 
 
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O impasse em torno do reajuste de 16,6% no valor das passagens de ônibus em Belo Horizonte provoca embate na Justiça e reação do Legislativo desde o fim do mês passado e tem como pano de fundo a movimentação de políticos que já miram as eleições municipais de 2024, antes mesmo do início da campanha oficial. 

De olho no transporte coletivo – classificado por 66% dos eleitores como o principal problema de BH –, um em cada três dos atuais possíveis candidatos à Prefeitura de BH já fez ataques ao reajuste implementado pela gestão do prefeito Fuad Noman (PSD) – que também pode tentar a reeleição. Para o levantamento, a reportagem consultou as redes sociais de 12 políticos cotados como possíveis candidatos ao pleito. Desse total, quatro se manifestaram contra o aumento. 

O deputado federal e pré-candidato Rogério Correia (PT) foi um dos primeiros a agir nesse cenário. Logo que a prefeitura anunciou a alta das passagens, em 27 de dezembro, o parlamentar ajuizou uma ação popular para cancelar o reajuste. A Justiça chegou a determinar a suspensão da nova tarifa, mas o Executivo recorreu e conseguiu derrubar a liminar na mesma noite. No entanto, como o processo ainda corre na Justiça, a queda de braço entre o petista e a administração municipal ainda pode ter novos desdobramentos. 

O presidente da Câmara Municipal de BH, Gabriel Azevedo – que se coloca como pré-candidato à prefeitura, embora ainda não tenha partido –, também tem intensificado as críticas ao preço da tarifa. O transporte coletivo é bandeira antiga do vereador, mas, desde dezembro, o parlamentar elevou ainda mais o tom contra a qualidade do serviço e o novo valor do bilhete, que saltou de R$ 4,50 para R$ 5,25. Além disso, Gabriel protocolou, na Câmara Municipal, um projeto de resolução para sustar o aumento da passagem. Porém, devido ao recesso parlamentar, a proposição só pode ir a votação em fevereiro.

Pelo menos outras duas pré-candidatas à prefeitura também marcaram posição contra o aumento da passagem. A deputada federal Duda Salabert (PDT) usou o X (antigo Twitter) para declarar que “a prefeitura quer ser vista como assessora das empresas de ônibus, recorrendo de decisões e enchendo o bolso da máfia do transporte”. 

Enquanto isso, a deputada estadual Bella Gonçalves (PSOL) fez uma série de postagens sobre a alta, incluindo uma na qual convoca usuários para um protesto, na próxima terça-feira, contra o aumento nas passagens dos ônibus municipais e metropolitanos – que também tiveram preços reajustados em 7,15% pelo governo do Estado.

Avaliar ação prévia é fundamental

Em ano de pleito municipal, quando serão escolhidos prefeitos e vereadores, o eleitor terá de exercer senso crítico para identificar o que é genuíno e o que é oportunismo em meio às manifestações de pré-candidatos em torno do tema de transporte coletivo. 

Segundo a cientista política Marta Mendes, coordenadora do Núcleo de Estudos sobre Política Local da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), a avaliação deve se basear na análise da atuação prévia dos postulantes às prefeituras.

“Tem que procurar saber mais sobre os candidatos, verificar seu grau de compromisso com a questão da mobilidade urbana, do transporte. Se há atuação prévia em favor dos usuários, na defesa do transporte de qualidade, ou se trata-se apenas de um alinhamento de ocasião por causa da eleição”, explica Marta. 

A insatisfação do eleitorado com a qualidade dos serviços de mobilidade urbana nas grandes cidades torna “natural que pré-candidatos foquem na política de transporte, seja criticando a baixa qualidade do serviço prestado, eventuais regularidades nos contratos ou o preço alto das passagens”, avalia Marta.

Em Belo Horizonte, por exemplo, uma pesquisa do Instituto DATATEMPO, divulgada em setembro de 2023, revelou que o transporte público é o serviço municipal que mais gera insatisfação entre os eleitores, com 66% de reprovação. 

“Esse é sempre um ponto fraco das administrações municipais. Há uma parcela significativa da população que passa um bom tempo dentro do ônibus diariamente. Paga caro por um serviço de baixa qualidade. É algo muito penoso para o trabalhador e a trabalhadora”, analisa a cientista política. 

 

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