A morte de Sofia, filha recém-nascida da cantora Lexa e do ator Ricardo Vianna, comoveu as redes sociais nesta segunda-feira (10). A bebê nasceu prematura, viveu apenas 3 dias e faleceu no dia 05 de fevereiro. O desabafo da artista em seu Instagram, que revelou estar buscando um “rumo na vida” após a perda, representa a dor silenciada de milhares de mães que compartilham do mesmo sentimento, mas nem sempre encontram apoio da sociedade.
A psicóloga Daniela Bittar, uma das organizadoras do Grupo Colcha - grupo de acolhimento às mães e famílias que sofreram perda gestacional e neonatal- afirma que o laço criado entre mãe e filho na gestação não é rompido porque o bebê não nasceu ou viveu poucos dias. Independente se a morte foi durante a gestação ou poucos dias após o parto, a dor sempre será a de quem perdeu um filho.
“Quando uma mãe fica grávida de um filho, ela se mistura visceralmente, fisiologicamente, neurobiologicamente, psiquicamente, emocionalmente com essa criança… O fato dessa criança não ter nascido com vida, não faz com que essa mulher se separe do seu filho. Então ela carrega a percepção dele, o nome dele, a honra da existência dele por toda a vida. E como filho nasce na mãe antes de nascer para o mundo, essa dor é muito única e individual”, explica a especialista.
Daniela também afirma que outro desafio enfrentado por essas mães é o de provar para a sociedade que o filho existiu:
“Além de toda dor que a mãe sente, ela ainda passa pela necessidade de segurar a imagem do filho, de provar a existência dele e de fazer com que ele seja amado, muitas vezes só por ela. É a vontade de deixar claro que um filho que morre intraútero é um filho amado, desejado, querido, apesar de não ter histórias fora da barriga”.
O acolhimento
Os familiares e amigos desempenham um papel essencial na recuperação dessa mulher. A psicóloga diz que o luto ocorre em três fases, e em todas elas a mãe precisa de acolhimento e apoio.
- Fase 01- Desespero, falta de chão, sensação que a vida também acabou.
- Fase 02- Negação. As mulheres começam a se questionar “por que aconteceu comigo?”.
- Fase 03- Culpa e barganha. A mãe começa a procurar motivos que podem ter ocasionado a situação de morte do filho. Uma culpa que parte do julgamento da sociedade, que tende a culpar a mãe por tudo o que acontece com o filho.
“A gente precisa lembrar que os familiares são muito importantes nesse momento, para trazer essa mulher para um lugar mais adequado, de maior acolhimento. Então pode sim falar do filho, a mulher quer falar sobre o filho dela, tem que chamar essa criança pelo nome, tem que lembrar de todas as datas importantes, tem que trazer e contabilizar na árvore genealógica. Os familiares precisam estar atentos, cuidar da mulher, ser ouvintes, e deixar ela ter o tempo dela. Não exigir que ela saia do lugar que ela está com tanta rapidez”, finaliza a psicóloga Daniela Bittar.