Com a queda das temperaturas, é comum recorrer a banhos mais quentes, aumentar o tempo em ambientes fechados e esquecer de tomar água com a mesma frequência do verão. Mas esses hábitos, somados ao clima seco, criam o cenário perfeito para um dos problemas mais recorrentes da estação: a pele ressecada.

O incômodo vai além da aparência esbranquiçada ou da sensação de repuxamento e, se não tratada, a pele seca pode evoluir para dermatite e até fissuras dolorosas.

Por que a pele resseca mais no frio?

Durante o inverno, o ar fica naturalmente mais seco e a umidade relativa do ar tende a cair. Isso faz com que a pele perca água com mais facilidade, prejudicando a barreira de proteção natural.

“A combinação desses fatores com banhos quentes e demorados, uso excessivo de sabonetes e pouca hidratação, tanto na superfície corporal quanto por ingestão de líquidos, acelera o processo de desidratação da pele. Os sinais aparecem no espelho, na coceira persistente e até na descamação visível”, explica a dermatologista Juliana Kida.

Doenças comuns de pele no frio

Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), algumas doenças podem surgir ou se agravar devido ao ressecamento excessivo da pele durante o inverno. Entre elas:

  • Dermatite seborreica: ocorre principalmente em áreas com maior presença de pelos, como o couro cabeludo, sobrancelhas e laterais do nariz. É caracterizada por oleosidade, descamação e coceira.
  • Dermatite atópica: afeta principalmente quem tem predisposição genética a doenças alérgicas, como rinite e asma. Pode provocar coceira intensa antes mesmo do aparecimento de lesões, além de vermelhidão, ressecamento e espessamento da pele.
  • Psoríase: é uma condição inflamatória, crônica e autoimune, que pode ter seu quadro agravado por fatores emocionais e climáticos. As lesões são avermelhadas, com escamas secas e prateadas, e geralmente afetam cotovelos, joelhos e couro cabeludo.
  • Ictiose vulgar: surge após o nascimento, geralmente no primeiro ano de vida. Essa condição provoca ressecamento extremo e descamação com aparência geométrica. Em alguns casos, os sintomas podem persistir até a vida adulta, principalmente nos períodos frios e secos.

Juliana Kida explica que essas condições tendem a piorar com o frio justamente porque a pele perde sua função protetora. 

“Quando a pele está seca, ela funciona como uma barreira quebrada. Ou seja, deixa de proteger o organismo contra agressões do meio ambiente. E, com isso, aumentam significativamente as chances de alérgenos penetrarem e provocar irritações ou alergias”, alerta.

Sinais de que a pele está ressecada

O ressecamento nem sempre se manifesta de forma visível logo no início. Por isso, é importante prestar atenção a sinais que indicam que a barreira de proteção da pele está comprometida. Os sinais incluem:

  • Sensação de repuxamento, especialmente após o banho;
  • Coceira sem causa aparente;
  • Aspereza ao toque;
  • Descamação leve ou intensa;
  • Vermelhidão em regiões de dobra, como atrás dos joelhos e cotovelos;
  • Lábios rachados e sensíveis com frequência.

Cuidados essenciais para evitar o ressecamento

Manter a pele saudável durante o inverno exige alguns cuidados diários, e a boa notícia é que eles são simples e acessíveis. Confira as principais recomendações da dermatologista:

  • Hidratar a pele, preferencialmente após o banho;
  • Ingerir líquidos regularmente, como água, chás e sucos naturais;
  • Reduzir a temperatura e o tempo dos banhos;
  • Evitar o uso de sabonetes em excesso, restringindo a aplicação às áreas mais necessárias, como axilas, região íntima e pés;
  • Não utilizar buchas ou esfoliações frequentes.

Na hora de escolher o hidratante ideal, a especialista orienta evitar produtos com fragrâncias ou corantes. “Procure hidratantes sem perfume e sem corante. Hoje existem várias opções acessíveis que ajudam a cuidar da pele sem agredi-la”, orienta Juliana Kida.

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Cuidados especiais para grupos vulneráveis

Alguns grupos merecem atenção especial no inverno. Crianças pequenas e idosos, por exemplo, têm uma barreira cutânea mais sensível e maior tendência à perda de água pela pele.

“A pele dos idosos, com o passar dos anos, perde gradualmente sua função de proteção. Isso torna a hidratação ainda mais essencial, já que a pele envelhecida tende a ser mais seca e mais vulnerável às lesões”, afirma a médica, que também integra a diretoria da SBD.

Quando procurar ajuda profissional

Nem sempre os cuidados caseiros são suficientes. Em alguns casos, é necessário buscar orientação médica.

“A pessoa que apresenta ressecamento persistente, mesmo adotando uma rotina de hidratação e proteção, deve procurar um dermatologista. Isso também vale para quem tem coceira intensa, feridas, lesões ou já convive com doenças de pele que pioram no frio”, explica Juliana Kida.

A pele é o maior órgão do corpo humano e também o primeiro a sinalizar quando algo não vai bem. No frio, pequenos incômodos podem evoluir para quadros que comprometem a qualidade de vida. Por isso, manter uma rotina de cuidados com a pele no inverno não é vaidade, é saúde.

Prestar atenção aos sinais e buscar ajuda especializada quando necessário são atitudes simples, mas que fazem toda a diferença. E, na dúvida, vale lembrar que prevenir é sempre mais simples - e mais barato - do que tratar.

* Estagiário sob supervisão do portal O TEMPO