Mais de 7 mil pessoas morreram no Brasil vítimas do câncer de cabeça e pescoço, segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA). Os dados são de 2023 e revelam que, dos óbitos, 5.486 foram entre homens e 1.686 entre mulheres. Para combater esses números alarmantes, a campanha Julho Verde busca conscientizar a população sobre os sinais, sintomas e fatores de risco da doença, além de reforçar a importância do diagnóstico precoce e do início rápido do tratamento.
Conforme o Ministério da Saúde, as partes do corpo que podem ser acometidas pelos tumores são: boca, faringe, laringe, tireoide, glândulas salivares, cavidade nasal, seios paranasais, paratireoide e pele. O diagnóstico precoce e o rápido início do tratamento são fundamentais para que o paciente possa se recuperar da doença.
Cirurgião bucomaxilofacial e médico da Rede Mater Dei, Sérgio Monteiro Lima Júnior explica que um tumor maligno pode surgir de qualquer célula. “Isso inclui as células epiteliais, que recobrem pele e mucosas, e as células do tecido conjuntivo. Por isso, existe uma variedade de tumores na região de cabeça e pescoço”, aponta.
Principais causas
A doença normalmente atinge pessoas com mais de 50 anos. “No entanto, nos últimos anos, temos observado uma diminuição da idade dos pacientes com câncer de cabeça e pescoço, muito devido à infecção pelo papilomavírus humano (HPV). Então, esse diagnóstico tem sido feito em idades mais precoces”, ressalta o cirurgião especialista em cabeça e pescoço da Rede Mater Dei, Guilherme Silva.
O médico conta que o câncer de boca e o de orofaringe são os mais comuns, somando mais de 15 mil novos casos anuais no Brasil, conforme estimativas do INCA. De acordo com o cirurgião, as principais causas do câncer de cabeça e pescoço são o tabagismo e o uso excessivo de bebidas alcoólicas.
“Há uma região específica da garganta onde o vírus do HPV, o mesmo que causa o câncer de colo do útero, pode provocar um câncer de cabeça e pescoço”, relata. No entanto, Guilherme Silva destaca que existem casos de pessoas que nunca fizeram uso dessas substâncias, mas ainda assim desenvolveram a doença.
Segundo o especialista, um indivíduo que faz uso excessivo de cigarro ou álcool pode aumentar em cerca de 10 vezes o risco de desenvolver tumores malignos na região de cabeça e pescoço. Quando esses dois fatores estão combinados, o risco pode ser até 40 vezes maior.
Por isso, as maneiras mais eficazes de prevenção contra os diferentes tipos de câncer na região de cabeça e pescoço incluem evitar o consumo excessivo de álcool, especialmente bebidas destiladas, e não fumar. Guilherme Silva também ressalta que não existe uma quantidade mínima segura para o uso do cigarro.
Além desses fatores, a vacinação contra o HPV é outra forma importante de prevenção. “Já temos observado uma redução nos casos de câncer de colo do útero, e esperamos, no futuro, ver esse impacto também nos cânceres de cabeça e pescoço”, comenta.
Sintomas e sinais
Para um diagnóstico precoce, é fundamental estar atento aos sinais do corpo. Guilherme Silva reforça que os sintomas tornam-se preocupantes quando persistem por mais de 15 dias, sendo necessário procurar atendimento médico.
Veja os sintomas:
- Alteração na voz;
- Dificuldade e dor para engolir;
- Feridas na boca e na garganta;
- Nódulos no pescoço;
- Manchas na boca.
Diagnóstico e tratamento
O processo de diagnóstico inicia-se em consultas médicas ou exames físicos, quando são identificadas lesões, feridas ou nódulos nas regiões que podem ser afetadas pelo câncer. Guilherme Silva relata que, após a avaliação clínica, é realizada uma biópsia para confirmação do diagnóstico.
O tratamento, no entanto, depende do estágio em que a doença é descoberta. O médico esclarece que lesões iniciais podem ser tratadas com cirurgia ou radioterapia. “Existem casos com chance de cura acima de 90% quando identificados precocemente”, ressalta.
Em casos de lesões maiores, pode ser necessário recorrer à combinação de diferentes tratamentos, como cirurgia, radioterapia, quimioterapia, imunoterapia e outras medicações.
Doença no Brasil
Conforme o INCA, o câncer é uma doença que não possui notificação obrigatória. Por isso, o instituto trabalha com dados estimados, divulgados a cada três anos. As estimativas mais recentes correspondem ao triênio de 2023 a 2025.
No caso do câncer de cabeça e pescoço, a estimativa considera os casos de cavidade oral e orofaringe, que incluem as regiões de lábio, cavidade oral, glândulas salivares e orofaringe.
Para esse período, são estimados cerca de 15.100 novos casos de câncer da cavidade oral e orofaringe por ano no Brasil, o que corresponde a 6,59 casos a cada 100 mil habitantes. Entre os homens, a estimativa é de 10.900 casos (10,3 por 100 mil), e entre as mulheres, 4.200 casos (3,83 por 100 mil).
O câncer de cabeça e pescoço é o 4º tipo mais frequente entre os homens na região Sudeste, o 5º nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, e o 6º na região Sul.
Entre as mulheres, ocupa a 13ª posição nas regiões Norte, Nordeste e Sudeste, a 15ª no Centro-Oeste e a 16ª na região Sul.
* Estagiária sob supervisão de Renata Evangelista